Depressão infantil: Meu filho está triste ou deprimido?

Depressão infantil: Meu filho está triste ou deprimido?

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-V), a depressão infantil é semelhante a depressão do adulto, de forma que os mesmos critérios de diagnósticos de depressão no adulto podem ser utilizados para avaliar a depressão na criança.

Engana-se quem acha que não existe depressão infantil. As pessoas acreditam que nessa fase da vida não há problemas que possam fazer uma criança ficar deprimida.

Mas, apesar dos problemas causarem tristeza e ansiedade, não necessariamente são a causa da depressão.

É comum ver o termo  depressão usado para descrever a tristeza, mas esse é um sentimento presente e necessário a todos nós, pois sem ele não reconheceríamos o valor da alegria.

Já a depressão é um transtorno afetivo, um desarranjo cerebral funcional com base bioquímica, portanto, não é “frescura”, como muitas pessoas falam.

E as crianças também podem ser afetadas por este transtorno, ainda que isso não seja reconhecido.

A depressão infantil encontra-se cada vez mais frequente em crianças e adolescentes.

A ocorrência dos sintomas em crianças têm se mostrado maior na faixa etária entre seis e onze anos de idade.

Por isso, faz-se necessário entendermos o que é a depressão infantil, quais são as causas, sintomas, a influência da família e da escola, as formas de tratamento e de prevenção.

A depressão infantil

Como a criança ainda está formando seu repertório de reconhecimento e de comunicação para falar de seus sentimentos, ela não consegue compreender de forma clara o que está sentindo e nem consegue exteriorizar adequadamente seus sentimentos.

Geralmente, elas demonstram seus sentimentos através de sintomas físicos e comportamentos que diferem dos das crianças com a mesma idade.

Dessa forma, a criança com depressão apresenta vários sintomas, desde os mais leves, como reações normais de tristeza frente a situações estressantes, até sintomas mais graves, que podem levar a uma condição clínica, onde há a vivência de um enorme sofrimento.

É necessário compreender que a depressão infantil é um distúrbio de humor que vai além da tristeza normal e temporária, ela é uma perturbação orgânica, que envolve variáveis sociais, psicológicas e biológicas.

Diante do aspecto biológico, a depressão é vista como uma provável disfunção dos neurotransmissores devido à herança genética e também ao fato de áreas cerebrais específicas terem anomalias e/ou falhas.

Na perspectiva psicológica, a depressão está associada ao comprometimento da personalidade, baixa autoestima e autoconfiança.

No que se refere ao âmbito social, pode-se considerar como uma falta de adaptação ou um grito de socorro, como também pode ser uma consequência da violação de mecanismos culturais, familiares e escolares.

Veremos isso melhor no item abaixo.

Causas da depressão infantil

A depressão em crianças pode ser ocasionada por uma disfunção dos neurotransmissores e neuroreceptores com influências de fatores genéticos e hereditários.

Esse transtorno também pode ser ocasionado por fatores de natureza psicológica e emocionais, como a mudança de cidade, de casa, de escola, de professores, a separação dos pais, presenciar discussões em casa, ou pertencer a famílias disfuncionais e com altos níveis de depressão.

Além disso, há também o de abuso de substâncias, ansiedade e comportamentos antissociais por parte dos pais.

Filhos de mães deprimidas têm maiores chances de não desenvolverem sistemas normais de regulação da atenção, da excitação e dos estados emocionais, ou seja, as primeiras interações com o cuidador podem compor a base para o desenvolvimento da depressão infantil.

Patologias ou situações como, por exemplo, enfermidades crônicas, intervenções cirúrgicas, malformações corporais, diabetes, fibrose cística e hospitalizações prolongadas, podem gerar ansiedade ou quadros depressivos na infância.

Repetidos eventos estressantes vividos na infância (como por exemplo vivências repetidas de fracasso) podem alterar a conduta de crianças, gerando sentimentos e pensamentos depressivos e facilitando, assim, o desenvolvimento da depressão.

Problemas de sono também parecem ser fatores importantes para o surgimento de sintomas depressivos.

