Terapia na terceira idade, nunca é tarde para começar

Terapia na terceira idade, nunca é tarde para começar

Os avanços da medicina promovem cada vez mais melhorias na qualidade de vida das pessoas, aumentando a expectativa de vida. Temos cada vez mais idosos em nossa sociedade. Se, por um lado, isso e uma ótima notícia, alguns desafios aparecem. Pensar na saúde mental dessas pessoas é um deles. Cada fase da vida revela demandas emocionais diferentes e esperar que uma pessoa chegue à terceira idade com todas os problemas resolvidos é uma utopia.  

As mudanças enfrentadas pelos idosos

Os idosos enfrentam mudanças significativas, que vão desde o falecimento do cônjuge à aposentadoria, perda de vida social, além da diminuição de algumas funções, como: visão, audição, agilidade motora. O advento da tecnologia é outro fator que contribui para que o idoso pense que não é mais útil, visto que na geração deles, os avós e pessoas de mais idade eram fonte de sabedoria e conhecimento para os mais jovens, e atualmente os jovens é que têm ensinado os mais velhos como utilizar computadores, celulares etc.

O idoso e a saúde mental

Esse conjunto de fatores faz com que o idoso se sinta mais frágil e problemas emocionais, como a depressão, podem aparecer. Uma das melhores maneiras de conseguir manter a qualidade de vida na terceira idade é cuidando da saúde mental, pois as mudanças trazidas pelo envelhecimento podem despertar sentimentos complicados, fazendo com que a ajuda profissional seja de extrema importância.

O idoso pode precisar de ajuda para entender que a fase pela qual está passando não significa o fim. A mediação de um psicólogo que põe em prática a psicoeducação é útil para estimular o encontro de aspectos motivadores na sua rotina. O intuito é dar novo sentido à vida por meio de estratégias cognitivas, desmistificando pensamentos distorcidos em relação à velhice.

É comum encontrarmos idosos que acreditam que nunca vão mudar, mas se eles confiarem e colocarem em prática o que foi combinado nas sessões, eles podem alterar algumas crenças e melhorar sua qualidade de vida. Por conta de as crenças disfuncionais serem mais arraigadas nessa faixa etária, temos que ficar atentos na hora de diferenciar quando uma limitação física do paciente é real ou se ele acredita que ele possui uma limitação muito maior do que é na realidade. 

Quando trabalhamos com idosos muitas vezes precisamos fazer algumas adaptações, utilizar, por exemplo, no material de plano de ação, fontes de texto de tamanho maior do que utilizamos habitualmente com outros pacientes. É necessário fazer resumos dos pontos mais importantes da sessão com mais frequência, para facilitar a lembrança do que foi trabalhado, e entre as sessões é interessante utilizar “lembretes” para a realização das atividades combinadas.

O atendimento domiciliar pode ser necessário em alguns casos, assim como pode também haver a necessidade de envolver a família no processo terapêutico, nesse caso o psicólogo pode convidar os parentes para algumas sessões e passar orientações sobre os cuidados e a interação com o idoso.

Uma estratégia que tem alcançado ótimos resultados é o treino de habilidades sociais. Muitos pacientes idosos precisam ser incentivados a estabelecer ou retomar relacionamentos, buscar atividades prazerosas no cotidiano e interagir melhor com seus familiares e amigos. Terapias em grupos com pacientes que se sentem muito sozinhos e possuam habilidades cognitivas similares também apresentam certa eficácia. 

A terapia para terceira idade deve buscar melhoria no processo de:

  • Pertencimento,
  • Autonomia,
  • Valor e
  • Aceitação.

A busca por autonomia é importante porque com a idade vamos perdendo habilidades como citado anteriormente. A autonomia pode ser definida como a aptidão ou competência para gerir a sua própria vida, e isso na velhice pode estar muito comprometido. Esse comprometimento pode ser causado por algo real, como por exemplo o desenvolvimento de uma limitação, por crenças irracionais sobre suas limitações ou por crenças de parentes, e isso pode impedir que o idoso faça as coisas. Essa falta de autonomia pode causar um grande sofrimento e pensamentos de não ter mais utilidade. Em casos como esse o psicólogo deve junto com o paciente analisar a sua autonomia nas mais diversas áreas como: finanças, autocuidado, afazeres domésticos, etc. Depois disso descobrir se suas limitações nessas áreas o incomodam e se são realistas; feito isso, traçarem em conjunto maneiras de ganhar mais autonomia e assim maior confiança e bem-estar. 

