Amor em tempos de conexão
Na era da tecnologia é normal que fiquemos mais tempo conectados, mas o quanto de fato estamos envolvidos? O quanto estamos dispostos a trabalhar num relacionamento ou apenas queremos satisfazer as cobranças sociais? O quanto entendemos, de fato, que se relacionar vai muito além do estar conectado?
A ilusão do relacionamento perfeito, mostrado diariamente na rolagem do feed das redes sociais, passa para a gente a sensação de que estamos vivendo a vida de forma errada, até que começamos a nos perguntar: “Por que todo mundo está em um relacionamento perfeito menos eu?”.
A preocupação de passarmos uma imagem de pessoas bem-sucedidas e realizadas faz com que deixemos de lado o que realmente importa e queremos para nós mesmos.
Quem quer parecer vulnerável e cheio de defeitos em mundo de filtros?
A troca de olhares, as conversas, os encontros e todo o processo que envolve o interesse inicial entre duas pessoas foram substituídos por uma análise rápida da foto, idade, signo, altura e distância… Deu match!
Passamos a buscar a felicidade com parceiros ideais, sem defeitos, através de relacionamentos perfeitos e instantâneos através de um clique.
A corrida para uma promoção no trabalho, os desafios da vida acadêmica e a rotina da vida social, não nos permite tempo para conhecermos alguém profundamente, entendermos seus interesses, seus valores, pensamentos e até mesmos seus defeitos, porque isso tudo leva tempo, exige compreensão e, acima de tudo, nos mostrarmos também, ou seja, mostramos para o outro que não somos perfeitos e é aí que mora o problema: não queremos mostrar nossos defeitos, não queremos ninguém apontando os nossos erros e não sabemos lidar com a rejeição.
Relacionar-se é difícil porque não é perfeito, requer paciência, concessão, e estamos tão preocupados com a nossa imagem que não queremos ceder, pois não queremos parecer fracos ou vulneráveis.
Por isso, prefere-se a superficialidade do clique, pois garante a imagem da perfeição.
Relacionamento é desenvolvimento e não completude
Os relacionamentos são essenciais para que possamos desenvolver nossas emoções, pensamento crítico, percepção, comunicação, além de nos proporcionar um bem-estar psíquico. No entanto, para nos relacionarmos bem com os outros, precisamos primeiramente nos relacionar bem com nós mesmos e entendermos quem somos.
Antes de oferecer amor ao outro, precisamos oferecer o amor a nós mesmos, muitas vezes esquecemos disso e acabamos impondo ao outro a função de fazer isso por nós.
Na maioria das vezes, buscamos nos relacionamentos o que nos falta, isso porque durante o nosso desenvolvimento aprendemos que somos metade de algo, que a relação consiste no encontro de duas metades, que o outro deve completar o que nos falta e desse ponto de vista o relacionamento não passa de dependência, uma vez que eu obrigatoriamente preciso do outro para ser inteiro.
O relacionamento deve servir como ferramenta de desenvolvimento dos nossos aspectos menos desenvolvidos, como orientação e não como suporte.
É essencial que o individuo entenda suas próprias insatisfações, sabendo administrar seus sentimentos, preencher os próprios vazios e lidar com suas imperfeições, evitando assim que o outro tenha a função de ser a extensão do seu ego.
O que faz uma relação durar?
Não há uma receita mágica que garanta o sucesso de uma relação, no entanto, há 5 características essenciais que um relacionamento saudável deve ter:
Respeito
Vivemos melhor em sociedade quando respeitamos o direito do outro, a privacidade, a expressão, e dentro do relacionamento não é diferente, o respeito mútuo garante a boa convivência do casal.
Comunicação
Muitas vezes esperamos que o outro adivinhe o que queremos, o que pensamos e acabamos por nos frustrar quando não temos nossos desejos íntimos atendidos. Ao invés de esperar que o outro adivinhe, precisamos nos expressar abertamente sobre o que pensamos ou queremos. Sem indiretas!
Objetivos em comum
A falta de objetivo entre os parceiros, faz com que os esforços das partes sejam infrutíferos, isso porque é como se as partes estivessem num mesmo barco e cada um remando para lados opostos.
Reciprocidade
A falta de reciprocidade entre as partes, gera desinteresse e desconfiança dentro da relação, causando distanciamento e falta de intimidade entre o casal.
Independência
Qualquer forma de dependência (física, emocional, financeira, etc.) gera um desgaste, isso porque alguém se torna unicamente responsável por algum aspecto dentro da relação, fazendo com que o casal perca a individualidade.
Referências
- BAUMAN, Z. Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
- JUNG, C. G. Sobre o Amor. Ideias e Letras: 1 Ed., 2005.
- RISO, W. Amar ou depender? L&PM Editores: 1 Ed., 2014
* Coautora do livro "Heróis da Saúde".
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