A quantidade e variedade dessas experiências vivenciadas formam um conjunto de fatores de risco potenciais para o desenvolvimento do transtorno.

Sintomas da depressão infantil

Os sintomas depressivos mudam conforme a idade da criança.

Crianças de zero a dois anos podem apresentar recusa de alimentos, desenvolvimento tardio, alterações no desenvolvimento psicomotor e na linguagem, problemas de sono e enfermidades somáticas.

Já crianças em idade pré-escolar podem manifestar comportamento regressivo, principalmente no aspecto psicomotor, linguagem e controle esfincteriano.

Por natureza, a criança está explorando o ambiente para descobrir coisas novas. Quando fica com medo ou insegura, ela se retrai, aquietando-se e ficando parada, com medo de se separar de seus cuidadores.

+Leia também: O que fazer se meu filho sente medo?

Quando isto começa a acontecer, é preciso ficar atento, para notar se é algo momentâneo, ou não. Outro ponto a observar é a qualidade de sono.

Se o sono da criança começa a ser interrompido por pesadelos e ela começa a ter medo de ficar sozinha na hora de dormir, reclamando e chorando, é importante prestar atenção, pois o padrão do sono muda nos quadros depressivos.

Outros sintomas frequentes do transtorno depressivo infantil são a autocrítica elevada, sentimentos de inferioridade e o comportamento agressivo.

A agressividade e irritabilidade são percebidas com maior frequência nos meninos. É necessário, também, observar como a criança agia antes e como está agindo agora.

Se ela era uma criança ativa e ficou sem interesse por alguma coisa que antes parecia gostar, se era calma e agora está agressiva.

Podem aparecer outros sintomas como diminuição da atenção e da concentração, ideias de culpa e inutilidade, tendência ao pessimismo, queixa de sintomas físicos, ser seletivo com os alimentos que come e dependendo da gravidade do quadro, ideias de suicídio.

Sintomas de depressão infantil:

  • Tiques;
  • Anorexia;
  • Medos;
  • Problemas de memória;
  • Baixa concentração;
  • Enurese;
  • Encoprese;
  • Ansiedade;
  • Hipocondria;
  • Aumento da sensibilidade;
  • Sentimento de rejeição e fobia escolar;
  • Comportamentos de extrema obediência ou submissão,
  • Distrabilidade, descuido pessoal e corporal;
  • Comportamento autopunitivo e sentimento de culpa;
  • Olhar muito tempo para o chão ou permanecer com postura arqueada;
  • Cansaço;
  • Hipoatividade, fala monótona ou devagar, com ausência de expressão e respostas monossilábicas;
  • Fadiga, atividade extrema ou apatia;
  • Sentimentos de falta de valor ou inutilidade;
  • Mudança de peso e apetite;
  • Choros, problemas com o sono, queixas físicas e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.

Segundo o manual DSM-V, os sintomas comuns de depressão são:

  • humor deprimido na maior parte do dia
  • falta de interesse nas atividades diárias
  • alteração de sono e apetite
  • falta de energia
  • alteração na atividade motora
  • sentimento de inutilidade
  • dificuldade para se concentrar
  • pensamentos ou tentativas de suicídio.

Diante do Manual, para o diagnóstico de depressão, é necessário que o indivíduo apresente pelo menos cinco dos sintomas citados, sendo que um dos sintomas deve ser o humor deprimido em grande parte do dia ou falta de interesse pela maioria das atividades e deve ainda ocorrer em um período de pelo menos duas semanas.

No entanto, o Manual faz pequenas ressalvas considerando os níveis de desenvolvimento, a fim de facilitar o diagnóstico de depressão na criança.

Mais precisamente, uma criança deprimida pode apresentar humor irritável em vez de tristeza; ou ainda revelar uma queda no rendimento acadêmico em função do prejuízo na capacidade para pensar e concentrar.

Influência da família e da escola diante da depressão infantil

A falta de informações dos pais e professores sobre a depressão infantil pode contribuir para aumentar as dificuldades dos alunos e inúmeras sequelas emocionais no futuro.

É evidente que família e educadores não estão preparados para fazer um diagnóstico na criança. Cabe ressaltar, porém, que nem é esse o papel dos mesmos.

