A estreita relação entre o câncer, a ansiedade e a depressão no público feminino

A estreita relação entre o câncer, a ansiedade e a depressão no público feminino

Outubro chegou e com ele um mar de tonalidades da cor rosa, tudo para lembrar nós mulheres que devemos prestar atenção à nossa saúde, e que a prevenção é o melhor caminho.

O câncer de mama e o câncer de colo do útero são o alvo principal desta campanha que surgiu nos Estados Unidos durante a década de 1990. Posteriormente, no ano de 2002, o Brasil também adotou a campanha, passando em 2011 a também fazer do Outubro Rosa o mês de prevenção ao câncer de colo do útero.

Mas você pode estar se perguntando: “Como funcionam essas patologias?”, ou “Como diagnosticá-las?, ou ainda “Quais os danos físicos e psicológicos podem ocorrer por conta dessas doenças?, “Como tratá-las?, etc.

Fique tranquila(o) porque vamos encontrar essas e outras respostas abaixo.

Câncer de mama

O câncer, de maneira geral, pode ser causado por diversos fatores. Para o câncer de mama especificamente a idade pode ser um fator decisivo, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) quatro a cada cinco casos ocorrem em mulheres com mais de 50 anos.

Existem, porém, outros fatores a serem observados que podem contribuir para o desenvolvimento da doença. Aspectos ambientais, comportamentais, genéticos e hormonais devem ser levados em consideração. Neste sentido, mulheres com histórico de obesidade, sedentarismo, uso abusivo de bebidas alcoólicas, histórico familiar de câncer ou histórico de disfunções hormonais ao longo da vida estão mais propensas a desenvolver a doença.

Os principais sintomas

Os principais sintomas são:

  • Nódulo fixo e geralmente indolor que pode aparecer na mama, pescoço ou axila;
  • Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja;
  • Alterações no mamilo ou saída espontânea de líquido das mamas.

Câncer de colo do útero ou câncer cervical

É causado pela infecção persistente de alguns tipos de Papilomavírus humano (HPV). A infecção ocorre através da via genital durante a relação sexual e tende a ocorrer de maneira bastante frequente nas mulheres.

Apresentar a infecção não significa que a mulher irá desenvolver o câncer de colo do útero, este só irá se desenvolver em alguns casos quando ocorrem alterações celulares. A identificação da doença ocorre através do exame preventivo ou papanicolau que deve ser realizado anualmente por mulheres com idade entre 25 e 64 anos.

Mulheres com histórico de tabagismo, uso prolongado de anticoncepcional e início precoce de atividade sexual se encontram mais propensas a desenvolver a patologia. 

A prevenção da doença deve ocorrer através do uso de preservativo, realização de exame preventivo anual e vacinação contra o HPV que atualmente é direcionada a meninas com idades entre 9 e 14 anos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), quando a doença é diagnóstica em sua fase inicial as chances de cura chegam a 100%. 

Os principais sintomas são:

  • Sangramentos vaginais;
  • Corrimentos;
  • Dores abdominais;
  • Sangramento menstrual mais prolongado que o normal.

Infelizmente o câncer de colo do útero é uma doença silenciosa onde os sintomas só aparecem no estágio mais avançado da doença.

Tratamento 

Em ambos os casos o tratamento pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia. A conduta a ser realizada será escolhida de acordo com o estágio de desenvolvimento em que a doença se encontra e com as características pessoais de cada paciente. 

A prevenção é de fato o melhor remédio, por isso o slogan do outubro rosa de 2020 é: “Quanto antes melhor”. Cientificamente já foi comprovado que o quanto antes se realiza o diagnóstico da doença, mais chances a paciente tem de se recuperar totalmente.

Por isso a necessidade de realização dos exames preventivos anualmente. 

Para além da sintomatologia física do câncer é preciso pensar também na questão psicológica, ou seja: como o câncer pode afetar na prática a saúde mental dessas mulheres.

