Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade: O papel do psicopedagogo, psicólogo, escola e família

Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade: O papel do psicopedagogo, psicólogo, escola e família

O Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade é considerado um problema crescente na atualidade. Professores, psicólogos, psicopedagogos e pais de alunos enfrentam muitas dificuldades relacionadas ao modo como o aluno com TDAH realiza uma tarefa, como se comporta em família e no social.

Estes profissionais buscam compreender e intervir de modo positivo na aprendizagem do aluno. Para êxito no processo, esse caminho deve ser traçado considerando limites, tolerância a frustrações de ambas as partes, uma vez que as dificuldades podem levar a desistências por qualquer das partes. 

O alento aos pais

Os profissionais especializados trazem alento aos pais no sentido de ajudá-los a estabelecer regras, sistematizar treinos, exercícios, orientações para acompanhar a rotina acadêmica.

O psicopedagogo está apto a identificar as causas e então sugerir formas de intervenção ao professor e demais atores (pais). A posição desse profissional é de empatia com o aluno, pais e professores.

O psicólogo está apto a identificar estágios do desenvolvimento do aluno, capacidades e habilidades cognitivas, nível de inteligência, interação social e potencial de motivação.

Os professores são os escultores da moldura da aprendizagem, eles possuem a competência e as ferramentas para inserção desse aluno no contexto da aprendizagem e interação social.

À família cabe orientação sobre regras, o suporte emocional, o modelo, a intermediação com a escola, ajudando-os a fazer a leitura do mundo.

Sobre o apender e ensinar

Sobre o aprender e ensinar, surgem alguns questionamentos:

  • Qual a visão do professor (escola) sobre o TDAH?
  • O planejamento educacional contempla as peculiaridades desse aluno?
  • A escola promove integração, acolhimento família/escola/aluno?

Entende-se, portanto, que o déficit de atenção configura-se como um transtorno quando apresenta um conjunto de características e sintomas que afetam a vida da pessoa expressando-se no comportamento disfuncional em mais de um ambiente onde ele atua.

As características e sintomas

E quais são essas características e sintomas?

Um “padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento”. (DSM V, 2014 – p. 59). Os sintomas incluem a:

  • Desatenção,
  • Inquietação,
  • Agitação motora,
  • Ansiedade,
  • Falta de concentração,
  • Aspectos psicológicos envolvendo problemas em ordenar diversos estímulos focando em apenas um ponto, inicia diversas tarefas, mas tem dificuldade de escolher uma e empreendê-la até o final.

As causas são multifatoriais:

  • Hereditariedade substancial,
  • Ter parentes biológicos em primeiro grau com o transtorno,
  • Problemas na gravidez ou parto,
  • Correlação com tabagismo na gestação,
  • Exposição a determinadas substâncias (neurotoxinas, chumbo),
  • Infecções (encefalite),
  • Exposição ao álcool,
  • Deficiências auditivas,
  • Anormalidades metabólicas,
  • Transtorno do sono,
  • Deficiências nutricionais devem ser consideradas influências possíveis sobre o sintoma do TDAH. (DSM – V 2014, p. 62)

Selecionar, resumir, focar e processar!

O entrave encontra-se nas funções executivas que consiste na capacidade de selecionar o objetivo,  planejar/sequenciamento, iniciativa – execução e noção de tempo. Por isso, deve-se trabalhar os aspectos motivacionais que levem à prática de exercícios que aumentem as funções executivas objetivadas na escolha da tarefa. 

Selecionar estímulos significa dizer que a escolha da tarefa deve ser feita com orientação para evitar desistências no meio do caminho.

Esse transtorno compromete o desempenho acadêmico, profissional e/ou atividades sociais que fazem parte do contexto de desenvolvimento da pessoa dele portadora.

Segundo Fernandez (1990, p. 108) “A aprendizagem é um processo que intervêm a inteligência, o corpo, o desejo, o organismo, articulados em um determinado equilíbrio”. Não é falta de inteligência, falta de vontade ou preguiça!  

