Luto por suicídio: o que é, quando acontece, como enfrentar?

Luto por suicídio: o que é, quando acontece, como enfrentar?

Falar sobre suicídio

Uma das formas de prevenir o suicídio é quando falarmos sobre ele, sobre as tentativas de efetivá-lo e sobre as consequências. 

Precisamos estar abertos para o que está acontecendo com o ser humano, com a sua dor e sua forma de elaborar as frustrações. Enquanto o silêncio e a ignorância sobre esse assunto permanecem, os suicídios aumentam dia após dia, porque as pessoas não compartilham a sua dor e por isso não conseguem enxergar novos caminhos. 

Falar sobre suicídio, de uma maneira conscientizadora, não é incentivar a prática, e sim, esclarecê-la. 

Depressão e suicídio

Outro fator importante nesse processo do acesso a tratamentos de saúde precisa ser agilizado, porque uma das doenças que requerem atenção é a depressão. 

Trata-se de uma doença que pode ter consequências graves e precisa ser analisada e tratada. 

Essa doença não é uma apatia passageira que se dissipa sozinha. E para que isso não ocorra é importante desmistificarmos a visita ao psiquiatra e ao psicólogo. Isso não significa dizer que toda depressão acarreta o suicídio mas, sim, que ela pode desencadear pensamentos e comportamentos que precisam ser acompanhados por um profissional.

Deve-se atentar para a importância de se falar sobre os sentimentos, decepções, arrependimentos, incertezas e sobre o sofrimento e angústia. Na nossa cultura, sofrer e pedir ajuda é considerado um ato de fraqueza e isso promove o isolamento e o enclausuramento dentro de nós mesmos! Pedir ajuda e oferecer

Ajudar alguém é simplesmente conviver em sociedade e essa é mais uma questão que fica silenciada. 

A importância de se estar próximo dos filhos

É imprescindível também estar mais próximos dos filhos, orientando-os e prestando atenção aos seus comportamentos e falas. Não gosto de usar a palavra “se”, mas nesse caso não encontro outra. 

Se nós tivéssemos uma cultura de deixar os “ouvidos” e as “portas” abertas para os outros, o compartilhamento do sofrimento aconteceria de forma natural. Estar disponível para o outro, sem constrangimentos e sem julgamento, seria o ideal, assim nos sentiríamos confortáveis para nos expressar sobre dor. Claro que as pessoas são diferentes, sentem de forma única e reagem como conseguem. Mas isso não precisa ser um martírio que deve ser vivido solitariamente.

Quando a realidade se apresenta cruel, o desespero exacerbado e a certeza que não existe mais saída para alguma situação impulsiona a pessoa a uma atitude suicida. Mas é preciso deixar bem claro: ela não é suicida. 

Ela não tem o intuito de acabar com a sua vida; ela tem é a certeza, de que o único caminho para livrar-se do sofrimento, e acabar com aquela dor, é cometer aquele ato. Em um momento de desespero e de muita dor, ela tira a sua vida, porque não existe mais esperança, e com isso ela impacta a vida de diversos indivíduos que estão à sua volta.

Partiu e levou o seu sofrimento, aos sobreviventes enlutados, cabe a dura missão de passar pela dor de perder alguém, vivenciar uma culpa que jura ser sua e o constrangimento de falar sobre a situação. 

Além de injusta e penosa é uma morte estigmatizada. Os sobreviventes necessitam de respeito e compreensão para passarem pelo o seu momento. Não existem culpados, e com certeza, as pessoas próximas fizeram o melhor que podiam naquele momento. 

A¨escolha¨, como única opção encontrada, foi da pessoa que cometeu o ato suicida. E isso também é doloroso demais.

Acolhimento e solidariedade

Nesse momento, o acolhimento e a solidariedade merecem o lugar que ocupam. Ser acolhido e se permitir a isso, nos momentos de luto, em casos de suicídio, é essencial e infelizmente raro, pois não se pode falar sobre o assunto. O enlutado e a sociedade se distanciam e fogem um dos outros, pois estão diante de um tabu. Diante de um fato que não se aceita. Não sabem o que falar e como agir. A discriminação e o não conhecimento aumentam ainda mais a tristeza da família.

Como sofrer e ao mesmo tempo justificar o que aconteceu? O enlutado passa por vários sentimentos ao mesmo tempo: a raiva, a dor, a vergonha, o vazio e a culpa. 

A raiva de si e da pessoa que partiu, pois o questionamento sobre por que praticou esse ato é inevitável, que fica sente abandono, baixa autoestima, passa pela dor da despedida e do vazio que foi deixado e pela cobrança de si mesmo e dos outros.

O luto não tem um período cronológico exato, e nesses casos esse período pode ser muito mais longo. A pessoa não tem condições de retomar a sua vida, os porquês insistem em seus pensamentos e a angústia cresce. E isso pode levar a pessoa há um grau de “stress”, e adoecimento enormes. 

As torturantes perguntas teimam em invadir a sua alma. “Como não percebi?”, “Por que não evitei?”, “Por que ele fez isso comigo?”, “Como viverei sem ele?”, “Eu não fui uma boa mãe ou uma boa esposa”, e por aí vai. 

E na realidade, não existem culpados e nem responsáveis. Quando se percebe que está insuportável passar por esse momento, deve-se atentar aos seus sentimentos e procurar um apoio, uma ajuda, fale, porque é possível, sim, ressignificar a sua vida e continuar a jornada. Não temos uma relação harmoniosa com o luto. 

Um trabalho que é feito atualmente pelos profissionais, como por exemplo, psiquiatras e psicólogos, é o acolhimento desses enlutados, com o intuito de trabalhar com eles esse continuar e assim prevenir sequelas que esse luto não elaborado pode acarretar. 

Quando falo em elaborar um luto, não falo em esquecer o fato ocorrido, pois isso não se esquece, refiro-me sobre lembrar-se da pessoa com saudade e não com dor. Tudo no seu tempo e sem esconder o que se sente. A forma como a pessoa viveu precisa ser mais importante que a forma como ela morreu.

Conclusão

Caso você esteja próximo de alguém que está sofrendo por esse luto, faça-se presente, pergunte, fique perto, dê auxílio, não se omita, porque qualquer pessoa pode ajudar em um momento como esse.

Enfim, se você que está passando por um luto por quem suicidou-se, procure ajuda. Você não precisa passar por isso sozinho.

 

Psicóloga Hérica Fernandes

CRP 04/15636

HERICA CRISTINA FERNANDES
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