No entanto, com conhecimentos acerca de depressão infantil, é possível ter um olhar mais atento às crianças que apresentam possíveis sintomas permitindo um encaminhamento oportuno e um diagnóstico mais rápido, o que conduzirá a intervenção adequada em tempo hábil.

Cabe ressaltar que tanto a escola quanto a família podem contribuir para a depressão infantil, nos aspectos referentes aos padrões de relacionamentos disfuncionais, opressão, humilhação e maltrato nos dois ambientes.

Problemas de relacionamento com professores e colegas, rejeição por parte dos amigos, assim como o afastamento de um dos pais do convívio da criança também podem contribuir para um quadro depressivo.

Dessa forma, é importante que os pais construam um ambiente saudável para o desenvolvimento dos filhos e supram suas necessidades básicas e que a escola seja também um ambiente acolhedor.

Percebendo os sintomas

Uma vez que a criança ainda está em processo de formação, é comum que ela e seus pais acreditam que as mudanças de comportamento e humor possam fazer parte do próprio desenvolvimento ou do seu modo de ser.

Assim, a criança cala, se retrai, mas os pais demoram a perceber que o filho precisa de ajuda. Além do quê, uma criança que é mais quieta, calada e que não faz bagunça, muitas vezes é vista como uma boa criança tanto para os pais quanto para a escola.

Quando a escola percebe a mudança nos comportamentos da criança, como por exemplo, a diminuição do rendimento escolar, ela deve encaminhá-la a um profissional e alertar os pais.

Quando os pais percebem uma mudança significativa no comportamento do filho, como chorar constantemente, ficar muito irritada ou perder peso sem razão aparente, devem levá-la a um profissional para que seja feito um diagnóstico, mesmo que a escola não tenha percebido os comportamentos.

Além de fazer o diagnóstico, é importante que os adultos próximos a esta criança apoiem e mostrem que ela não está sozinha, respeitando e compreendendo seus sentimentos, incentivando-a, sem pressão, a desenvolver atividades das quais gosta e dar atenção e carinho a ela, quando solicitado.

Tratamento para a depressão infantil

Quando os sintomas são percebidos tanto pela escola quanto pelos pais, muitas vezes eles não sabem exatamente qual o significado dos sintomas.

Assim, acabam levando a criança a profissionais de saúde que não dão a importância necessária aos alertas depressivos apresentados pelas crianças e adolescentes, ou que encontram dificuldade para realizar o diagnóstico, contribuindo, assim, para o agravamento do quadro depressivo.

O diagnóstico de depressão nas crianças é realizado a partir do Manual DSM-V, como a depressão também é sintoma de outros transtornos, acaba não sendo a primeira opção de diagnóstico.

Alguns profissionais diagnosticam a criança depressiva com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de conduta, transtorno desafiador opositivo ou transtorno de ansiedade.

Por isso, é importante o papel da psicoterapia, com abordagem individualizada, para o diagnóstico e tratamento desse transtorno.

Quem realiza a psicoterapia com crianças é um psicólogo. Este verificará os sintomas e, em alguns casos, encaminhará para um psiquiatra com o fim de confirmar a hipótese diagnóstica.

A psicoterapia pode ser a única forma de tratamento, ou pode haver a medicação caso haja um fator genético ou hereditário. O psicólogo e psiquiatra irão trabalhar em conjunto.

O diagnóstico precoce é muito importante para que o tratamento seja iniciado e torne mais fácil a modificação dos comportamentos depressivos, tendo em vista que, ao longo do tempo, eles podem se tornar mais resistentes à mudança.

Quanto mais tempo demorar para estabelecer o diagnóstico do transtorno e dar início ao tratamento, mais difícil poderão ser essas modificações, visto que os comportamentos depressivos poderão continuar com o passar do tempo.

Prevenção contra a depressão infantil

O ambiente familiar saudável age diretamente no desenvolvimento emocional equilibrado, pois é necessário que possa suprir adequadamente as necessidades básicas da criança, assim como as de proteção e acolhimento.

É importante fornecer aos filhos todo o amor e carinho, compreensão e amparo, construindo uma relação de confiança com eles.

