Novembro Azul: Como a psicologia pode quebrar esse tabu?

Novembro Azul: Como a psicologia pode quebrar esse tabu?

Na primeira parte da nossa discussão, você já ficou sabendo quais são os fatores por trás da resistência do homem para buscar um cuidado na saúde. Agora, vamos falar sobre como a psicologia pode ajudar a quebrar esse tabu.

Como podemos mudar?

É o que você vai descobrir agora, e ainda vai receber algumas dicas práticas! 

O trabalho na terapia

Quebrar esse tabu é difícil. O psicólogo trabalha contra uma vida inteira que diz que: se você se sente de determinada forma, é porque você é assim e que isso é errado. 

É importante lembrar que muitas vezes os homens não buscam ajuda porque não estão acostumados a isso, nunca tiveram este espaço livre de fala e de escuta. 

O psicólogo Aristeu Júnior, com quem conversamos para a primeira parte deste texto, nos contou que procura sempre provocar uma reflexão em seus pacientes sobre suas ações, o quanto elas são autoritárias e acabam limitando e aprisionando o outro. Ele busca fazê-los refletir também sobre o quanto isso impacta não só a vida do paciente, mas das pessoas ao seu redor. 

Já na abordagem analítica, o psicólogo Jeferson Pereira entende que os sonhos dos pacientes são uma forma de comunicação com o inconsciente, que muitas vezes pode mostrar o caminho que é ignorado. “É como um quebra-cabeça”, explica, “e na terapia o paciente entende o significado. A partir da compreensão, ele pode ressignificar e dar uma nova perspectiva [para a sua vida]”. 

Por isso, é preciso confiar no terapeuta e que o processo gerará mudanças. 

Ações para quebrar o tabu

Ok, até aqui fizemos bastante reflexões, mas quais ações podem ser tomadas de forma prática para quebrar esse tabu? É o que nossos psicólogos vão te contar agora:

Às vezes o básico é a melhor opção

Aristeu é bem objetivo na resposta: “a melhor ação que podemos ter é conversar”. Parece algo muito básico, mas ele complementa dizendo que, em geral, não fazemos nem o básico. “É preciso falar para compreender que foram criados homens machucados que ferem outras pessoas, para se defender”.

Jeferson também pontua a importância da fala para a quebra de paradigmas, mas é mais enfático: “você tem que mostrar que é um desserviço esse pensamento, questionar os papéis, fazer provocações filosóficas”.

Colocando a cabeça para refletir 

É preciso pensar nas suas ações, nas suas atitudes, separar o que é um pensamento seu e o que é só um cumprimento social.

Essa autocrítica nos faz agir não só na nossa vida, mas na sociedade, porque aí começamos a questionar papéis e a exigir mudanças. 

Com ajuda, chegamos longe 

Um dos pontos mais citados, principalmente por Aristeu, foi o trabalho feito pela juventude e as mídias sociais, que estão abrindo espaço para o debate de temas muito importantes.

Como exemplo, ele cita o tema de movimentos e lutas como o feminismo: “ Se as mulheres não lutassem antes, talvez nós homens não falaríamos sobre isso hoje, porque nossa posição é confortável”.

Este esforço deve ser uma parceria entre a sociedade e os estudiosos, que com seriedade e linguagem fácil e acessível podem ajudar a consolidar ainda mais o ressignificado da masculinidade. 

Tanto Aristeu quanto Jeferson concordam que, por mais que o caminho ainda seja muito longo, aos poucos vamos entendendo que estar em uma situação de mais vulnerabilidade não é um problema, mas um sinal de que somos humanos em construção, que está trabalhando para avançar e se desenvolver. 

O olhar para si mesmo  

Quanto mais o homem não esperar momentos críticos para cuidar da saúde, melhor será.  É preciso cultivar o autocuidado, entender e respeitar os próprios limites, sem negociar o que te faz bem. Não é problema nenhum demonstrar afeto, chorar ou falar que ama.

Jeferson sempre tenta mostrar para o seu paciente que a sensação de tristeza, fraqueza ou confusão são condições. “Esses momentos são transitórios, não é porque se sente fraco ou incompetente que você seja fraco ou incompetente.”

Muitas pessoas não se atentam para esses pontos, por isso questionar-se é tão importante: Como eu estou? Eu preciso buscar ajuda?

O que um homem fala na terapia? 

Ambos os entrevistados disseram ter atendido poucos homens ao longo de sua carreira. Jeferson chegou até a levantar uma estatística: 85% dos seus pacientes são mulheres.

Estes valores refletem uma realidade que infelizmente é ainda muito presente. Mas, se um dos passos para quebrar o tabu é falando, então vamos lá: sobre quais temas os homens mais falam na terapia?

Autoconhecimento 

Para Aristeu, o que mais faz os homens buscarem apoio com o psicólogo é o autoconhecimento: “O homem que cresceu em uma cultura machista não está mais se sentindo encaixado em lugar nenhum, porque [a nossa sociedade] não aceita mais o falso humano [que não sente]”.

A mudança é fundamental e para a abordagem de Aristeu, psicólogo humanista, essa mudança só acontece se tiver um reconhecimento, ou seja, quando a educação não for mais usada para justificar as ações, mas existir esse desejo de mudar. 

Sexualidade 

A sexualidade ainda é um tabu gigantesco. Na terapia, os homens falam muito de uma dificuldade de reconhecer os seus desejos e até mesmo sobre a ausência dele.

Novamente, essa questão gira em torno da concepção social: envolve a procriação, o não cumprimento de um papel social.  

Em sua experiência, Jeferson diz que a maioria dos homens “não admite que sofre, tem que ter um nível de sofrimento muito grande”. Em sua análise, “falta uma reeducação em saúde para a pessoa perceber que não precisa esperar a ferida gangrenar para buscar ajuda”.

Dificuldade de expressão

Outro tema importante é a dificuldade de se expressar, o acúmulo de angústias, medos, incertezas, infelicidade no trabalho e casamento.

Para Jefferson, tudo que não é dito, que é reprimido e ignorado, acaba fermentando em nosso interior. “É como se crescessem fungos e começamos a ter dores físicas, tonturas, gastrites, que não passam mesmo com os medicamentos”, explica. Neste momento, os homens procuram a terapia para arrumar sua casa interior.

Depois que conversamos com os psicólogos, tivemos a certeza de uma coisa: o objetivo do Novembro Azul é o de despertar uma discussão sobre o cuidado, que vai muito além de uma prevenção.

A adesão dessa campanha ainda é muito baixa, mas a psicologia e a medicina vão seguir trabalhando juntas para, cada vez mais, instigar a reflexão. Ela é essencial para que mais homens sejam salvos de doenças, não só do câncer de próstata, mas de doenças cardíacas, diabetes, burnout

Você não tem a obrigação de ser forte e de se doar o tempo todo. Você não está sozinho, você não é uma ilha! Entre em contato com a gente, converse com um dos nossos psicólogos.Estamos aqui e te convidamos para ser que você é, sem julgamentos!

Referências

  1. https://blog.psicologiaviva.com.br/cancer-de-prostata/
  2. https://blog.psicologiaviva.com.br/beneficios-do-autoconhecimento/
  3. https://blog.psicologiaviva.com.br/psicologia-humanista/
  4. https://blog.psicologiaviva.com.br/saude-mental-no-ambiente-corporativo/
  5. https://blog.psicologiaviva.com.br/saude-mental-do-homem/
  6. https://blog.psicologiaviva.com.br/a-importancia-do-simbolico-para-a-psicologia-junguiana/
Psicologia Viva
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