Ferreira et al (2017) apontaram em suas pesquisas que mais de 25% dos pacientes oncológicos apresentam sintomas de ansiedade e/ou depressão, resultado que é corroborado por outros estudiosos da área. De maneira geral o reconhecimento dos sintomas da depressão tende a ser dificultado uma vez que, muitas medicações podem causar sintomas que se confundem com os da depressão.

Reconhecer os sinais o quanto antes e iniciar o tratamento pode evitar que o/a paciente perca a esperança em relação a sua cura e deixe de realizar corretamente o tratamento. Por isso a partir de agora vamos compreender melhor como podemos reconhecer esses sinais e sintomas e o que podemos fazer para ajudar as mulheres neste momento tão difícil de suas vidas.

O peso invisível do diagnóstico 

Receber um diagnóstico de Câncer historicamente não é algo fácil, devido a uma série de preconceitos sobre a doença que carregamos em nosso inconsciente.

Para muitas pessoas pensar nessa patologia é sinônimo de pensar em morte e por isso a notícia recai como uma bomba sob o paciente e sua família. Eu me lembro de um caso que recebi na clínica de uma mulher de mais ou menos 40 anos, ela tinha três filhos e havia recebido um diagnóstico de câncer de mama, seus pensamentos e verbalizações retratavam o medo de deixar seus filhos órfãos.

Ela dizia: “…como as crianças vão sobreviver sem a minha presença, como vão se sustentar?”, seu medo era agravado principalmente porque o pai de seus filhos nunca havia exercido a paternidade. O que pretendo demonstrar com esse exemplo prático é que muitas vezes quando a paciente recebe a notícia, informações sobre a cura não permeiam seus pensamentos e ela passa a carregar um peso a mais gerando uma maior ansiedade em relação ao futuro.

Essa ansiedade pautada no medo da morte e dos procedimentos que virão a seguir é apenas parte de suas vivências, já que os problemas encontrados pelas pacientes são múltiplos e podem ser descritos como:

  • Destruição dos planos futuros,
  • Mudança na aparência física,
  • Alterações e inseguranças na vida sexual,
  • Possíveis alterações na área financeira (principalmente em casos onde a paciente trabalha de forma autônoma),
  • Medo de deixar os filhos desamparados.
  • etc.

A autoestima tende a ser diretamente afetada, uma vez que a mulher em tratamento passa por alterações significativas na sua autoimagem através da perda dos cabelos e da retirada do seio. Aspectos que são socialmente valorizados em sua feminilidade. 

Durante o tratamento a mulher pode experimentar ainda outros efeitos colaterais como:

  • Cansaço,
  • Fadiga,
  • Desânimo,
  • Dores,
  • Limitação dos movimentos em decorrência da mastectomia (processo de retirada do seio),
  • Enjoo,
  • Dentre outros.

Diante de tantas mudanças é comum que pacientes oncológicos desenvolvam um quadro de transtorno depressivo.

Como reconhecer os sinais da depressão

Diante de tantos desafios e mudanças experimentados neste momento, torna-se necessário que os profissionais de oncologia estejam aptos a reconhecer os sinais da depressão para que essas mulheres possam também tratar de sua saúde mental o quanto antes.

Uma vez que os sintomas apresentados pela ansiedade e pela depressão podem interferir no prognóstico do tratamento, além de agravar a condição clínica da doença.        

A família e a própria paciente também devem estar atentos às mudanças internas vivenciadas, podendo buscar ajuda psiquiátrica e psicológica o quanto antes. Se você percebe que está se sentindo extremamente perdida e/ou desamparada, sem vontade de fazer coisas que antes lhe eram interessantes, apresenta choro ou irritabilidade constante, falta de apetite, insônia e medo ou preocupação excessiva com alguém ou alguma coisa, apatia, completa falta de esperança no futuro, etc. é hora de buscar ajuda psicológica.

Embora muitos destes sintomas apresentem uma ligação direta com os efeitos colaterais do tratamento, quando muito potencializados podem ser claros indicativos de um quadro depressivo. 

