A habilidade emocional da Autoconfiança

A habilidade emocional da Autoconfiança

Estamos vivendo um momento para lidarmos com o presente, com o que importa. Temos que prestar atenção ao que estamos centrados e fazendo neste momento – na hora que se faz. É muito importante que possamos regular nossa régua de exigências em relação ao outro e principalmente, a nós próprios! 

No decorrer de nossa vida, com toda certeza, tivemos oportunidade de conhecer alguém que conseguiu importantes conquistas em determinado momento de sua vida, ou se arriscou a realizar alguma mudança; arriscou-se a mudar um caminho conhecido ou confortável e, por esse motivo, paramos para olhar essas conquistas e nos colocamos a lamentar ou nos queixar por não conseguir reconhecer em nós habilidades, força ou qualquer potencialidade que atribuímos ao outro.

E em alguns casos nos sentimos frustrados ou até invejamos essas pessoas; e isso vai colocando o outro em um lugar privilegiado, que aparentemente, nos coloca como preteridos. 

Seria possível outra reflexão. Por exemplo, uma que possa transitar por pensar que esta motivação do outro, possa ser uma qualidade emocional que pode ser adquirida por mim ou por você? E que esta qualidade pode ser a autoconfiança? E que tornar-se autoconfiante exige um tanto de autoconhecimento e um gerenciamento das emoções? 

Lidando com seus medos

Já me deparei com pacientes ou mesmo pessoas de meu convívio social, que diante de algum desafio não se sentiram em condições de enfrentá-lo, por medo talvez, ou uma autocrítica muito intensa, que se viu com receio de errar e, prontamente, recuou.

Esse recuo, por um lado, dá a pessoa a ‘falsa’ segurança de estar se protegendo de algum perigo ou risco; mas por outro, e esse não menos doloroso, faz com que a pessoa se distancie da possibilidade ou oportunidade de vivenciar mudanças importantes no próprio psiquismo, mudança esta que poderia dar um sentimento de segurança e confiança.

E o que fazer, ou como fazer? 

Inicialmente, é importante que se faça uma avaliação quando algo começa a incomodar. É necessário realizar esse exercício para evitar que aquela sensação ou impressão desagradável se transforme em uma atitude ainda pior. Colocando no campo condicional, é muito possível que as respostas sejam muito mais assertivas e de bom senso. 

Muitas vezes os pensamentos e as ideias estão na maior parte do tempo sendo vivenciadas pelas chamadas reminiscências (experiências oriundas do passado), ou que se esteja, com uma projeção de preocupação, exagerada com o futuro. É natural não conseguir identificar aquilo que está nos fazendo mal, e se não podemos vigiar com cuidado aquilo que estamos absorvendo e nos apropriando, corremos o risco de tomar para nós sentimentos, energias e emoções das pessoas que estão a nosso redor quase que o tempo todo.  

Temos um caminho a percorrer quando nos damos conta de que precisamos parar e pensar, a fim de superar barreiras, como por exemplo, a do medo. O importante é começar pelo básico, cuidar de si focando nas mudanças, aprendendo a reorganizar o que não faz mais sentido em nosso “lar interior” de nossa vida, e procurar acolher o medo que se apresentar.

Procurar aceitar com certa humildade que todos nós temos limitações e que estas fazem parte de seu (nosso) processo de desenvolvimento. É necessário ter clareza que “errar e ter medo” são mecanismos de defesa, e que se os acolhermos e pudermos saber “em nome do quê” eles estão sendo utilizados, poderemos tomar decisões melhores e de qualidade para nós e nossos entes queridos.  

Processo de autoconhecimento

Para você que está realizando a leitura desse texto, acredito que deseje algum tipo de rearranjo na forma como vê ou reage frente à vida. Suponho que o motivo da leitura é a busca por mudanças. E aqui fica uma pergunta:

Por que é tão difícil mudar?

Aparentemente somos “senhores de nossas vidas”, alguns já se sentem com uma bagagem significativa em sua trajetória. Então, qual será o motivo de não conseguir mudar aquilo de que gostaria que fosse mudado? você já parou para se perguntar?

Que tal se pudéssemos “reapresentar” as 5 emoções, que provavelmente já são velhas conhecidas sua e que muitas vezes lhe impede de sair do lugar? São elas:   

A tristeza

Geralmente quando alguém se sente triste é por algo que lhe aconteceu no passado, por uma perda ou por não querer perder algo. Quando sentimos tristeza, costumamos percebe-la como uma emoção negativa, um sentimento que precisa ir embora rapidamente. No entanto, penso um pouco diferente; ela (a tristeza) necessita de acolhimento e cuidados, como qualquer outra emoção que sentimos. Quando não paramos para analisá-la, qual a real razão de nossa tristeza, ela pode nos levar à depressão, à melancolia, a estar vivo sem viver. 

Olhar para a tristeza, não no sentido de nos fixarmos nela, mas sim de dar um lugar emocional para que se possa escutar o que ela está tentando dizer. Muitas vezes a tristeza pode vir como resultado de alguma frustração. Outras vezes ela se agrava, pois enquanto pessoas, temos a tendência de amplificar e generalizar situações, por exemplo: você esta com dificuldades no relacionamento amoroso e logo comunica: “nossa, minha vida está uma bagunça, tudo esta ruim e fora do lugar.