Na busca por valor, entender o seu papel na formação da família, na formação da sociedade e buscar novas atividades em que possa contribuir. Exercer atividades desse gênero são muito benéficas, pois atuam no sentimento de valorização e na ideia de pertencimento. Na aceitação, perceber que o envelhecimento é uma etapa natural da vida, não se abstendo de suas atividades diárias, nem tampouco do convívio social, tornando-os assim mais plenos nessa fase da vida. 

Os idosos e as crenças geracionais

Quanto ao conteúdo do tratamento, é importante trabalhar algumas coisas específicas como as crenças geracionais. Crenças geracionais são crenças de um grupo de pessoas nascidas em determinado período, elas são determinadas pela experiência desses indivíduos e podem ter um impacto significativo no processo terapêutico. É necessário investigar os papéis que o idoso desempenhava antes de sua aposentadoria, ou antes de uma limitação. Entender em que nível o indivíduo permanece envolvido com atividades pessoalmente significativas, relevantes e interessantes, não é incomum encontrarmos vulnerabilidades em pessoas que perderam esses propósitos. 

A velhice e a depressão

Apesar de muitas pessoas enxergarem essa fase como a “melhor idade”, muitas ainda têm uma visão negativa sobre ela, o que pode desencadear problemas psicológicos. Ao falar sobre depressão na população mais velha, devemos lembrar que se trata de uma doença multifatorial e que pessoas que já trataram esse transtorno ao longo da vida podem enfrentar maior risco de ter uma recaída durante a terceira idade. A terapia para idosos com depressão pode enfrentar dificuldades em relação à adesão do paciente, por isso é necessário que o psicólogo sempre envolva a pessoa nas atividades, explicando os objetivos e acolhendo os sentimentos dela. Ao envolver o idoso de maneira colaborativa com o processo terapêutico, fica mais fácil alcançar bons resultados, visto que crenças negativas de que não se consegue fazer as coisas que são comuns e simples para as outras pessoas podem causar grande sofrimento e precisam ser colocadas em perspectiva, é importante enfatizar cada pequeno progresso que o paciente apresentar, lembrar que cada conquista já é um grande avanço. 

Referências 

  1. Altman, M.; Yamamoto, K. & Tardivo L. S. de La P. C. (2007). Psicoterapia breve operacionalizada com pessoas idosas. Mudanças – Psicologia da Saúde, 15(2), 135-144.  
  2. Barbosa, Altemir José Gonçalves – Freitas, Eduarda Rezende. Terapias Cognitivo Comportamentais com Idosos. (2016): Sinopsys. 
  3. Barbosa, L. M., Zanetti, B. R., Santos, B. S., & Murta, S. G. Promoção de saúde no envelhecimento: Contribuições da terapia de aceitação e compromisso. In: E. R. Freitas, A. J. G. Barbosa, & C. B. Neufeld. (Eds.), Terapias cognitivo-comportamentais com idosos (pp. 375400). Novo Hamburgo: Sinopsys. 
  4. Bastioni, S. S. T. (2016). Saúde emocional na velhice. In: E. R. Freitas, A. J. G. Barbosa, & C. B. Neufeld, (Eds.), Terapias cognitivo comportamentais com idosos (pp. 353-374). Novo Hamburgo: Sinopsys 
  5. Lopes, R. G. C; Barbieri, N. A & Gambale, C. A (2009). Velhice Contemporânea e atuação do psicólogo. Em: Falcão, D. V. S & Araújo, L. F. A. (Orgs.) Psicologia do Envelhecimento: Relações sociais, bem-estar subjetivo e atuação profissional em contextos diferenciados. Campinas, SP: Editora Alínea.  
  6.  Peixoto, E. M., Honda, G. C., Gagnon, J., Rocha, G. M. A., Nakano, T. C., Zanini, D. S., & Balbinotti, M. A. A. (2019) Novas evidências de validade e invariância transcultural. Psico, 50(1),27851 
Janice Veleda
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