Procrastinação na quarentena: como não cair nessa!

Procrastinação na quarentena: como não cair nessa!

Faz tempo que você tenta colocar as coisas em dia mas não consegue? Já pensou que você pode estar procrastinando? Você não está sozinho(a)! Essa situação é mais comum do que parece.

O que é procrastinação?

A procrastinação é um atraso voluntário da realização de certas atividades que gera angústia e sofrimento de modo geral. Esse comportamento pode ser consciente, que te faz realizar o adiamento por priorizar outra coisa ou simplesmente admitindo para si que não quer fazer naquele momento, ou pode ser inconsciente, que neste caso o adiamento pode se dar por meio do esquecimento ou por ocupações não prioritárias que passam a ganhar uma importância momentânea.

De um modo ou de outro, o fato é que se trata de algo complexo, pois envolve fatores comportamentais, emocionais e cognitivos. 

A evitação momentânea da realização de uma tarefa pode gerar um alívio temporário e por isso a procrastinação acaba sendo tão comum em nosso dia-a-dia. O acúmulo de atividades acarreta para nós prejuízos e o agravamento do mal-estar, além de implicar em uma afetação em nossa qualidade de vida.

A procrastinação é um comportamento muito comum entre estudantes (secundaristas e universitários) que adiam a realização de suas leituras e tarefas. Contudo não só estudantes são afetados, todas as pessoas estão sujeitas a procrastinar, por exemplo: na realização de afazeres domésticos, na marcação de uma consulta necessária, na busca por um cuidado profissional específico como acompanhamento psicológico, na tomada de uma decisão importante ou até no adiamento de uma conversa sobre um assunto que se considera difícil, delicado ou desagradável.

Tendemos a acreditar, com esse adiamento, que no futuro próximo teremos mais disposição e ânimo para realizar a atividade evitada no momento presente.

O ato de procrastinar acaba por criar ciclos cada vez mais constantes na vida do(a) procrastinador(a), e isso tem uma forte relação com a ansiedade, que é normal até certo ponto, mas quando torna-se excessiva passa a ser adoecedora.

A ansiedade por si só já vem com manifestações de sinais e sintomas desconfortáveis e desagradáveis. Ao lado da ansiedade anda a preocupação excessiva, e alguns procrastinadores podem ver a preocupação como algo positivo, com a falsa sensação de que preocupar-se auxilia no enfrentamento de problemas a serem resolvidos, porém o que ocorre é o inverso.

Como funciona a relação entre ansiedade e procrastinação?

Mas, não é tão simples assim, é preciso considerar que pode haver diversos fatores envolvidos como:

  • Traços de personalidade,
  • Perfeccionismo,
  • Medo de lidar com o fracasso,
  • Dificuldades em lidar com as próprias emoções,
  • Baixo nível de atenção,
  • Fatores situacionais,
  • Fatores ambientais como pais rígidos e críticos,
  • Falta de organização ou até uma forma equivocada de interpretar os fatos.

Os estudiosos sobre o tema discutem que há tipos de procrastinadores, e podem ser resumidos do seguinte modo:

  • Os que não sabem como iniciar as tarefas;
  • Os que não querem realizar as tarefas mesmo sendo necessário;
  • Os que têm uma forte preocupação em fazer as coisas com perfeição.

Procrastinação e o medo do fracasso

O ato de procrastinar pode estar ligado ao medo de falhar, ao medo de fracassar ou ao medo de não dar conta da atividade iniciada e pode servir como uma “estratégia da proteção” da própria autoestima.

O medo pode ser inconsciente e estar pautado em uma crença de incapacidade de realizar a tarefa com sucesso, permeado por uma insegurança sobre sua própria capacidade. É como se o procrastinador ouvisse dentro da sua própria cabeça que não tem que lidar com a atividade, seja ela qual for, e por isso a evita.

Isso pode indicar ainda uma falha autorregulatória, que implica em uma dificuldade na capacidade de regular seus pensamentos, comportamentos e emoções. 

Outas características também podem ser preditoras de um comportamento procrastinador e contribuir para instalação deste comportamento, tais como:

  • Autocrítica;
  • Insegurança;
  • Autocobrança;
  • Impulsividade;
  • Baixa autoestima;
  • Perfeccionismo;
  • Baixa tolerância à frustração;
  • Antipatia à tarefa a ser realizada.

A procrastinação tem uma forte relação com a preocupação, como já foi mencionado. A literatura que discute o tema indica que contribuem para a ação procrastinadora: 

  • A preocupação perfeccionista focada nos erros;
  • A preocupação com a expectativa alheia;
  • A preocupação com tomada de decisões;
  • Uma visão positiva da preocupação, que acaba por induzir um ciclo voltado à procrastinação.

Como o acompanhamento psicológico pode ajudar?

O acompanhamento psicológico visa à promoção de saúde, auxílio no enfrentamento de uma situação difícil ou transtorno, treino de novas habilidades, entre outras coisas, pensando sempre no bem estar de modo geral de quem busca o serviço.

Pensando na procrastinação, quando este comportamento acarreta prejuízos funcionais, acadêmicos e até físicos devido ao desenvolvimento de quadros ansiosos, de tensão muscular, distúrbios do sono, desequilíbrio do apetite ou outras manifestações, talvez seja o indicativo de que o sujeito não consegue mais lidar sozinho com a situação. E nesse sentido o auxílio de um profissional qualificado pode ser adequado. 

No processo psicoterapêutico, que consiste em ter uma escuta qualificada e empatia, o profissional pode auxiliar o procrastinador(a) no enfrentamento do desconforto gerado e dos prejuízos acumulados. Especificamente na minha linha de atuação com a Terapia Cognitivo-comportamental, por se tratar de uma abordagem focada no aqui-agora, sendo esta uma abordagem colaborativa e psicoeducativa, é possível:

  • Auxiliar no processo de autoconhecimento;
  • Identificar os padrões de pensamentos disfuncionais;
  • Identificar as situações e as consequências da procrastinação;
  • Treino para desenvolver atenção focada;
  • Restruturação cognitiva;
  • Uso de instrumentos e recursos psicológicos para fortalecer a capacidade de enfrentamento de situações onde haja o desejo de procrastinar;
  • Modificação de crenças positivas sobre a preocupação;
  • Fortalecimento de crenças racionais sobre a realização de tarefas.

Não há fórmulas mágicas para se alcançar resultados. Para romper o ciclo da procrastinação é preciso, dentro dos próprios limites, realizar ações planejadas, abrindo mão do bem-estar momentâneo pela evitação com consciência dos sentimentos e emoções sentidos, e com as estratégias adequadas realizar o enfrentamento do desconforto gerado no momento presente, focando em um alívio maior e mais prazeroso no futuro, com as tarefas realizadas.  

 

Bibliografia:

BRITO, F. S.; BAKOS, D. G. S. Procrastinação e terapia cognitivo-comportamental: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 9, n. 1, pp. 34-41, 2013. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872013000100006> Acesso em 22 abr. 2020.

RANGÉ, B. P (Orgs.) Psicoeducação em terapia cognitivo-comportamental. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

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