Campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio

Campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio

Setembro amarelo e a prevenção do suicídio

Neste mês de Setembro, estamos mobilizados no sentido de nos lembrarmos do tema do suicídio e pensar sobre sua prevenção.

Este é um fenômeno amplo e multifatorial, isso quer dizer que é muito difícil englobá-lo em um único tipo de ação, perfil ou tendência, talvez a única prevalência considerável seja a de transtornos mentais, que margeiam 90% dos casos.

Se o suicídio é um tema complexo e multifatorial, ao falarmos da prevenção poderíamos multiplicar por uma centena os já muitos fatores existentes, pois na prevenção precisamos abordar a história da construção bio-psico-social de um suicídio, inserir uma quarta dimensão, que é olhar este fenômeno em sua perspectiva temporal e histórica.

Dado a complexidade do tema, pretendo trazer aqui uma visão crítica, que está longe de trazer respostas, mas pretende convidar o leitor a reflexões pontuais, originárias de minha experiência e questionamentos pessoais, profissionais e intelectuais.

Uma vez que na prevenção precisamos nos adiantar quanto a algo que pode vir a acontecer, é imprescindível o reconhecimento da formação do fenômeno. E esta formação envolve uma intricada teia de outros fenômenos.

Se vamos propor a ideia de prevenção, me pergunto se mais correto não seria ater-se ao período que antecede a ideação e que deve se direcionar a todo conjunto da população, pois a partir do momento em que deixar de viver se apresentar como uma solução, já não estamos no ponto de prevenir, e sim de tratar.

O ponto em que o desejo de viver já se tornou muito frágil, já se coloca em um campo delicado e de maior complexidade de ação, o tratamento.

Consideremos então estarmos diante de duas forças, o desejo de morrer, e seu oposto, o desejo pela vida, a vontade de viver. O que faz uma vida satisfatória e o que leva alguém a crer que nunca irá ser capaz de viver satisfatoriamente?

Essa é uma pergunta dentro de um espectro que envolve toda a humanidade, desde a pessoa que sente a vida como absolutamente insatisfatória, até pessoas que têm grande satisfação em viver.

A resiliência

Todos flutuamos entre a satisfação e a insatisfação, entre momentos de alegria e tristeza, nos encontramos em algum ponto deste espectro.

Neste ponto existe um termo importante: “resiliência”. Muito utilizado hoje na psicologia, este termo foi retirado das ciências exatas, como me formei em engenharia pude presenciar experimentos em vigas de metal. O que significa?  Trata-se da capacidade de resistência elástica de um metal antes de atingir o nível de deformação. Quanto de força se pode aplicar em uma viga sem que ela se deforme? Quando ainda se está no ponto de elasticidade, ao se retirar a força, a viga volta ao normal.

A dificuldade que vamos encontrar é que as pessoas têm níveis de resiliência muito diferenciado, e o modelo social costuma constituir um nível de exigência homogêneo a todos aqueles que aparentam normalidade, existem tratamentos especiais para pessoas com claras e bem diagnosticadas peculiaridades, como na síndrome de Down, o autismo grave, a paralisia cerebral, por exemplo.

Porém, outros transtornos mentais, não são tão reconhecidos socialmente e geralmente não criam uma rede de cuidados tão espontaneamente quanto os citados acima. A depressão pode ser vista como preguiça, seguida de um conselho de que a pessoa precisa ser mais otimista, ou positiva, etc.

Poderíamos fazer uma metáfora de que as pessoas com transtornos mentais já possuem um nível de exigência em sua resistência elástica. As dificuldades e o sofrimento psíquico são um elemento a mais de pressão e dificuldade, enquanto na outra ponta encontram-se as dificuldades ambientais.

Dificuldades ambientais referem-se ao esforço de existir no mundo, de passar pela infância, pela adolescência, fazer escolhas, assumir responsabilidades, trabalhar, gerar seu próprio sustento e de sua família, etc.

Somos colocados diante de desafios verdadeiros mesmo para as mais resilientes e saudáveis pessoas.

Reitera-se, por exemplo, a ideia de “crise da Adolescência” com certo ar de banalização diante da árdua tarefa de fazer escolhas importantíssimas com muito pouca experiência e maturidade. Se existe uma fragilidade psíquica esta fase é ainda mais grave.

O preconceito com relação aos cuidados mentais

E ainda vivemos em uma cultura que olha com desconfiança e preconceito para os profissionais de saúde mental, isso está ilustrado na fala recente de jogadores da seleção brasileira masculina de futebol, dizendo que não eram doidos e não iriam se tratar com o psicólogo, endossados pelo técnico, sem entender sequer diferenças elementares entre o que é a psicologia clínica e a psicologia do esporte, esta última que tem se tornado elemento chave nas maiores seleções do mundo. Lembrando que um psicólogo sentava-se ao lado do técnico da seleção alemã e pode assistir de perto aquele famoso 7 x 1.

Esse é um fator social importante a ser observado no tema deste mês, o preconceito diante da procura de um profissional de saúde mental, que então se dá muitas vezes a beira do desespero, ou não se dá.

No que se refere ao “psi” creio que nos cabe observar o ambiente de desenvolvimento de nossas crianças. Como psicólogo e pai, tenho visto um debate muito amplo sobre pais muito permissivos e crianças que ficam muitas horas diante de uma TV ou em um jogo de celular.

No livro “Gestalt-terapia Explicada” na pag.54  Fritz Perls fala sobre a importância da vivência de frustrações para que a criança desenvolva habilidades para lidar com o mundo e desenvolver suas capacidades de obter aquilo que deseja por meio de seu próprio esforço.

Frustrar a criança é algo que precisa ser bem entendido, não é o mesmo de ser autoritário, cruel ou violento com as crianças, trata-se de ser capaz de dar-se ao trabalho de amorosamente dizer não para uma criança, compreendendo a importância educativa do encontro com os limites, com a falta, com a frustração.

Considerações finais

O espaço é limitado e o tema é muito amplo, então gostaria de colocar minhas considerações finais, sem conclusões, como foi a proposta inicial:

Ao falar do tema de prevenção de suicídio, importei-me de apontar o olhar para as deficiências de nosso sistema de uma forma ampla, no que se refere ao apoio a vida na perspectiva da singularidade de cada indivíduo, dos estressores sociais mais  comuns, das condições de desenvolvimento e maturação psíquica que oferecemos a nossas crianças, pois creio serem bases que podem aumentar a aptidão e desejo das pessoas pela vida.

Gostaria de terminar com uma pergunta: como você percebe as condições para a formação da dignidade existencial, e ao desenvolvimento do desejo pela vida, no mundo, e no nosso país hoje?

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