A mulher e seu espelho

A mulher e seu espelho

O espelho é o objeto em que vemos nosso reflexo. Todos os dias nos olhamos para ver como estamos, pensamos em como gostaríamos de estar, visualizamos a roupa que queremos vestir e assim por diante.

A imagem corporal tem sua importância para a construção da nossa identidade, ao mesmo tempo, vemos o quanto estamos fragilizados com as expectativas e o que é mostrado para nós como adequado, bonito e socialmente aceito.

E, tudo isso, fica maior quando se nasce mulher, por isso, vemos tantas mulheres com a saúde mental frágil, tentando alcançar padrões que foram impostos, porém nunca satisfeitas com o que veem.

O que é imagem corporal?

A imagem corporal é construída através de crenças, atribuições e expectativas em relação ao próprio corpo.

A partir da aceitação e do julgamento do corpo, o sujeito cria uma forma em sua mente de como ele gostaria de se ver ou como ele gostaria que os outros o vissem e, isso, está diretamente ligado ao estado emocional da pessoa.

Construção social dos padrões estéticos

O corpo possui vários significados, sendo que esses significados são construídos através da cultura e o período histórico em que se vive.

Com isso, há um condicionamento do corpo a padrões estéticos, e, ao longo do tempo, percebe-se um controle do corpo feminino através de estereótipos e ideais bem definidas. 

Por consequência, as mulheres acabam sendo mais influenciadas por esses modelos culturais, no entanto, a magreza extrema nem sempre foi necessária, mas a aparência física sempre foi importante.

Para se ter uma ideia, na época renascentista as mulheres eram valorizadas pelo quadril largo, corpo roliço e abdômen avantajado, pois isso tinha um significado de fertilidade, de força, de estabilidade emocional e de status social.

Por outro lado, a partir do século XX, vê-se uma difusão de campanhas publicitárias mostrando o quanto a obesidade poderia ser prejudicial e a magreza sendo enaltecida, dessa forma, há uma propagação de dietas e maneiras saudáveis de se viver, principalmente do que pode ou não pode comer. E, com isso, a beleza passa a ser algo que a própria pessoa consegue alcançar.

Como as mulheres são influenciadas por tudo isso?

Houve, ao longo das décadas do Século XX, variações do ideal de beleza, às vezes com mais curvas, outras com menos, corpos mais atléticos, até chegar na magreza extrema no fim do século XX.

Recentemente, depara-se com a ideia de que quanto maior o sacrifício, mais se consegue resistir às tentações e mais magra a mulher pode se tornar. Ter esse tipo de força é extremamente valorizado e tudo isso é propagado em vários meios de comunicação.

Revistas para mulheres adultas e adolescentes com manchetes do tipo “Perca 10kg em 1 mês”, ou com alguma dieta para ficar definida e perder a gordurinha localizada. Nas mídias sociais, compartilhar fotos de pessoas que enaltecem o corpo, mostram seus corpos, que parecem perfeitos, tornou-se cada vez mais comum. Na televisão, no geral, vê-se os mesmos padrões, dificilmente há atrizes, cantoras, apresentadoras acima do peso.

As consequências disso são que, as mulheres, naturalmente, sofrem mais pressões para seguirem os padrões estéticos, além disso, estar exposta constantemente a imagens de um modelo corporal específico muda a forma como os corpos são vistos, porque se o que aparece na revista é bonito e magro, por consequência, isso quer dizer que a mulher que consome essas informações é cheinha ou gorda. Com isso, há uma diminuição na autoestima, uma maior insatisfação com o próprio corpo e inadequação no comportamento alimentar.

O feminino, o corpo e a saúde mental

Tendo em vista todo esse panorama atual, as imagens femininas são propagadas com muitos ideais, expectativas e perfeição, o que acaba ficando longe da realidade se considerar a mulher como sujeito.

Há uma divisão exclusiva das mulheres que se encaixam aos padrões e que se são magras, por consequência, são bonitas, se esforçam, são saudáveis e vivem bem. Pelo contrário, mulheres que não se encaixam nesses padrões não se esforçam o suficiente, não se cuidam da forma que deveriam e são preguiçosas.

