Já parou para pensar por que você é o objeto do ciúme de alguém?

Já parou para pensar por que você é o objeto do ciúme de alguém?

Por que sentimos ciúme?

Você provavelmente já disse ou ouviu a frase: Onde você vai arrumada(o) desse jeito?” ou “com quem você estava conversando?” e deve ter se perguntado sobre por que sentimos ciúme. Esse sentimento está presente em muitas de nossas relações, e denuncia nossa vulnerabilidade e, às vezes, a partir dele criamos a fantasia de que o ciúme é sinônimo de amor, mas será mesmo?

A justificativa para que esse afeto apareça pode variar, mas geralmente está ligado à insegurança, quando achamos que os outros são superiores e melhores em algum quesito e por isso nos sentimos ameaçados e com medo. 

Necessidade de se afirmar acontece quando se tem o anseio de sempre confirmar que o outro o ama e que você é bom para ele(a). Por fim, pode ter também uma origem na infância por ter-se passado por uma experiência de abandono e/ou rejeição. Assim, acabamos carregando a crença de que podemos ser abandonadas ou rejeitadas a qualquer momento, além de que talvez se tenha tido a experiência de que, quando criança, tivemos que dividir a atenção com irmãos, fatos que ficam enraizados e que levamos para nossas relações sem perceber.

Tipos de ciúme

Freud, o pai da psicanálise, diz que “O ciúme é um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais. Se alguém parece não possuí-lo, justifica-se a inferência de que ele experimentou severa repressão e, consequentemente, desempenha um papel ainda maior em sua vida mental inconsciente.

Além disso, ele traz que existem alguns tipos de ciúme, já que cada indivíduo é muito subjetivo e possui experiências e vivências singulares, como o concorrencial, o projetivo e o delirante.

Vou falar abaixo um pouquinho sobre cada um dos três para que você possa refletir e entender o viés de cada um.

Concorrencial

O concorrencial diz respeito à inveja, onde o outro é algo que eu gostaria de ser, ou tem algo que eu não tenho, por isso criamos uma relação de rivalidade com esse outro, e acabamos por pensar que nosso parceiro(a) escolha ele(a) e não a mim, fazendo com que o medo de ser trocado prevaleça dentro do convívio do casal, o que gera sofrimento e medo de se perder o objeto amado(a).

Projetivo

No projetivo, vem a desconfiança de que o outro está me traindo, trazendo uma relação baseada em sentimento de insegurança. Esse tipo de ciúme tem uma razão projetiva, quando eu não consigo lidar bem com um afeto ou desejo meu, e então eu nego esse conflito em mim e jogo para o outro, colocando esses desejos e afetos no parceiro.

Exemplificando, é aquela pessoa que trai ou tem fantasias de traições, e por não conseguir se conter ou lidar com isso, acaba jogando o conflito para o parceiro dizendo que ele(a) o trai, funcionando então como uma espécie de defesa, já que Freud retrata que “Pode obter esse alívio – e, na verdade, a absolvição de sua consciência – se projetar seus próprios impulsos à infidelidade no companheiro a quem deve fidelidade.”

Delirante

Por último, temos uma estrutura paranóica do pensamento, devolvendo fantasias e ideias sem a mediação de um juízo de realidade. Desta forma, este ciúme é evidenciado por uma convicção, também de uma infidelidade, onde as evidências de que não é traído jamais serão suficientes, configurando-se assim como um tipo de posse. 

Por fim, Freud destaca que “Num caso delirante deve-se estar preparado para encontrar ciúme pertinentes a todas as três camadas, nunca apenas à terceira.”

Mas é normal sentir ciúme?

Sim, o ciúme é um sentimento normal. Todos nós sentimos ciúme em algum nível e ao longo de nossas vidas. Ou seja, é inevitável que surja uma insegurança em relação aos sentimentos do(a) parceiro em algum momento, mas esse afeto nunca é bom, se vivido com algum tipo de angústia. Divergente do que falam por aí, não existe ciúme bom e ciúme ruim. Na verdade, ele jamais é um sentimento bom. A razão para o equívoco é porque misturamos normal com bom.

Sinais de que o ciúme está excessivo na sua relação

Como vimos acima, existe um tipo normal de ciúme, mas você sabe identificar geralmente quando esse ciúme é patológico? Preste atenção nos sinais abaixo para que você consiga fazer essa distinção:

  • Você muda seu jeito e vínculos por conta da insegurança do seu parceiro(a);
  • Ele(a) investiga e tenta analisar seus pensamentos e gestos;
  • Seu cônjuge viola sua privacidade e espaço;
  • Ele(a) interpreta as situações a seu modo;
  • Sente que ele(a) tem controle total sobre os seus sentimentos e comportamentos;
  • Ele(a) tem necessidade de procura constante por pistas ou evidências que apontem para uma traição sua.

Consequências do ciúme

É importante que vivenciamos uma sensação de bem estar e segurança em nossas relações, por isso, quando isso não ocorre, quebra-se o foco no elo amoroso. O ciúme deixa os participantes desta convivência cansados e em situações estressantes, construindo uma prisão, onde liberdade e individualidade não são constantes e cria-se um  certo tipo de angústia e sofrimento no casal.

Como a terapia pode me ajudar?

O ciúme é assim, parte da realidade inconsciente, e é nesse lugar que precisamos buscar os mecanismos psíquicos que estão envolvidos na sua constituição.

Por isso, a busca pela terapia é um ótimo caminho para que você entenda essa realidade inconsciente, sua ou do seu parceiro, já que é neste espaço que você vai refletir sobre suas ações, medos e sofrimentos.

Você vai enxergar as reais questões sobre o porquê desse sentimento, em você ou em seu cônjuge, entendendo se a raiz do problema vem da infância, da falta de autoestima, ou alguma outra questão nesse sentido.

Assim, você terá consciência de seus erros, elaborando-os e entendendo para que esse afeto não seja prejudicial a você e seus relacionamentos.

 

Referências:

FREUD, S. Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo (1922). In: ______. Além do princípio de prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1920-1922). Direção-geral de tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1976. p. 269-281. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 18).

KERNBERG, O. Psicopatologia das relações amorosas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995

Jessica Rezende Fernandes
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