Abusos psicológicos, relacionamentos tóxicos e outros perigos

Abusos psicológicos, relacionamentos tóxicos e outros perigos

Não se enganem, já diz o ditado: nem tudo que reluz é ouro. Para identificar um possível relacionamento abusivo e/ou tóxico (em outra ocasião enumero as diferenças) é preciso esforço, porém, mais que isso, é importante atentar a detalhes. 

Sabe aquela pessoa que logo no início do relacionamento aparece como um príncipe azul, ou princesa? Pois essa mesma pessoa pode ser o pior pesadelo de sua vida. Atenho-me aos possíveis riscos da mulher heterossexual, por ser ela a maior vítima comprovada estatisticamente do referido assunto, mas qualquer sexo, gênero e tipo de relacionamento corre o mesmo risco. 

Os bonzinhos então são os abusadores em potencial? Nem sempre, mas em época de amores líquidos e jogos de desinteresse é bom prestar bastante atenção naquele tipo que se entrega totalmente e que faz de tudo para te agradar no começo do relacionamento. Tudo que você quer ele faz, tudo que você gosta ele gosta também, em pouco tempo ele te trata como o amor da vida dele e que não pode viver sem você! Como dizem por aí: Corra, corra para as colinas!!!

É possível que alguém fique tão apaixonado assim rapidamente, todos os exemplos que cito são fatores que devem ser analisados dentro de cada contexto.

Fique atenta aos sinais

Se você está conhecendo alguém de fora de seu convívio, tente perceber se ele está, mesmo que sutilmente, tentando ser invasivo, fazendo perguntas muito íntimas, sobre o seu passado, sua vida sexual, sobre seus círculo de amizades e locais que frequenta como academia, cursos, salão de beleza, instituições religiosas entre outras.

É bem confuso pensar nesse tipo de coisa quando se está conhecendo um cara que parece ser diferente dos outros, que você pensa estar acima de qualquer suspeita. Mas só para te assustar mesmo, saiba que em muitos casos de feminicídio foram vitimadas mulheres que acreditavam que seu parceiro era incapaz de fazer algo do tipo, até que ele vai e faz.

É muito bom surpresas, mas de alguém com quem você já tem uma solidez emocional, aparecer sem avisar na porta do seu trabalho, por exemplo, por mais que possa parecer fofinho, é um aviso pra você ligar o desconfiômetro, assim como pedido de saídas furtivas em horários em que você tenha compromissos mesmo que adiáveis, como um curso ou aula na faculdade, um dos sinais de que você provavelmente vai entrar em um relacionamento abusivo é quando graciosamente você recebe convites para mudar sua rotina.

Então, se ele lhe pede para faltar uma aula para ver você, ou para tentar sair mais cedo do trabalho ou de seus compromissos religiosos, diga não, por mais que esteja com vontade de vê-lo.

Conflitos internos ao lidar com a situação

O mais difícil nesse tipo de relação é o sentimento de culpa por estar atribuindo um possível perigo a uma pessoa que se mostra tão solícita, interessada e apaixonada por você, porém é por isso que existe a expressão “crime passional”. 

Voltando ao processo de caracterização dessa relação abusiva: apesar de todos esses sinais você acaba cedendo, e aí abre a caixa de pandora, as garras do abusador começam a aparecer, uma chantagem emocional que pode até ser percebida como um “dengo”, um pedido pra você não ir ao encontro de seus amigos, pois ele tá louco pra passar um tempo a mais somente os dois, as ligações em horas inoportunas começam a pesar, mas como ele sempre fez isso a culpa de não atender pesa mais do que a falta de noção do indivíduo.

Deste modo, sem perceber você deixa a pessoa cercar todo o seu mundo. Seus amigos você passa a ver com menos frequência, as coisas que você gosta de fazer perdem a importância diante do fato de que ele sempre tem uma desculpa apaixonada para que você não faça determinada coisa, declarações de amor profundas sempre são postas diante de uma pequena exigência, e assim o abusador vai ganhando terreno, ganhando sua confiança, afinal ele está realmente apaixonado, injetando doses inicialmente pequenas de culpa por você querer um pouquinho de espaço, até que você não consegue mais reaver sua identidade.

Abrindo os olhos

Chega o momento em que as cartas já estão todas dadas e nenhuma está em suas mãos. As sutis exigências com declarações apaixonadas viram apenas exigências, seus amigos, familiares e outras convivências sociais não podem mais ter importância, suas vontades e sentimentos são suprimidos e nunca considerados, e quando tenta sair desse círculo maldito é que você percebe o quanto foi manipulada e o quanto esse relacionamento tem poder sobre você.

Tentativas de voltar a sua essência são infrutíferas, pois você sempre cedeu aos caprichos, como se negar agora? “Como você quer sair só com suas amigas, eu não sou bom o suficiente pra você?”, “Sempre saímos juntos, você está com outra pessoa pra querer sair sozinha?”. Agora a injeção de culpa vem em doses cavalares e em ciúmes irracionais.

Portanto ainda parece reverberar alguma razão no que você está sendo acusada, engole a culpa como um comprimido amargo e continua dentro desse círculo, onde mais tarde os argumentos enciumados viram pequenas explosões, humilhações e em pouco tempo agressões de várias formas.

Relembrando que esse é um exemplo hipotético, muitas histórias têm um desfecho dramático, outras pessoas conseguem fugir do ciclo antes de se tornar perigoso, outras pessoas passam anos, pois foram devidamente engendradas na armadilha do abusador.

Os exemplos vêm de qualquer tipo de relacionamento, entre pessoas do mesmo sexo ou não, porém como dito anteriormente, a maioria dos casos fatais são de mulheres heterossexuais que muitas vezes estão frágeis, cansadas demais para sair da situação. O objetivo é identificar o quanto antes os potenciais abusadores e não deixar que nenhuma pessoa passe por isso. Porém, se o caso se torna mais complicado do que você possa lidar, procure ajuda, lute por sua vida e pegue-a de volta.

Para crimes de violência contra QUALQUER mulher ligue 180.

Este texto foi baseado em experiências relatadas por grupo de terapia no Complexo da Maré – Rio de Janeiro.

 

Referências bibliográficas:

MARQUES, Tânia Mendonça. Violência conjugal: estudo sobre permanência de mulheres em relacionamentos abusivos. Dissertação de mestrado, PPGP, Universidade Federal de Uberlândia, 2005.

BROTO, Thaiana Filla.  Relacionamento abusivo: 20 sinais de que você pode estar em um relacionamento abusivo. www.psicologosberrini.com.br

Disponível em: https://www.psicologosberrini.com.br/terapia-de-casal/20-sinais-de-que-voce-esta-em-um-relacionamento-abusivo/

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