Existimos no mundo através do corpo. Na forma como nos comportamos em relação a esse corpo e com o corpo em relação ao mundo está impressa nossa história. É através dele que expressamos nossas alegrias, ódios, vergonhas e culpas. É através de um abraço, de um beijo, de um tapa, de uma expressão, de gritos e palavras que nos relacionamos com o outro.
Somos uma combinação de biológico, psíquico e social e a forma como fazemos essa integração varia de acordo com o lugar e o momento em que nascemos. Atualmente, por exemplo, temos um corpo que tornou-se invisível, pois estamos contatando muito mais a imagem que fazemos de nosso corpo, que com o corpo em si.
Estamos buscando por padrões que estão muito distantes da realidade. A insatisfação é, então, uma marca de nosso tempo. Somos autônomos é claro, mas o constante bombardeio de propostas do que podemos ser e ter, dificulta o processo, pois temos muito pouco tempo para assimilarmos o que nos é oferecido (SCHILLINGS, 2007).
O que é autoimagem?
Autoimagem é a representação mental da aparência física. Ela é formada a partir de estímulos externos que surgem na relação do indivíduo com o meio e consigo mesmo. Essa imagem corporal está em constante transformação, dá suporte para a individualidade e para o desenvolvimento da identidade.
Autoimagem não tem a ver só com aparência, mas com tudo que envolve o corpo: o jeito de caminhar, a postura, o tom de voz, etc. Sendo assim, cada um age de acordo com a autoimagem que tem de si.
Nem todo mundo teve a oportunidade de crescer em um ambiente favorável ao bom relacionamento com o corpo. Por isso, é bem comum que a percepção do quanto essa autoimagem é incoerente com a realidade só aconteça depois de adultos. Por ser criada e julgada com base em valores sociais, a autoimagem impacta diretamente na forma de ser e estar no mundo. Então, pense no quão difícil é ter um bom relacionamento com o próprio corpo quando se está o tempo todo recebendo informações de que existe um tipo especifico de corpo que é aceitável enquanto todo o resto é feio, ruim e descartável?
Violamos nosso corpo para nos adaptarmos ao meio. O que deveria ser uma expressão de nós mesmos, passa a ser dissimulado, objetificado, desconfirmado em prol de um padrão imaginário. Para ser amado pelo outro, nos distanciamos de nós mesmos. O paradoxo é que se nos distanciamos de nós, nos distanciamos do outro, pois somos corpos nos relacionando com corpos.
Apesar de todos os esforços, por mais próximo que o corpo chegue do que é vendido pela mídia, a aceitação não acontece. A frustração permanece e abre campo para que diversas psicopatologias surjam (SCHILLINGS, 2007).
O corpo com data de validade
Há uma urgência em conseguir cada vez mais recursos externos, sem usufruirmos do que acabamos de conquistar. Não há tempo para que o produto se gaste ou fique velho por tempo de uso. Isso fica bem evidente na luta para manter o corpo sempre jovem: por não ser permitido envelhecer há uma corrida contra o tempo.
Observe que o próprio idoso é retratado pela mídia como joviais, confiantes e sexualmente ativos. A velhice aceita é a velhice que representa juventude. Angela Schillings (2007) diz que desejar vida longa, numa sociedade que desvaloriza a velhice é um desencontro de realidades.
O corpo bonito
Segundo pesquisa realizada em 2019 pela ISAPS – Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgia plástica no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. O fato de a clientela ser em sua maioria mulheres, diz muito sobre como o corpo feminino é tratado em sociedade.
Angela Schillings (2007) diz que as modificações corporais produzem um corpo que é palco performático e para isso o corpo é silenciado: suas dores não são sentidas e seus limites não são levados em consideração.
Enquanto o corpo magro é exaltado e o gordo é reprovado, há os fast foods que, avessos à alimentação saudável, criam mensagens ambíguas e torturantes, a quem acredita que precisa passar fome para ser aceito (SCHILLINGS, 2007).
Ser um corpo único, passou a ser motivo de repulsa. Ser um corpo real não vale a pena. O corpo gordo é tratado como obsceno. Corpos com deficiência são tratados como incapazes e inferiores. Corpos negros são marginalizados e a violência contra os mesmos é naturalizada.
Então, quem está se beneficiando com essa padronização? Para que serve a dessensibilização do corpo real e humano?
