Todos os relacionamentos têm os seus problemas, mas quando se trata de codependência, a linha é tênue entre relações saudáveis e relações patológicas.
Assim como adictos são obcecados em drogas, jogos, comida ou sexo, o codependente é obcecado em relacionamentos.
A vida do adicto gira em torno da sua droga de escolha, assim como a vida do codependente gira em torno do seu parceiro.
Padrões de codependência são transmitidos de geração para geração. É um comportamento aprendido. Sendo assim, a psicoterapia juntamente com a psicanálise são utilizadas para fazer desaprender esse comportamento cultural e social aprendido.
Os sintomas da codependência
Os sintomas da codependência no sujeito incluem ansiedade, questões patológicas da intimidade, onde são violadas uma das partes, e comportamentos adictivos do parceiro em questão, de forma que o codependente seja aceito na relação.
A codependência envolve:
- Medo,
- Obsessão,
- Medo da rejeição,
- Submissão,
- Afastamento social,
Entre outros comportamentos que “dançam” conforme as atitudes dos parceiros.
Não necessariamente envolve drogas. Mas certamente envolve jogos de manipulação.
Muitas vezes envolve humilhações, perigo de vida e desrespeito. Enfim, o codependente mergulha na total desvalorização de amor-próprio em prol de um amor que vive no campo da imaginação. O parceiro passa a ser a droga do codependente. O codependente passa a ter comportamento disfuncional, viciante, obsessivo e compulsivo (pelo outro).
Pessoas codependentes demandam garantias constantes, pois têm medo de serem diretas e honestas com tudo aquilo que as incomoda na relação.
Pessoas codependentes são “dependentes” por definição. A dependência provém da baixa autoestima e do medo do abandono – são dependentes de alguém fora de si mesmo. E não falo de um dependente financeiro. É muito mais do que isso.
O codependente tem medo de ficar sozinho, tem medo de ser abandonado e rejeitado. Tem dificuldade de tomar decisões sozinho. É incapaz de ir a lugares ou iniciar projetos por conta própria. Desiste com frequência de planos ou interesses pessoais em prol do outro.
Um olhar psicanalítico para a codependência
Nesse momento, o olhar psicanalítico é muito importante, para que, durante a associação livre, o paciente, fazendo um paralelo entre o seu presente e a recordação do passado, consiga trazer à tona recordações que o façam ter insights do momento atual. É quando o codependente identifica seu aprendizado cultural, sua dinâmica familiar, suas experiências traumáticas daquilo que presenciou ou passou na infância, algumas vezes pelo uso abusivo de drogas e de todos os relacionamentos anteriores.
É um processo doloroso, desde o “descobrir-se” adoecido até a superação da relação doentia.
Porém, vejo o tratamento da codependência como um processo de tamanha urgência tendo em vista que pessoas correm perigo de vida ao se relacionarem destemidamente com o par (o viciado, o familiar obsessor, o outro codependente, a pessoa fragilizada, ou, seja lá qual for o sujeito que o codependente escolheu) a quem a pessoa codependente sofre de amor, dependência, controle, desejo e ausência de medo.
Paralelo ao olhar psicanalítico, aprecio trabalhar com técnicas de terapia cognitivo-comportamental aliada a métodos de grupos anônimos como os de 12 passos seguidos em grupos anônimos como os de Al-anon, Nar-Anon, Amor-exigente, Mulheres que Amam Demais e até mesmo NA ou AA se o codependente for dependente químico.
A terapia cognitivo-comportamental irá ajudar o paciente a identificar o medo do abandono na infância, o trauma do abandono de outros relacionamentos, a vergonha e a insegurança de ser sozinho, irá reconhecer e selecionar suas fraquezas, curar as feridas da infância, ajudar a perdoar-se a si mesmo, compreender e aceitar sua impotência em relação ao outro, reconhecer suas crenças limitantes e assim conseguir desapegar, melhorar sua autoestima e suas emoções e, principalmente, aprender a gostar de sua solitude*, que nada mais é do que a solidão sem o sofrimento.
É um longo processo de identificação e cura.
Eu, em toda minha experiência terapêutica, nunca vi relacionamentos seguirem adiante após o tratamento de um sujeito codependente. É libertador.