A importância do autocuidado

Primeiro precisamos entender o que significa autocuidado. Ter atitudes de autocuidado significa que você precisa estar em sintonia com você mesma, reconhecer as coisas que gosta de fazer, cuidar da saúde em todos os aspectos, seja praticando alguma atividade física ou simplesmente fazendo escolhas saudáveis para a sua alimentação, retirar um tempo diário para fazer algo que lhe dê prazer, reconhecer e respeitar sua necessidade de descanso e prestar atenção ao que você sente física e emocionalmente sem desprezar ou minimizar nenhum tipo de sentimento.

Muitas mulheres se deixam levar pela extrema rotina de atividades diárias seja no trabalho, em casa ou em ambos, e não se permitem vivenciar a rotina de autocuidado descrita acima. O problema é que chega um momento em que o corpo e a mente não aguentam mais receber tanta demanda e nenhum cuidado, e deste modo ele começa a dar sinais de que algo não vai bem nessa relação, seja através do surgimento de doenças físicas, como um câncer, ou através de sintomas psíquicos, como a depressão ou a ansiedade.

Por isso precisamos compreender que o autocuidado serve também como um cuidado preventivo para uma série de possíveis patologias que podem nos acometer em algum momento da vida e que tais cuidados têm profunda ligação com nossa qualidade de vida e saúde mental.

Quando a paciente chega ao consultório vivenciando um processo de depressão é comum que ela não consiga verbalizar exatamente como tem se sentido, não reconheça possíveis razões ou mesmo nunca tenha pensado sobre isso.

Muitas delas nunca ouviram falar sobre o significado do autocuidado e verbalizam nunca terem tido muito tempo para si mesmas. Eu costumo dizer a elas que o corpo fala quando a alma cala, e que vamos trabalhar juntas para colocar esse dialogo em prática. 

A importância da rede de apoio

A rede de apoio envolve a família, os amigos ou qualquer outra pessoa que possa oferecer algum tipo de ajuda neste momento tão complicado na vida da paciente.

Essa rede precisa estar atenta aos sinais que a paciente apresenta, sabe-se que neste momento a mulher se sente mais frágil e provavelmente irá precisar de mais atenção.

Ofereça seu tempo, converse com essa mulher, procure informações e exemplos de outras pessoas que passaram pela doença para que você possa confortá-la, animá-la em relação à recuperação, ou oferecer ideias que possam ajuda-la a lidar com os efeitos colaterais do tratamento.

Incentive o contato dela com mulheres que vivenciam experiências parecidas e evite demonstrar e nutrir sentimentos de pena e preocupação excessivas para com essa mulher. Se perceber sinais de que a saúde mental desta paciente encontra-se fragilizada chame-a para uma conversa franca e ofereça ajuda para buscar um bom profissional que possa acompanha-la neste momento.

 

Referências Bibliográficas:

Lopes. A. P, Camargo. C. A. C. M & Maia. M. A. C. (2020). Sofrimento psíquico vivenciado por mulheres diante do diagnóstico de câncer de mama: uma revisão bibliográfica reflexiva. Revista Eletrônica Acervo Saúde, (52), e 3556. Disponível em: https://doi.org/10.25248/reas.e3556.2020 

Ferreira. S. A; Bicalho. P. B; Neves. G. F. L; Menezes. T. M; Silva. A. T; Faier. A. T & Machado. M. R. (2017). Depressão em Pacientes Oncológicos e Identificação de Variáveis Predisponentes. Revista Brasileira de Cancerologia 62(4): 321-328. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/site/arquivos/n_62/v04/pdf/04-artigo-prevalencia-de-ansiedade-e-depressao-em-pacientes-oncologicos-e-identificacao-de-variaveis-predisponentes.pdf

Instituto Nacional de câncer: Informações sobre o câncer de mama disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-mama

Instituto Nacional do câncer: Informações sobre o câncer do colo do útero disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-do-colo-do-utero

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