O corpo vendido
Numa sociedade consumista o foco passa a ser o ter em detrimento do ser e do sentir. A prioridade não é apreciar a lua, mas passar a imagem de que é sensível. O foco não é se alimentar com comida de boa qualidade, mas mostrar que está frequentando um lugar badalado. A foto do Instagram é mais importante que a experiência viva.
Através de propagandas, difunde-se a ideia de que é possível ser mais feliz tendo determinados produtos. O estilo de vida saudável, atrelado à estética de um corpo magro, também passa a ser artigo de consumo. Assim, mulheres de corpos reais passam a se submeter a exercícios físicos extenuantes, procedimentos estéticos e dietas rigorosas para alcançar o ideal. Mas por ser um padrão irreal, é natural que o sofrimento surja por não conseguir se encaixar no modelo proposto. Mesmo quem tem um corpo considerado adequado, está correndo atrás de manter o corpo ou corrigir pequenas características consideradas imperfeitas.
O trabalho com autoimagem
O corpo é movimento, é sensação, é processo, é vivo. Quando ele é transformado em objeto, perde-se ao contato com a própria essência, que aprisionada, engole tudo que chega, sem questionamentos.
A busca desenfreada por um corpo ideal é um sintoma da contemporaneidade, esta busca gera prejuízos à saúde física e emocional. Para entender os aspectos relacionados à essa busca, é necessário a percepção da imagem corporal. E o primeiro passo para isso é olhar para o corpo, estar presente com ele com o outro (BARACAT & BARACAT, 2016).
O trabalho com autoimagem não é simples. É um trabalho delicado, que está relacionado ao desenvolvimento da identidade e que pode conduzir a traumas do passado. Por isso, é importante que a pessoa que busca por esse trabalho priorize confiança e segurança na procura pelo profissional adequado.
Referencias
- https://www.isaps.org/wp-content/uploads/2020/12/ISAPS-Global-Survey-2019-Press-Release-Portuguese.pdf
- SCHILLINGS, angela. Imagem Corporal e o lugar que o corpo ocupa na contemporaneidade In: Frazão, L. M. (Org.) Questões do humano na contemporaneidade: olhares gestáltico. S. Paulo: Summus, 2017.
- BARACAT, M.; BARACAT, J. A influência social e cultural da idealização do corpo perfeito através dos meios de comunicação e seu impacto na formação da imagem corporal. Revista cientifica eletrônica de psicologia FAEF.p.1-11. 2016.
Trabalho como psicóloga clínica desde 2018, estou sempre buscando me atualizar (em teoria e em vivência) no mundo e meu objetivo nessa profissão é colaborar para que mais pessoas se sintam à vontade na própria pele.
Tenho buscado ampliar conhecimentos na área da Psicologia Corporal, pois sinto que muitas vezes ele é deixado de lado em nosso dia a dia. Além disso, atendo muitas pessoas que sofrem com transtornos alimentares e questões de autoestima, situações em que com frequência o corpo é visto como um problema.
Me interesso também por assuntos ligados à religião, pois apesar de a intolerância religiosa ser um problema antigo, é um campo ainda cheio de tabus. Sem falar que mesmo quem não se expressa através da religião, teve ou tem alguma questão relacionada a alguma delas.
E vendo que o dinheiro ocupa um lugar tão importante em nossas vidas, me interesso também pela Psicologia Econômica. Já ouviu falar? Existem diversos aspectos emocionais na nossa lida com o dinheiro e me coloco a disposição se você se interessa por investigar essa área de sua vida também.
Por fim, acho importante ressaltar que sou aberta ás propostas em terapia, afinal você é quem é protagonista de seu processo. Busco me posicionar de forma clara e flexível, para tratarmos da forma mais leve possível dos assuntos profundos da vida.
Gosto dos recursos artísticos, então se você desenha, escreve, compõe, cozinha e/ou assim como eu vê arte em tudo que existe, pode trazer para a sessão para explorarmos isso juntos.
Gostou da ideia? Fique à vontade para me mandar uma mensagem, seja para tirar uma dúvida ou ver se nosso “santo” bate! 😀
Ah! Se quiser conhecer mais do meu trabalho, você pode me acompanhar pelo Instagram @joannapsico ou me escutar pelo Spotify no podcast Joanna Psico.
É isso!
Um abraço e até mais!
- Como o consumismo influencia na sua autoimagem corporal? - 20 de outubro de 2021