O aumento do uso de drogas por casais durante a pandemia

O aumento do uso de drogas por casais durante a pandemia

O aumento do uso de drogas por casais durante a pandemia

Mesmo antes da pandemia o uso de drogas já havia se tornado muito presente na sociedade, sendo considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença crônica e recorrente, com sérias consequências pessoais e sociais.

No Brasil, o tema é tratado como um problema de saúde pública. Porém, com a imposição do isolamento social devido ao coronavírus (COVID-19), o número de usuários de substâncias lícitas ou ilícitas aumentou consideravelmente.

Esse momento apresenta um desafio para muitas pessoas que estão lidando com problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, por exemplo. Devido ao medo, incertezas e angústia os transtornos mentais sofreram um aumento significativo.

Esse seria um dos motivos que levariam ao maior consumo de drogas, tanto lícitas quanto ilícitas. O tédio e a liberdade de estar em casa também podem contribuir para esse aumento. Entre casais, o uso de drogas pode ocorrer de forma recreativa, devido às dificuldades no relacionamento ou como uma forma de aumentar a intimidade e as sensações de prazer sexual. 

Segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, realizada em 2019, 4.9 milhões de brasileiros consumiram drogas ilícitas num período recente. Esse número equivale a 3.2% da população brasileira. Destes, 7,7% consumiram maconha, haxixe ou skank, 3,1%, cocaína, 2,8%, solventes e 0,9%, crack.

Além de drogas ilícitas, o estudo mapeou o consumo de álcool, onde 30.1% dos participantes indicaram uso abusivo dessa substância. Homens consumiam numa única ocasião cinco doses ou mais de bebidas, enquanto mulheres, quatro doses ou mais.

Dados divulgados pela Global Drug Survey, que anualmente faz um levantamento online sobre o uso de drogas em todo o mundo, apontam que durante a pandemia houve um aumento de 41% no consumo de álcool no Brasil.

A droga ilícita mais utilizada é a maconha, seguida da cocaína. Devido a escassez de oferta, há uma preocupação em relação a novas combinações de substâncias ou quanto a qualidade da droga comercializada, o que pode trazer sérios prejuízos à saúde dos usuários ou até mesmo ser letal.  

Quais são os fatores que levam ao uso de drogas? 

O primeiro contato com drogas ocorre geralmente na adolescência, isso porque diversos fatores influenciam no uso de substâncias, como por exemplo: hábitos e comportamentos em transformação, curiosidade, influência de amigos ou rebeldia etc.

O primeiro contato com drogas geralmente é agradável, o que leva ao desejo de consumir a droga novamente. Comumente esse contato inicial ocorre quando há frustração e tristeza pela dificuldade em lidar com problemas da vida.

Muitos pensam estar solucionando um problema, quando na verdade podem estar criando outro: a dependência química. Considerada uma doença crônica, caracterizada por comportamentos impulsivos e recorrentes de utilização de uma determinada substância para obter a sensação de bem-estar e de prazer, aliviando sensações desconfortáveis como medo, ansiedade, entre outras. 

O consumo abusivo de drogas compromete a vida no âmbito pessoal, afetivo, social, acadêmico e profissional. A exposição contínua a essas substâncias afeta as emoções e o funcionamento do cérebro e do corpo. O uso de drogas pode ser visto como uma válvula de escape ou como uma fuga da realidade.

Como a sensação de alívio é apenas temporária e os problemas que estão incomodando não desaparecem, a pessoa passa a querer cada vez mais essas substâncias, o que pode levar ao estado de dependência. 

Transtornos mentais como ansiedade, depressão, esquizofrenia, bipolaridade etc., também podem ser um gatilho para esse tipo de comportamento. Muitas pessoas tiveram seu quadro agravado ou iniciado pelo isolamento social e sem ver outra saída, buscam nas drogas o alívio e a satisfação que não encontram em seu cotidiano.

Durante a pandemia houve um aumento no consumo de drogas lícitas, como analgésicos opiáceos e tranquilizantes benzodiazepínicos.

Entre os casais isolados, o uso pode se dar de forma recreativa para manter a parceria, potencializar as sensações de prazer durante as relações sexuais ou como uma forma de lidar com conflitos conjugais. 

O uso de drogas para manter a parceria 

Muitos casais utilizam desse comportamento na tentativa de se manter próximos e conectados. Mas isso demonstra baixa autoestima daquele que se submete ao uso por medo de ser rejeitado ou abandonado pelo parceiro, além de fragilidade do relacionamento, onde o casal não consegue se comunicar adequadamente e busca uma válvula de escape e a resolução de conflitos através do prazer imediato que a droga proporciona.

