A importância do medo
O medo é uma reação de alerta muito importante para nossa sobrevivência. Não só a espécie humana, mas também os animais possuem esse mecanismo de reação instintiva perante uma ameaça iminente.
O medo, na medida certa é uma função saudável do comportamento humano, fazendo com que evitemos situações que aumente o perigo e a exposição desnecessária perante ameaças do cotidiano.
Quando estamos em estado de alerta são ativadas respostas fisiológicas que nos preparam para enfrentar o perigo. A Síndrome de Emergência de Cannon é uma resposta do Sistema Nervoso Simpático, responsável pelas alterações no organismo em uma situação de estresse, preparando a pessoa para uma reação de luta ou fuga, de forma imediata e instintiva.
São algumas das reações fisiológicas apresentadas quando o Sistema Nervoso Simpático entra em ação:
- Midríase (dilatação das pupilas);
- Vasoconstrição periférica;
- Vasodilatação muscular, necessidade de atividade motora rápida;
- Diminuição da circulação sanguínea para órgãos como os do trato gastrointestinal e os rins, uma vez que esses não são importantes para uma atividade motora rápida;
- Taquicardia (aumento da frequência cardíaca) e broncodilatação;
- Taquipnéia (aumento da frequência respiratória);
- Aumento da biodisponibilidade de glicose no sangue, concomitantemente ao aumento da glicólise no fígado e no músculo;
- Atividade mental aumentada;
- Aumento da velocidade de coagulação;
- Diminuição da resposta excitatória sexual;
- Aumento da pressão arterial;
- Aumento da intensidade do metabolismo celular por todo o corpo.
Ou seja, nosso organismo, com uma máquina perfeita, responde de forma imediata em uma situação de perigo e a concentração do gasto energético fica diretamente relacionado à resposta motora eficiente para a nossa sobrevivência.
Quando o medo deixa de ser saudável?
Quando então o medo deixa de ser saudável? Quando é que o medo vira uma doença? Podemos dizer que o medo deixa de ser saudável quando ele modifica negativamente o nosso cotidiano.
Segundo Silva 2011, as respostas físicas e mentais relacionadas ao medo eram essenciais para a sobrevivência de nossos antepassados, porém a manutenção dessas respostas adaptativas com tamanha intensidade no homem moderno é inapropriada, não havendo mais a necessidade de uma reação em cadeia tão excessiva, porém continuamos a nos “manifestar de forma quase idêntica àquela vivenciada pelos nossos ancestrais mais longínquos”.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5, Transtorno de Ansiedade “incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados”… “se diferenciam do medo ou da ansiedade adaptativos por serem excessivos ou persistirem além de períodos apropriados ao nível de desenvolvimento”.
Os transtornos de ansiedade são vários e diferem entre si, podendo ir de um súbito ataque de pânico diante de um estímulo real ao estabelecimento de um transtorno de pânico, este mais patológico e com comorbidades, ou seja, associado a outros distúrbios.
Podemos agir ainda com sintomas de ansiedade diante de medos diversos, fobias simples, como de animais, lugares fechados, avião, entre outros ou uma fobia social, onde o nos sentimos ameaçados diante de situações sociais ou exposição em público.
Uma outra variação do transtorno de ansiedade é o Transtorno de Estresse Pós-Traumático – TEPT, onde a pessoa, após passar por uma situação traumática como sequestro, acidentes, roubos a mão armada, perdas de entes queridos, começa a apresentar sinais e sintomas a todo momento em que o fato presenciado ou vivido vem a sua mente, revivendo o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento, desencadeando então as mesmas reações. A sua mente não consegue separar o fato ocorrido da simples lembrança.
O Transtorno Obsessivo-compulsivo – TOC
Já no Transtorno Obsessivo-compulsivo – TOC, somos invadidos por pensamentos intrusivos e sempre de conteúdo ruim (obsessões), que levam a desencadear rituais repetitivos e exaustivos (compulsões).
Pensamentos e imagens nos invadem incessantemente, o que nos leva a estabelecer rituais repetitivos como se assim conseguíssemos expurgar ou aliviar o momento de ansiedade.
Alguns sintomas mais frequentes quando a crise de ansiedade se estabelece é:
- Dor ou aperto no peito e aumento das batidas do coração,
- Respiração ofegante ou falta de ar,
- Aumento do suor,
- Tremores nas mãos ou outras partes do corpo,
- Sensação de fraqueza ou cansaço,
- Boca seca, mãos e pés frios ou suados,
- Náusea,
- Tensão muscular,
- Dor de barriga ou diarreia,
- Aumento da frequência respiratória,
- Aumento da frequência cardíaca,
- Tonturas,
- Vertigens,
- Sensação de morte,
- Sensação de despersonalização,
- Sensação de desrealização.
O transtorno de ansiedade deve ser encarado como uma patologia séria e que precisa ser cuidado de forma adequada. Não se trata de falta de “força de vontade”, “frescura”, “querer chamar atenção para si”, ou outra forma qualquer distorcida de “diagnóstico”. A ansiedade quando não tratada de forma correta pode nos levar à depressão.
O diagnóstico
O diagnóstico correto já é de grande alívio para a pessoa com transtorno de ansiedade, pois ela encontra uma justificativa válida e compreensível para seus sofrimentos, descobrindo que pode ser tratado e que pode aprender a conviver de forma mais saudável com seu modo de agir no mundo.
O simples diagnóstico correto já nos leva a um alívio dos sintomas.
A psicoterapia
A psicoterapia e o acompanhamento médico são ações indispensáveis para uma boa evolução da remissão dos episódios de ansiedade.
A psicoterapia irá nos ajudar a compreender como nos se manifestamos no mundo, quais os gatilhos que desencadeiam nossa ansiedade e a forma mais correta de lidar com cada situação, assim como reconhecer quais foram os eventos que levaram a desenvolver esse transtorno.
Em muitos casos a associação da psicoterapia com a prescrição de medicamentos, feito por um médico especializado, será necessária. O ideal é a pessoa procurar ajuda médica e psicológica tão logo se dê conta que sua ansiedade está produzindo sofrimento e desprazer em sua vida, dificultando seu convívio social.
Ansiedade e estilo de vida
A mudança de estilo de vida também ajuda imensamente com a remissão dos episódios do transtorno de ansiedade:
- Redução de carga de trabalho quando possível,
- Investir mais em momentos de lazer,
- Praticar atividade física,
- Cuidar da dieta,
- Meditação,
- Etc.
São ações que auxiliam o alívio dos sintomas se for associado ao acampamento médico-psicoterápico.
Estudos nos apontam que embora a ansiedade, devido ao seu caráter crônico, não ter cura, o tratamento adequado se torna eficaz permite obtermos um maior controle sobre nós mesmos e nossas reações perante o mundo, levando a pessoa até mesmo a eliminar os sintomas ou ficar assintomática durante longos períodos, dando qualidade de vida e volta ao prazer do convívio social.
Referências:
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM-5; 5ª edição; Associação Brasileira de Psiquiatria, Ed. Artmed; 2013; São Paulo-SP.
Silva, Ana Beatriz B.; Mentes ansiosas: medo e ansiedade além dos limites, Ed. Objetiva, 2011, Rio de Janeiro-RJ.
- Ansiedade: como a ansiedade patológica afeta nossa mente? - 13 de setembro de 2019
- Ansiedade e medo: como eles podem criar uma mente ansiosa? - 30 de julho de 2019