A exploração do corpo da mulher
A sociedade em que vivemos cultua e tenta sempre definir os padrões de beleza. Por conta disso, o corpo da mulher está sempre sendo explorado nas mídias sociais, seja nas redes sociais, filmes, séries, novelas, clipes musicais e, claro, nas propagandas.
Explora-se o corpo ao mesmo tempo que o cultua e o define para ser o ideal. Essa triste realidade social afeta a saúde física e mental de milhões de mulheres mundo a fora, que por essa razão tornam-se frustradas por não conseguir alcançar aquele padrão de beleza.
O INCA – Instituto Nacional do Câncer, aponta que os seios são para nossa sociedade uma fonte de varias simbologias dependendo da cultura, sendo fonte de inspiração, desejo e ternura. Mulheres que possuem o diagnóstico positivo de câncer de mama podem vivenciar isso de forma muito mais complexas.
Os prejuízos ao corpo da mulher causado pelo tratamento do câncer
O tratamento do câncer de mama já evoluiu muito, e hoje quando detectado em estágio inicial possui grande chances de cura, mas não sem um penoso tratamento que pode modificar o físico da mulher, mexendo com sua feminilidade e seu autoconceito.
O instituto Oncoguia aponta como alguns dos efeitos colaterais que podem ocorrer durante o tratamento do câncer de mama, sempre lembrando que cada organismo reage de forma diferente a esses tratamentos e que nem todo câncer de mama será tratado com os mesmos recursos, cabendo ao médico decidir isso.
Quimioterapia e a perca de cabelos, cílios e sobrancelhas afetam imediatamente a mulher. É muito raro uma mulher sem cabelos, ou cílios, ou sobrancelhas, que não esteja passando por um tratamento. Cabelos penteados, bem tratados, com um bonito corte são cultuados pela sociedade. E nos moldes dos padrões de beleza, não há mulheres bonitas sem cabelos bonitos, cílios grande e sobrancelhas bem delineadas e cuidadas.
No caso de uma cirurgia que retire a mama por completo ou parte dela, a mulher pode sentir-se mutilada. Um dos símbolos de sua feminilidade lhe foi arrancado para garantir-lhe a saúde e a vida.
Essa mutilação abala a mulher de uma forma tão intensa e profunda que sua autoimagem, sua segurança, sua autoestima ficam completamente desajustados e desequilibrados. A visão que a mulher tem ao fazer uma mastectomia – retirada total da mama, ou uma quadrantectomia – retirada de uma parte da mama, é que lhe arrancaram um pedaço daquilo que a define como mulher.
A mama é vista pela sociedade como a geradora do primeiro alimento, mas não só isso, a sociedade erotizou a mama, de tal forma que muitas mulheres não conseguem sentir-se como uma mulher desejável caso não tenham seios fartos. Por mais que a cirurgia plástica reparadora tenha vindo para amenizar isso, proporcionando uma recriação da mama retirada, ainda assim a mulher pode sentir-se incompleta.
Ao olhar-se no espelho, mesmo tento a mama reconstruída, a mulher pode não se reconhecer, não se aceitar. Isso acontece pois um símbolo de sua feminilidade lhe foi arrancado.
Durante todo o tratamento, a mulher pode sentir-se menos mulher e ter seu autoconceito abalado, à medida que os símbolos da sua feminilidade vão se esvaindo. Os cabelos e os pelos caem, o seio ou parte dele são retirados, o corpo vai se modificando mesmo que temporariamente por causa da medicação e, por conta disso, a mulher pode deixar de se reconhecer.
A importância do tratamento psicológico
O tratamento psicológico auxilia na recuperação dessa autoimagem. No resgate do feminino que vai muito além da mama, do cabelo, do cílio e da sobrancelha. Leva a mulher a pensar no que a faz ser mulher, feminina. Esse resgate da feminilidade devolve a segurança, a autoestima, a autoimagem da mulher que teve a mama retirada total ou parcialmente por causa do câncer de mama.
Esse resgate da feminilidade afeta diretamente as áreas de relacionamento amoroso da mulher, de relacionamentos sociais e familiares, assim como dos relacionamentos profissionais. Mas vai muito além dos relacionamentos. A mulher que passa por um tratamento de câncer de mama e que foi curada, vai precisar estar ativa na sociedade, e para isso precisa sentir-se segura, capaz, produtiva e, acima de tudo, precisará estar bem consigo mesma.
A luta pela vida e pela saúde de quem tem câncer de mama é difícil, mas a mulher não precisa passar por isso sozinha. O apoio psicológico deve lhe ser oferecido, garantindo assim sua saúde emocional e mental.
A SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina alerta que, diante de tantas perdas vivenciadas pela paciente oncológica, é comum que surja a angústia por causa de um perigo que amedronta e que interfere na rotina e nos sentidos das coisas.
O resgate da sua autoimagem e da sua feminilidade irá ocorrer através de um processo de autoconhecimento fundamental para a cura emocional e mental das sequelas que o câncer de mama pode deixar em você.
Larissa de Nogueira Braga
Psicóloga clínica
CRP:09/142337
Referências Bibliográficas:
A SPDM – Associação Paulista Para o Desenvolvimento da Medicina – https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2454-saiba-como-a-psicologia-pode-ajudar-no-tratamento-do-cancer
O INCA – Instituto Nacional do Câncer – https://www.inca.gov.br/exposicoes/mulher-e-o-cancer-de-mama-no-brasil
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