Contudo, o que se vê são mulheres que não estão acima do peso, querendo emagrecer cada vez mais, já que tem-se a ideia de que quanto mais magra, melhor. E, com isso, sacrifícios são bem-vindos com dietas de jejuns intermináveis, exercícios físicos muito intensos, remédios para a perda de peso e cirurgias para mudar o corpo que têm.

Como resultado do contato de todos esses significados que o corpo tem, há um aumento da preocupação com o corpo, já que se torna algo inalcançável, que a princípio podem provocar um comer transtornado e uma insatisfação com o corpo, além de um sentimento de inadequação e desvalorização, já que a mulher se torna incapaz de ser algo que ela deve ser. Ao longo do tempo, essas preocupações podem se tornar um transtorno alimentar, com consequências mais severas para essa mulher, tanto físicas, como emocionais e sociais.

Transtornos alimentares e corpo

Toda essa preocupação com o corpo pode desencadear diversos prejuízos, pois a restrição alimentar em si é um evento estressor para o corpo. Quando há a proibição de comer algo por não ser saudável, existe uma vontade maior em comer isso, por ser algo que não se pode fazer.

Também esse pensamento está completamente distante das vontades e desejos que os humanos têm e por isso, essa restrição pode desencadear episódios de compulsão alimentar, porque o corpo começa a sentir falta da comida e desencadeia uma fome excessiva.

Dessa forma, caracterizamos o início do processo de comer transtornado, que ainda não é uma doença psiquiátrica, mas que traz prejuízos à saúde.

Os transtornos alimentares são doenças psiquiátricas e os mais conhecidos têm como um dos principais sintomas o medo intenso de engordar, que são a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa. Nesses dois diagnósticos há uma forte ligação com o corpo, pois são pessoas extremamente insatisfeitas com seus próprios corpos, chegando a apresentar distorções na imagem corporal.

Existe também o Transtorno de Compulsão Alimentar, nesse caso, não há uma distorção de imagem, mas há uma insatisfação com a imagem corporal, ao mesmo tempo que há uma dificuldade em parar de comer.

Pensando em todo o panorama feito sobre as preocupações com o corpo, não se pode deixar de dizer que, os transtornos alimentares são mais diagnosticados em mulheres, apesar de estar aumentando no mundo masculino.

O tratamento

Para as pessoas com transtornos alimentares existe tratamento, mas não é um diagnóstico simples, pois são doenças multifatoriais e, portanto, possuem várias causas em conjunto para o desenvolvimento delas. O Tratamento é feito por uma equipe de vários profissionais que são o psiquiatra, o nutricionista, o psicólogo e o fisioterapeuta ou profissional de educação física.

O espelho, ao mesmo tempo que é um aliado, pode ser um inimigo. O corpo ao mesmo tempo que nos faz viver, pode mostrar coisas que precisam ser vistas.

A mulher, com todo o seu papel a ser exercido, se vê encurralada a seguir esses padrões que podem adoecer. É o papel de todos os profissionais de saúde é dar atenção a como essa mulher lida com seu corpo, sua alimentação e sua rotina para que a saúde mental seja preservada e previna os transtornos alimentares.

A sociedade contribui muito para que se perca em seus ideais, por isso, é uma desconstrução difícil, mas libertadora.

 

Referências:

Baeza, F., Lourenço, B.(2019)  A Ditadura da Beleza e suas Consequências no Discurso Nutricional in: Nutrição e Transtornos Alimentares: da prevenção ao tratamento. Orgs Alvarenga, M.S., Dunker, K.L.L., Philippi, S.T.

Thrum, B. E. (2012) Perfil da Percepção Corporal e a Insatisfação Corporal em Mulheres com Transtornos Alimentares – uma proposta de intervenção corporal, Dissertação do Programa de Doutorado em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu, São Paulo.

Hay, P. (2020) Current Approach to Eating disorders: a clinical update, International Medicine Journal.

Isabela Salles Martins
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