O conhecimento do transtorno depressivo infantil por parte das pessoas que estão envolvidas com a criança, como pais e professores, a fim de contribuírem para a identificação precoce dos sintomas, é essencial para a superação do transtorno.

Vale lembrar que a criança, quando é bem-sucedida na escola e participa de atividades extracurriculares, tem sua capacidade intelectual e social preservada, tem relações positivas com outros adultos fora da família, tem uma percepção positiva de si mesmo e recebe os suportes sociais adequadamente, e portanto, tem menores chances de desenvolverem a depressão.

Para prevenir que mais problemas se desenvolvam na adolescência e na idade adulta, visto que esse transtorno é capaz de comprometer o desenvolvimento das crianças e seu processo de amadurecimento psicológico e social, é necessário que seja realizado um tratamento adequado na infância.

Caso contrário, os problemas podem evoluir do menos grave como, por exemplo, ter baixo rendimento escolar e social, ao mais grave, como grande problema de autoestima, dificuldades de relacionamento e de desempenho que podem evoluir para comportamento suicida.

Fique atento

A depressão é uma condição clínica grave que pode ocasionar graves repercussões na vida da criança e do adolescente.

Família e escola devem estar alertas, pois os sintomas de depressão na infância podem passar despercebidos.

A depressão em idade precoce pode ter continuidade na idade adulta.

Há vários sintomas que devem persistir por um período de duas ou mais semanas e que compõe o diagnóstico de depressão, que é baseado no Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-V).

Resumidamente, os sintomas são: humor deprimido na maior parte do dia, falta de interesse nas atividades diárias, alteração de sono e apetite, falta de energia, alteração na atividade motora, sentimento de inutilidade, dificuldade para se concentrar, pensamentos ou tentativas de suicídio.

Caso perceba algum desses sintomas nos seus filhos ou em crianças ao seu redor, não deixe de procurar ajuda. Aqui na psicologia viva contamos com profissionais preparados para lidar com pessoas de todas as faixas etárias, inclusive crianças.

Autoras

Cristina Palludetti

Atuo como psicóloga clínica em consultório particular na cidade de Rio Claro (SP). Sou especialista em psicologia analítica, arteterapia, psicopedagogia e coaching.

Tenho formação em avaliação neuropsicológica em crianças e adolescentes e aprimoramento feito na Unesp para atender pacientes com Alzheimer.

Trabalho com psicoterapia breve focal, sempre explorando o lado positivo e criativo do indivíduo, desenvolvendo as potencialidades da pessoa em busca de novos modos de encarar a vida.

Tel.: (19) 3023-1585

Whatsapp:(19) 99572-4133

Kelly Justino Zago

Sou psicóloga clínica, atendo na cidade de Franca no interior de São Paulo em meu consultório e virtualmente. Ofereço atendimentos presenciais em ludoterapia, psicopedagogia, grupoterapia, psicoterapia e atendimentos virtuais de orientação psicológica para crianças, mulheres e pais.

Procuro estar sempre antenada e capacitada diante minha profissão.

Em meus atendimentos busco alcançar a melhor versão da pessoa, acredito firmemente no potencial que elas têm em conseguir realizar seus desejos e solucionar seus problemas.

Tel.: (16) 3703-8124

Whatsapp: (16) 99460-2313

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Bibliografias Consultadas

FRAGA, Bibiana Pereira de. Depressão na
Infância: Uma revisão da literatura. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Instituto de Psicologia – Porto Alegre, junho de 2015. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/141362/000992358.pdf?sequence=1.
Acesso em: 07 de junho de 2018.

CRUVINEL, Miriam; BORUCHOVITCH, Evely. Depressão
infantil: Uma contribuição para a prática educacional. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v. 7, n. 1, p. 77-84, junho 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572003000100008&lng=en&nrm=iso.  Acesso em:  07 de junho de 2018.

MARCONI, Elizete Venson do Nascimento. Depressão
infantil: Uma revisão bibliográfica. Psicologia.pt. ISSN 1646-6977. 2017. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1091.pdf. Acesso em: 07 de junho de 2018.

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