O quê esta acontecendo é que afetivamente sua vida amorosa não esta como você gostaria, e é bem possível que chegou o momento de se voltar para ela com uma atenção maior e verificar o que pode ser alterado, modificado e adaptado. Quando generalizamos a situação, passamos a perturbar aquilo que está equilibrado em nós, tudo porque não olhamos cuidadosamente para o que realmente estava causando tristeza: o relacionamento.

O medo

O medo, assim como a tristeza, não é tão ruim quanto se imagina; ele pode nos ajudar em diferentes situações e circunstâncias. A questão não é não sentir medo, a ideia é o que fazemos quando o sentimos. Olhar para ele dói, porque significará sair da zona de conforto que muitas vezes nos encontramos, e isso exige que nos coloquemos frente ao desconhecido. 

É muito importante que possamos “conversar” com nossos medos, para poder saber o que ele espera de cada um. Do que está tentando te proteger? Que medo é este que lhe impede de ser quem você gostaria de ser? 

A sua vontade de dar certo, deve ser maior que o seu medo! 

A insegurança

Outro sentimento bastante presente é a insegurança, aquele sentimento que não importa o quanto se faça, sempre aparenta que nunca se conseguirá atingir o objetivo que se quer. Esta possui três estruturas muito importante:

  1. A necessidade de pertencimento – teme-se a rejeição e o julgamento e por isso não se faz aquilo que se deseja;
  2. O medo de ser autêntico – medo de se mostrar por completo por receio de não ser aceito(a);
  3. Pouca ou nenhuma resiliência – errar/falhar e não conseguir levar a vida adiante. 

Quando você toma decisões de acordo com o que pensa, consegue o direito de falar e ser escutado! Independente do que venha a seguir. 

A culpa

E ai, entra outro sentimento que acompanha alguns ou todos nós, durante a vida – a culpa. Esta se instala quando sentimentos que nossas ações machucaram alguém ou a nós mesmos. 

Existe dois tipos de culpa

  1. A culpa analítica. Que podemos refletir sobre nossas ações para tomar posturas diferentes e repensarmos nossas condutas;
  2. A culpa patológica. Que vai nos limitando, paralisando, criando ruminações de pensamentos. Ela nos bloqueia e impede que saiamos do lugar de vítimas ou algozes, e assim está acionada a nossa autopunição. 

É importante nesses momentos, saber de onde ela está vindo – de dentro ou de fora; se vem de dentro, ela está indo na contramão de ações que você acredita que sejam corretas, mas ainda assim, as tomou. Se vier de fora, possivelmente tem relação com manipulações – do outro, da comunidade em que vivemos, de nossa religiosidade, de familiares, amigos, etc. É uma tentativa de seguir um padrão criado por alguém que você insiste em seguir ou obedecer. É o chamado controle! 

Em ambos os casos é importante ter uma comunicação benevolente consigo. Coloque-se no lugar de seu erro no momento em que ele aconteceu, pense como você estava mental e emocionalmente para poder refletir sobre o que aconteceu para agir de tal maneira e, quem sabe, tomar ações mais assertivas de uma próxima vez. 

A ansiedade

A quinta emoção é a ansiedade. A tão atual e comentada ansiedade que assola grande parte da humanidade hoje em dia. 

Penso que estamos vivendo uma época que culturalmente ser bem sucedido tem relação imediata com um padrão de beleza, juventude, riqueza, bens materiais, poder. Calcula-se que para ter sucesso, deve-se ter tudo isso, e assim, vive-se em busca de uma versão sempre melhor de si e que não se pode falhar e nem fracassar. 

Para viver com isso tudo, muitas pessoas vão criando expressões ou falas onde elas próprias acreditam: “não sou ansiosa, sou perfeccionista”, e este é o disfarce mais comum da ansiedade e do medo na maioria das vezes. 

Uma vida bem sucedida deveria ser medida, em minha singela opinião, de outra forma: sucesso é poder fazer a diferença para sua existência e para a existência de outros. Pois viver é equilibrar-se em incertezas, com erros e tentativas de acertos; com decepções e retratações. Viver é viver o momento com propostas futuras dentro do que é possível para si e não para o outro! 

Uma atitude poderosíssima para o autoconhecimento é observar-se, refletir sobre suas ações, seus pensamentos, comportamentos, sentimentos, emoções e reações. Como seu cérebro fica quando se sente motivado, e procurar colocar em prática esse padrão de comportamento e sentimento, para atividades que você não se sente tão entusiasmado por ela. Nosso cérebro é plástico, e pode ser treinado: somos capazes de mudar direções e rotas e nossas vidas. 

Devemos ampliar nossa flexibilidade e descobrir a importância de poder tornar-se reversível, benevolente e amoroso de si mesmo e, quem sabe, menos autocrítico. Temos que ser habilidosos e cuidadosos conosco mesmo, conhecer nossas limitações e dificuldades para pensar como a nova realidade pode e está nos afetando, fazer as pazes com o que nos limita, ampliar nossas possibilidades de ação, permitir-nos evoluir e ter oportunidades verdadeiramente significantes.

É necessário exercitar nossa autoconfiança sendo perseverantes. 

Que tal se permitir realizar esse processo do autoconhecimento para exercitar sua autoconfiança? 

 

Catia Cristine da Silva

Psicóloga/Psicanalista Clínica   

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