A dependência na rivalização

A dependência na rivalização

Parei para refletir sobre a rivalização. Claro, para muitos o rivalizar é uma coisa péssima, considerada uma forma mal-educada de viver, para outros um combustível à competitividade. Sobre estas concepções, o presente texto não tem a intenção de entrar em desacordo, mas sim ter um olhar a mais a respeito do assunto rivalização, abordando um afunilamento a respeito de uma dependência que algumas pessoas tenham em rivalizar-se. Pois retratar e refletir sobre a vida humana é deparar-se com sua condição de complexa que é.

Pois bem, estava refletindo sobre o movimento constante das pessoas que tratam de realizar seus sonhos quando são confrontadas, questionadas ou desacreditadas por aquela figura que ela diz que não é de importância. Mas se não há importância naquela figura, por que sua rivalização a faz movimentar-se para realizar um desejo pessoal?

Por mais que ela diga que a figura seja sem importância, é de se perceber que é uma defesa para negar que aquela figura é, sim, importante, ainda mais quando esta manifesta o desacreditar da pessoa que a escuta, e se for bem reparada a figura retratada é muitas vezes uma figura de autoridade. E se a pessoa escuta a desaprovação feita pela figura de autoridade, há o combustível que a possa ajudar a prosseguir. Mas se não houvesse essa forma de manifestação por parte da figura, e sim, o apoio e a torcida… Qual é o movimento desse sujeito? Muitas vezes nos deparamos com o não movimento do sujeito o qual renuncia a realização de seus sonhos mais íntimos.

Sim, pois o apoio, a torcida, entre outros levam a pessoa a sentir a responsabilidade de que a realização da tarefa só depende dela própria, ou seja, o combustível precisa ser retirado dela mesma, o que pode gerar um peso sobre si mesma, pois lá no seu íntimo há uma descrença dela sobre si. E aí que vem a importância da figura de autoridade que a desacredita, pois todo o movimento será para realizar o desejo em provar seu valor ao outro que o desconsidera, e este movimento é também acompanhado por um afeto de ódio sobre a figura, que é ironicamente dita sem importância e escolhida inconscientemente. Para exemplificar essa ideia, convido você leitor, se puder, a recordar de alguns fatos ou de alguém que conheça que sempre está nessa situação de que estamos tratando, enquanto isso, vou criar algum exemplo ou caso para ilustrar o que estou propondo e provocar a sua reflexão e possíveis recordações que possa ter vivenciado ou testemunhado. Então segue-se abaixo:

Reparo sobre a situação de quantos jovens para conseguirem ultrapassar seus limites, ou alcançar seus objetivos para si precisam ter em metas o confronto contra a figura de autoridade como pai, mãe, irmão, ou professor, ou diretor quando estes não acreditam em seu potencial. E quando alcançam, ao invés de estarem comemorando a sua conquista pessoal, usam de seu troféu para “esfregar na cara” daquele que o desacreditou.

Estava lembrando agora de um adolescente que conheci que dizia que buscava fazer uma boa prova apenas para mostrar o resultado a uma pessoas que havia duvidado dele. E se não houvesse essa dúvida?

Tenho em hipótese que não haveria o manter de seu desempenho para alcançar boas notas, pois leva a ele próprio em manter o compromisso, dependendo apenas dele e a conquista fica no âmbito particular, o que significa que precisa haver uma atribuição de sua parte, e a derrota significaria estar no papel do fracasso, da perda, os quais sempre sonda em sua vida. Assim, tendo alguém que duvide dele, levá-lo-ia em colocar à prova seu valor ao outro e, consequentemente, esta figura lhe atribuiria o valor que lá no fundo não possui que é de se acreditar.

E deste modo, convido você à questão: será que não há uma dependência na rivalização à figura de autoridade para manter a chama na vida?

Sim, há dependência, pois há enraizado a descrença sobre si, e que se reparada gera dor, pois a pessoa fica diante de seu abismo íntimo. E como não há uma forma de se dialetizar sobre o valor da descrença, a dor torna-se grande demais. E pela grandeza dessa dor em seu foro íntimo que leva à baixa autoestima, o sujeito precisa criar meios para se defender, dentre um deles a importância e manutenção na rivalização naquela figura de autoridade que manifestou sua descrença, e assim sua descrença pessoal é escamoteada pela busca em provar seu valor ao outro, para este reconsiderar seu manifesto. 

Ou seja, a descrença da própria pessoa sobre si é projetada sobre a figura de autoridade, transformando-a em um eterno rival. E assim, a pessoa se mantém nessa dependência da rivalização, os anos passam e a pessoa que sempre tem dúvidas sobre si, a todo momento procura legitimar seu rival, principalmente aquele que representa um ar de importância hierárquica. E muitas vezes a pessoa que depende dessa forma de rival promove o desgosto deste que está diante, e assim o seu ciclo na rivalização inicia-se e se faz mantido.

E como ajudar a pessoa a resolver essa dependência?

É preciso que a pessoa seja acompanhada por alguém que a acolha e, deste acolhimento, haja um direcionamento para que a pessoa fique diante de sua descrença, mesmo que isso gere dor para que aos poucos a pessoa seja levada a refletir sobre o modo de vida que carrega, e provocando uma dialetização sobre o significado que tem-se enraizado durante anos (a descrença). E com o passar do tempo e de seu esforço, dando um novo curso à sua vida, a ideia pré-concebida de descrença não seja mais validada, chegando a ser ressinificada, e associativamente a pessoa se liberte de sua dependência em rivalizar-se com outro.

Assim, levando a um outro manejo na vida como: a responsabilização sobre si mesma na maneira que vive, conseguir ter uma vida mais harmoniosa com os outros, principalmente com as figuras que possam representar autoridade, começar a considerar melhor as contingências da vida (que nem tudo é agradável mesmo).

E por último, mas não menos importante, a pessoa passa a fazer a busca em realizar seus desejos para gozar de si, e não mais permitir que seus desejos sejam desviados para ter a validação do outro.

Fica aqui a reflexão.

Marcell Rocha Araújo

CRP: 01/18968

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