Características do codependente
- O codependente é aquela pessoa que faz ameaças e não as cumpre;
- Diz sim quando quer dizer não;
- Acaba por ceder a coisas que não queria fazer;
- Esconde o que pensa ou sente;
- Fala por indiretas;
- Evita se posicionar;
- Fala dos outros para evitar falar de si mesmo;
- Gosta de dar conselhos não solicitados;
- Não revela às pessoas quando não gosta de alguma coisa;
- Evita conversas francas;
- Culpa os outros por acontecimentos.
Seus medos comuns incluem:
- Cometer erros;
- Não ser apreciado;
- Ser criticado;
- Ser opressor e sofrer retaliações.
O codependente é um ser acostumado a praticar e sofrer abuso verbal, pois essa é a forma mais comum de abuso emocional. Habitua-se a acusar e ser acusado, xingar e ser xingado, manipular e ser manipulado, julgar e ser julgado, criticar e ser criticado.
O sistema caótico dos codependentes envolve como satisfazer suas necessidades e acreditam que os outros não sabem cuidar de si mesmos. Atraem pessoas carentes e invadem seus limites tentando controlá-las. Muitos adictos codependentes são irresponsáveis quando se trata de trabalho, dinheiro, cuidado com filhos, etc.
A infância do codependente
É comum, no decorrer da terapia, o paciente lembrar e revelar traumas, abandonos ou humilhações durante a infância.
Vejo muitos pacientes de idade avançada, no processo de terapia, recordar fatos traumáticos, que foram completamente apagados da memória desde a infância (pela sua criança interior) em forma de mecanismo de defesa do inconsciente, e que vem à tona; e nesse momento, o paciente identifica por si só a consequência de certas atitudes de submissão, desrespeito, humilhação e escolha pelo seu par.
Ora por um processo aprendido, ora pela descoberta da total inabilidade de ter desenvolvido durante o amadurecimento, mecanismo de defesa contra pessoas tóxicas e doentias.
É comum os codependentes repetirem escolhas e comportamentos viciantes mesmo quando mudam de parceiros, por isso é tão importante que a pessoa que se identifica como um codependente, procure ajuda.
Percebo rapidamente o codependente como aquela pessoa cansada, adoecida e consumida por um relacionamento. Geralmente procura terapia para tentar consertar o outro.
O codependente também acaba por evitar conversas intimas e desabafos com amigos e familiares, pois nesse momento ele já sabe que será julgado.
Enfim, a codependência leva a pessoa ao isolamento social do convívio de pessoas íntimas.
O casal passa a viver uma farsa para a sociedade.
Nesses tempos modernos, enquanto vivemos a positividade tóxica exposta nas redes sociais, não percebemos a face oculta dessas pessoas. Quanto mais se mascaram, mais aguentam, para não perderem (de forma doentia) seu parceiro.
Por fim, o codepentente, além de existir fortemente em um relacionamento afetivo, também está presente no trabalho, no contexto familiar onde ele é subordinado, humilhado, molestado, chantageado, subjugado e preso a amarras.
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Solitude* – um termo poético da solidão, de estado de privacidade, isolamento, reclusão.
ANDRÉA DE SOUZA VAZ CRP 05/39087
WHATSAPP: (21) 99596-5566
https://perfil.psicologiaviva.com.br/andreadesouzavaz
Sou Andréa, Psicóloga desde 2009, formada pela Universidade Estácio de Sá, pós graduanda em Psicanálise Pela Faculdade Única.
Tenho também curso de formação em Aconselhamento em Dependência Química pela Clinica Contexto Consultoria, tendo experiências na área de dependência química,
codependencia afetiva e familiar,
conflitos familiares relacionados a vícios/adicções a drogas, jogos, relacionamentos afetivos e familiares.
Participei de palestras e estágios em clínicas de recuperação em dependência química, além de atendimentos e acompanhamentos a familiares e réus em vara de família e criminal pela universidade.
Tenho experiência em atendimento em consultório particular.
A mim interessa ajudar o ser humano a resgatar sua essência,
a se libertar do luto,
aprender a conviver com o dependente químico trabalhando o desligamento emocional com amor,
depressivos,
pessoas sem vontade de viver,
pessoas que têm ou estão com medo de sair de casa,
pessoas que geraram transtornos ou conflitos internos em função da pandemia.
Pessoas que estão com medo obsessivo da morte tendo em vista a "pandemia do transtorno mental",e que sofreram pelo abandono afetivo devido ao isolamento social.
Nesse momento estou trabalhando integralmente de forma online.
Grata.
- Codependências: As relações dolorosas - 26 de agosto de 2021