Ser portador do TDAH, não implica falta de inteligência. É possível que pessoas com o transtorno tenham um QI acima da média, e, portanto, usam estratégias compensatórias, podendo assim concluir etapas de algumas tarefas ou do currículo obrigatório de ensino, concluir faculdade, careira profissional, etc., mesmo que haja um esforço maior que outras pessoas. (Mota, Antonia, 2019).

Professores e pais relatam que as crianças não aprendem na escola, mas são muito bons desenvolvedores em mídias sociais, jogos eletrônicos, games e outros. Há que se considerar que nesses ambientes a interação está sob controle de alguns estímulos, ou poucos estímulos; normalmente o ambiente de interação é mais tranquilo, sem muitos sons. Por isso esse aluno tem direito, mediante relatório médico, de realizar provas em ambiente separado e tempo maior para realização das mesmas.

A aprendizagem é uma interação com o objeto de estudo e com pessoas. Precisamos ajudá-los nessa interação. Lembrando também que nem todos os sintomas acometem a todos igualmente. Aspectos comportamentais e sociais, bem como o controle de algumas variáveis podem ajudá-los a se organizar.

Exemplo: controle de estímulos externos como a arrumação do quarto, lugar adequado para estudar, organização de roupas, livros e objetos pessoais; e até mesmo o controle na alimentação e atividade física trazem equilíbrio para eles.

Fernadez, 1990, p. 32, diz que a aprendizagem é relacional, e se alguém adoece, não é só o aluno que adoece. É necessário considerar todo o corpo envolvido no desenvolvimento e aprendizagem do Aluno. Alguns pais e professores costumam se sentir aliviados quando o filho recebe um diagnóstico. Provavelmente porque não viam resultados em seus esforços para ensiná-los. Ao saber que o filho ou aluno é portador de uma necessidade especial o pai, ou profissional pode adaptar o modo como ensina.

Como adaptar esse aluno dando-lhe suporte?

  • O aluno necessita de horário específico para rever o conteúdo estudado na escola, e de orientação dos pais ou psicopedagogo;
  • Manter o material organizado e disponível na hora de estudar;
  • Identificar fortalezas e fraquezas em relação aos conteúdos e procurar treinar o aluno em casa;
  • É ideal que os pais mantenham um bom relacionamento com professores e orientadores escolares para trabalhar em conjunto;
  • Se possível, conversar com os professores para que esse aluno sente na primeira fila, visando evitar distrações;
  • Pedir que o aluno faça anotações numa agenda;
  • Os pais devem ler sobre o assunto, ater-se sobre o diagnóstico e problemas que ele acarreta;
  • Tanto na escola, quanto em casa deve-se trabalhar a autonomia desse aluno, ensiná-lo sobre o seu diagnóstico e como vencer as dificuldades;
  • Educar é um ato de amor, deve-se ouvir o aluno, saber como ele pensa, podendo traçar um mapa de atuação a partir desse conhecimento;
  • Oportunizar conversas, pedir que ele fale sobre o que viu na escola, ou observações que faça de um passeio, uma viagem, um livro que leu, etc.
  • Considerar os pontos onde ele evoluiu, ser realista nessa avaliação para apontar possíveis caminhos e tomada de decisão, lembrando aos pais que a criança não deve decidir por ela mesma, é necessário ter controle e direcionamento;
  • É importante não sobrecarregar o aluno com muitas atividades ao mesmo tempo (inglês, francês, judô, etc.), organizar o tempo de modo que haja tempo para brincar, descansar, todo esforço intelectual pode ser muito dispendioso para ele necessitando de pausas;
  • Se a tarefa for muito densa, estabelecer pausas para não perder o rendimento e concentração.
  • A prática de atividade física, meditação, yoga, pode ajudar muito nos resultados.

Concluindo

Enfim, acompanhar e estimular o desempenho do aluno com TDAH leva tempo e um gasto de energia de quem o acompanha. Assim, entende-se que escola e família precisam se colocar no lugar do aprender e ensinar para estarem dispostos a ouvir a figura mais importante no processo, que é o aluno.

Lembrando sempre que ensinar é uma forma de amar!

Por: Antonia Mota Neta

Especialista em psicologia cognitivo comportamental

ANTONIA MOTA NETA
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