O que não dizer para uma pessoa com diagnósticos de depressão, ansiedade ou demência

O que não dizer para uma pessoa com diagnósticos de depressão, ansiedade ou demência

Você convive com pessoas que estejam passando por algum tipo de diagnóstico sobre a sua saúde mental? Eu me refiro, por exemplo, ao público que possa estar com depressão maior, fobias específicas, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade, estresse pós-traumático, demência, entre outros.

Para as pessoas mais próximas, certamente, em alguns momentos, atritos ocorrerão devido às discussões e dificuldades em lidar com determinadas doenças, que é o caso da depressão e da demência.

A pessoa com algum diagnóstico mental tem seu histórico de frases que machucaram, do mesmo modo que os familiares e amigos também têm.

 

Eu reuni algumas frases que já escutei e decidi proporcionar reflexões para os familiares que convivem com pessoas que possam estar passando por algum tipo de dificuldade emocional ou neurológica. O objetivo do texto é de mexer em algumas poeiras, e deste modo, promover alguma mudança de comportamento/olhar em você e aos que te cercam.

Afinal, quais são as frases que podemos evitar para melhorar o convívio?

#1 “Pense positivo”

Nós vivemos em uma época que pensar positivo com relação aos problemas consta em diversos textos e vídeos.

Sim, pensar positivo é importante para todos nós, no entanto, quando esta frase ocorre repetidamente todas as vezes que o outro tenta expor suas dificuldades e seus sintomas esta frase pode fazer com que o afastamento ocorra. 

Ela pode pensar: “como eu vou pensar positivo neste momento de sofrimento? As minhas dificuldades podem ser irracionais para muitos, e até mesmo ser sem sentido para mim, mas eu não consigo pensar positivo. Eu estou me sentindo só, e ninguém tenta me entender.” 

#2 “Pare de falar essas coisas absurdas, não pense assim”

Esta frase, em uma discussão, por exemplo, pode repreender a pessoa. Esta frase pode potencializar a sua dificuldade em se expor. Provavelmente, o leitor está com o celular em mãos enquanto lê o texto ou está sentado de frente para a tela do computador.

O tom dela, agora, pode soar como algo não tão pesado, já que você está em silêncio e possivelmente calmo. Mas acredite: durante uma discussão, ela fere. É como se você virasse as costas e fechasse a porta com muita força.  

 

O receptor desta mensagem pode se questionar, mesmo que internamente, com pensamentos como: “como não pensar nestas coisas? É a minha opinião, eu sinto tudo isso todo o dia. É uma opinião honesta do que eu estou sentindo. ”

#3 “Por que você está com depressão, ansiedade, fobia?”

Dependendo do contexto, esta pergunta, atravessada, pode causar desconforto, principalmente se a pessoa ainda estiver lidando com determinado diagnóstico.

Caso ela ainda esteja tentando entender o diagnóstico, você pode receber uma resposta atravessada. Pense em uma coisa: todos ao redor dele ou dela estão fazendo esta pergunta sem parar. Pense como deve ser desconfortável ter que responder algo que ainda não se entende. 

É possível que você faça esta pergunta sim, mas que seja com cuidado, e não por curiosidade apenas, compreende?

Ela pode estar com sensações de insegurança, inferioridade, mal consigo mesma e com medo de não se sentir mais adequada a certos ambientes, como o seu trabalho, por exemplo. 

Caso você queira fazer parte deste processo, diga que você estará por perto quando precisar. Se, de alguma maneira, você já souber o diagnóstico, busque informações sobre. Existem tantos vídeos e tantos textos que podem ajudar. Seja parceiro(a) mas não pergunte apenas para silenciar a sua curiosidade.

 

#4 “Seja uma pessoa grata pelo que você tem! Existem tantas pessoas sofrendo, passando fome! Você tem uma casa para morar, comida para comer!”

 

Essa frase soa como se o outro fosse um ser mimado e pode fazer com que o outro fique mais frustrado, sentindo-se mais ainda incompreendido, e chore mais ainda, sendo que desta vez, isolado. 

Reflita: gratidão não tem a ver diretamente com ansiedade, depressão ou até mesmo a fobia. 

 

#5 “Você não pensa em ninguém além de si mesmo.”

Esta frase é usada por muitos familiares que convivem com uma pessoa com depressão. Dependendo do “nível” em que estiver, é possível que a pessoa passe a se desinteressar por tudo, ao ponto de não querer sair da cama, e muito menos tomar um banho.

