A leitura de um psicólogo!

A leitura de um psicólogo!

Os farpados de arame protegidos por sistema de eletricidade seriam a garantia de manter separado o homem e a vida que até então havia feito parte da sua existência: sua família, sua religião, suas crenças, sua identidade. A estes homens não era permitido ter nada, tudo lhes foi tirado, até o nome! Não havia nomes nos campos de concentração, todos eram identificados por números.

Os pertences? Um ou outro tentava guardar um relógio, aliança, ou objetos que fora da vida de outrora, mas os guardas captavam tudo, até a roupa era substituída. Um alfinete poderia ser trocado por um cigarro, ou um prato de sopa, quem sabe?

Não havia tempo nem interesse para questões éticas ou morais, segundo Frankl (1959). Cada um ali era dirigido por um único pensamento: manter-se vivo pela família que o esperava em casa, e salvar os seus amigos.

No entanto, a dignidade não lhes podia ser tirada, desde que a consciência do sentido da vida estivesse presente. Seja porque houvesse algo ou alguém por quem lutar, ou uma causa a empreender, haveria de significar experiências humanas por vezes desumanizantes.

Seria possível a alguém imaginar-se capaz de suportar tamanho sofrimento?

Neste livro, Victor Frankl (1959) relata o sofrimento vivido nos campos de concentração durante a segunda guerra mundial. Não é um relato vivido como psicólogo, mas como um prisioneiro. Dentre as poucas vezes que foi convocado a falar como um médico psiquiatra ou psicólogo, foi tomado pela força que não sabia que tinha, renovando também as forças de seus companheiros do campo de concentração. E ele mesmo diz não saber explicar como fez aquilo, porque a psicologia requer certo distanciamento científico. Porém, destaca que outra pessoa que não tenha passado por tal experiência não saberia falar de um sofrimento tão vividamente.

Frankl (1959) diz que entre os companheiros de campo de concentração havia um consenso de que felicidade nenhuma no mundo compensaria tudo que sofreram. Somente a compreensão do verdadeiro sentido da vida para cada um poderia justificar a esperança, a fé e a continuidade da vida fora do campo.

Não lhes restava nada a não ser os sonhos. Sonhos que não passavam de manifestações oníricas; pois ao acordar a realidade voltava a lhes assombrar a alma.

As seleções continham determinantes para viver ou morrer, fazendo com que as mentes humanas começassem a fazer imagens mentais para transcender aquela realidade. Pequenas felicidades negativas eram comemoradas com o mesmo fervor e alegria (o “estar livre do sofrimento”, nos termos do filósofo Arthur Schopenhauer), ocorriam quando na transferência de um campo a outro descobriam que ainda tinham chance de continuar vivendo. Sim, havia esperança! Inclusive, segundo Frankl (1959) somente os prisioneiros que renunciaram ao controle interior de sua conduta moral e espiritual foram os que acabaram vítimas das influências degradantes do campo.

O sentido da resenha

Então, qual o sentido da resenha quando se fala de nossas relações humanas no contexto de hoje?

Enquanto estamos abastecidos não lembramos que a vida tem autos e baixos. Imaginamos que não somos capazes de suportar determinadas situações até nos vermos efetivamente nela!

A percepção de sofrimento é um sentimento universal, a todos acomete de um modo ou de outro (perdas financeiras, violência, morte, divórcio, doença, dificuldades com os filhos…). Há que ter força e coragem para enfrentar, também a sensibilidade para olhar para o sofrimento do outro.

Atualmente temos vivido tempos difíceis; sofrimentos decorrentes de muitas perdas, doença e medo, luto e perdas financeiras (crise econômica), desemprego.

Como enfrentar tudo isso? 

Nosso sistema nervoso está em alerta o tempo todo. A ansiedade e a depressão têm acometido e agravado a saúde mental. 

Não temos escolha senão o enfrentamento. Pensemos que o nosso futuro é o daqui a pouco, e o passado nos diz o que fomos e somos no presente que vivemos.

O criador da Logoterapia

Victor Frankl criou a Logoterapia, também conhecida como Terceira Escola de Psicoterapia, nasceu da experiência de Frankl, que sobreviveu a quatro campos de concentração durante a segunda guerra mundial.

Desse modo, a Terceira Escola de Psicoterapia completou a tríade de pensamento ao lado da Psicanálise de Sigmund Freud e da Psicologia Individual de Alfred Adler.

A Logoterapia orientada para o sentido da vida pode ser compreendida a partir desses três pontos:

Valor de criação  está relacionada à contribuição que damos ao mundo com o nosso trabalho. Ou seja, é quando entendemos que ele é importante.

Valor de vivência  que diz respeito ao que recebemos do mundo, como as práticas diárias de ir ao cinema, estar entre amigos, conviver em família, amar e ser amado.

Valor de atitude  que diz respeito à reação quanto ao sofrimento, culpa e morte. Aqui, é o entendimento de que existem situações que independem da nossa vontade.

Qual sentido da vida para você?

Precisamos de algo, alguém, de um projeto de vida que nos impulsione a querer, desejar e construir!

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Antonia Mota Neta, Graduada em Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília; e, em Psicologia Clínica pelo UNIceub. Pós-graduada em Língua Portuguesa pelo UNIceub, Pós-graduada em Psicopedagogia pela UCDB; Especialista em Terapia Cognitiva Comportamental pela UNIFIA.

Bibliografia

  1. Frankl, Viktor E. (1905-1997). Um psicólogo no campo de concentração / Tradução de Bruno Alexander – Campinas, SP: Editora Auster, 2021.
ANTONIA MOTA NETA
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