Nesse caso, é importante se questionar: além do uso de drogas, o que mais une você ao seu parceiro? Quais são os momentos de prazer e diversão que vocês têm experimentado ultimamente? 

Já outros casais usam algum tipo de substância desde que se conheceram, fortalecendo o vínculo afetivo através desse comportamento e moldando o seu relacionamento através dessa prática. Nesse caso, provavelmente haverá continuidade do uso, pois ambos se sentem seguros e compreendidos.

Mas se você está se sentindo incomodado com essa situação, converse com seu parceiro e exponha claramente o seu ponto de vista. Sinalize o seu desejo de parar de usar drogas e busque apoio do seu parceiro e da sua família.

O uso de drogas para potencializar as sensações de prazer durante as relações sexuais

Muitos homens e mulheres mantém relações sexuais após consumirem drogas. Entre as substâncias mais usadas estão o álcool e a maconha, seguidos pelo ecstasy e estimulantes sexuais. 

Geralmente os casais usam drogas tanto para intensificar a sensação de prazer, quanto para que a relação sexual dure mais. Esse fenômeno é chamado de “chemsex” ou “sexo químico”.

Porém essa prática pode colocar a saúde em risco. Por alterar o nível de consciência e o funcionamento cognitivo das pessoas, pode ocorrer relações sexuais inseguras, sem o uso de preservativo. A exposição recorrente às drogas também é um fator de preocupação nessa prática.

É preciso estar atento para não associar prazer sexual somente ao uso de drogas. Entenda que é possível sentir prazer sem essas substâncias. Invista em autoconhecimento, conheça o seu corpo, converse com seu parceiro. Procure ajuda se necessário. 

O uso de drogas como uma forma de lidar com conflitos conjugais

Devido à convivência intensa, é comum que surjam atritos e divergências entre os casais. Muitos desses já estavam experienciando relações disfuncionais ou desgastadas. Nesse sentido, o uso de substâncias pode surgir como uma fuga da realidade, uma forma de seguir com o relacionamento sem ter que encarar de frente os problemas da relação e as suas próprias dificuldades.

Nesse contexto, as substâncias mais utilizadas são os ansiolíticos e o álcool. Mas é preciso ter muita cautela, pois esse tipo de comportamento pode levar a violência doméstica.

Após o início do isolamento social houve um aumento nos casos de agressão, seja contra mulheres, crianças, idosos ou mesmo animais. E muitas vezes o uso de drogas está associado a esse comportamento. Mas é importante salientar que o uso de drogas não é o único responsável pela violência. O que pode ocorrer é a ativação de uma série de gatilhos que levam a pessoa a cometer atos violentos.

Muitos agressores usam as drogas como desculpa para justificar seus atos, assim como existem vítimas que tendem a atenuar a violência sofrida utilizando esse mesmo argumento. Nesse caso, é necessário um tratamento médico e psicológico para reverter essa situação.

O que fazer para tornar o período de isolamento menos estressante 

A quarentena pode ser um momento de crescimento. Invista em você e no seu relacionamento de forma saudável. Aproveite para rever os seus hábitos. Eles estão saudáveis? E o seu relacionamento, está satisfatório?

Aposte em momentos sóbrios, converse com seu parceiro, invista na intimidade e na parceria. Encare a pandemia como um desafio em comum. Divida tarefas combine limites e regras. Lembre-se, este é um momento de união e colaboração. Peça ajuda se for preciso. 

O tratamento para dependência química é possível, e a compreensão da doença é fundamental para possibilitar a recuperação. Se você está enfrentando dificuldades em lidar com sua saúde mental ou com as suas emoções, procure um psicólogo, ele pode ajudá-lo a superar essas dificuldades. 

A Terapia Cognitivo-comportamental se baseia na análise e na alteração dos pensamentos automáticos, assim como nas crenças distorcidas que provocam emoções e comportamentos disfuncionais, fornecendo estratégias para que você possa interpretar e responder aos estímulos ambientais de maneira mais saudável e funcional. 

 

Referências Bibligráficas:

FONTES, Maria Alice. O que é a dependência química? Tipos de drogas, efeitos e tratamentos. [S.I.], 2010.

LARANJEIRA, Ronaldo; ZANELATTO, Neide. Dependência Química e As Terapias Cognitivo-Comportamentais. 2 ed. Artmed. 2018.

SANTOS, Maria Diamantina C. ; SILVA, Tonico. Dependência Química. Compreender a doença para propiciar a recuperação. Paulinas. 2019.

https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-revela-dados-sobre-o-consumo-de-drogas-no-brasil

https://www.globaldrugsurvey.com

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