Pode parecer, às vezes, que a pessoa com depressão esteja preocupado somente com a sua própria vida, ou, sendo mais específica, com seus próprios pensamentos.

Sugerir ou afirmar que uma pessoa com depressão não se importe com outras pessoas não oferece conforto e apenas alimenta sentimentos de culpa, vergonha e culpa. No final do texto vou oferecer a você um exemplo sobre a depressão e outras doenças mais comuns, tudo bem? 

#6 “O que há de errado com você?”

Dependendo do contexto da conversa e da relação que vocês tiverem, esta pergunta pode incomodar bastante. Quem estiver com o diagnóstico (ou ainda não tê-lo, mas estiver em sofrimento), pode receber uma avalanche de perguntas em sua mente. 

“Eu gostaria de saber o que há de errado comigo, você pode me dizer o que há de errado comigo? Não gosto de estar assim, por que eu estou assim? Eu me sinto sem esperança porque não entendo os motivos. Não estou conseguindo saber lidar comigo, eu estou irritado e zangado comigo por estar assim.”

#7 “Isso é tudo coisa da sua cabeça”

Quem passa por uma dificuldade, já se sente sozinho porque praticamente ninguém o entende. Esta afirmação pode deixar o outro desapontado por não conseguir ser “igual e normal” aos outros da família. 

Você já parou para pensar nas suas reações ou emoções que por diversas vezes não tem sentido? Não vou me aprofundar nisso, mas lembre-se: quando alguém está passando por questões mentais, saiba que os pensamentos sem sentido podem fazer parte de uma defesa. É inconsciente.

Portanto, não tente debater ou convencer do contrário. 

Apenas sente-se por perto e diga: “vamos chorar, chutar qualquer coisa ou o que for”. Talvez seja tudo o que eles estejam precisando. Deixe a conversa para um especialista médico, e mais uma dica: tente estar presente nesses encontros para que você aprenda e compreenda melhor sobre os sintomas. 

 

#8 “Tente com mais vontade melhorar.”

Fazer com que alguém se esforce mais ainda quando ela já está se esforçando é desencorajador.

Eu vou dar um exemplo para que possa ficar um pouco mais claro para você: a depressão é uma doença multifatorial, e uma vez que a pessoa a possua, não se trata apenas de “se convencer”.

Vamos a um exemplo mais comum para ficar mais claro. Certamente você já ouviu falar sobre diabetes ou o hipotireoidismo, correto? Se sim, vou compará-las com a depressão para que assim possamos nos sensibilizar um pouco mais sobre ela. 

A pessoa torna-se diabética porque o corpo não está mais produzindo substâncias químicas suficientes para funcionar adequadamente, correto? Essa pessoa não pode querer que seu corpo produza mais insulina, do mesmo modo que uma pessoa com depressão, que está com baixos níveis de neurotransmissores não pode simplesmente querer que eles criem suas sinapses de maneira mais eficaz.

Portanto, do mesmo modo que pessoas com diabetes podem precisar de tratamento com insulina, as pessoas que sofrem de depressão precisam de intervenção e apoio médico.

Para algumas pessoas, isso pode significar tomar medicamentos que tratam de desequilíbrios químicos que podem contribuir para a condição. Em específico, com a depressão, pedir para que ele se anime ou sorria mais pode parecer amigável e solidário, mas reduzem demais os sentimentos de tristeza associados à depressão.

Assim como alguém que está deprimido não pode forçar seu cérebro a produzir mais serotonina, ele não pode simplesmente “decidir” ser feliz (embora haja certamente benefícios em praticar o pensamento positivo, meditação entre outras coisas).

O que fazer para melhorar o relacionamento com uma pessoa que esteja em sofrimento?

Cada história é uma história, e responder esta pergunta com propriedade é difícil, inclusive para mim, mas eu posso recomendar duas coisas.

  1. Ao invés de afirmar suas verdades, faça perguntas como: o que eu posso fazer para te ajudar? Permita que o outro te ensine o caminho. Talvez, naquela circunstância, ele não saiba te responder, mas dê tempo ao tempo, e com espaço e paciência, vocês, juntos, consigam criar possibilidades para um convívio mais saudável.
  2. Se possível, tente se educar sobre os sintomas, e converse mais com outras pessoas que possuam o mesmo tipo de diagnóstico, mas lembrando-se sempre: cada doença possui sua definição exata mas o sofrimento de cada um é único, ou seja, todos nós possuímos nossas experiências de vida, todos temos nossas certezas, todos nós vemos o mundo de maneira peculiar. O sofrimento é a mesma coisa. 

Bom convívio a todos!

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