Padrões e repetições: por que pareço fazer sempre as mesmas escolhas?

Padrões e repetições: por que pareço fazer sempre as mesmas escolhas?

A repetição no relacionamento

Você já deve ter percebido que em determinadas épocas da vida nós parecemos atrair um mesmo tipo de relacionamento. Digo relacionamento e não pessoas, pois a complexidade humana não permite que se defina uma pessoa por apenas um aspecto ou característica. Além disso, uma mesma pessoa pode ter comportamentos muito diferentes em relacionamentos diversos, com pessoas também diversas.

O que existem são relacionamentos, trocas, compartilhamento. E em algumas fases da vida, parece que tendemos a nos relacionar de uma mesma forma e a “escolher” um mesmo tipo de relacionamento, seja ele amoroso, familiar, social.

Sabe aquela pessoa que está sempre com o mesmo tipo de namorado? Você, com certeza, deve conhecer alguém que termina um relacionamento por um determinado motivo e, pouco tempo depois, se envolve em um outro relacionamento que, no início, pode até parecer diferente, mas acaba muito parecido ou totalmente igual ao relacionamento anterior, com os mesmos problemas, discussões, brigas e até mesmo agressões recorrentes.

Os motivos que levam à repetição

Quais serão os motivos dessas repetições? Será uma escolha? Será consciente ou inconsciente?

Segundo a Terapia Familiar Sistêmica, esse comportamento pode corresponder a um padrão que tem se repetido por gerações na família daquela pessoa. Ou pode ser que, em algum momento da formação e desenvolvimento de sua personalidade, a pessoa em questão tenha ouvido ou aprendido de alguma figura importante — muitas vezes materna ou paterna — que não merece mais do que aquele tipo de relacionamento, ou que esse tipo é o único possível.

Claro que tudo isso ocorre de forma inconsciente, ou seja, nem a pessoa e nem sua família percebem que a repetição tem raízes tão profundas.

Para exemplificar, pode ser que você conheça, ou que até mesmo viva, um relacionamento em que há violência física. Pode ser que você até seja o marido que agride esposa e filhos de forma recorrente. Em terapia, por vezes, descobrimos que, assim como o paciente, seus pais e seus avós passavam pelo mesmo problema.

São gerações e gerações com histórico de agressão de maridos, submissão de esposas e de crianças amedrontadas que, por crescerem em meio a este cenário, aprenderam que essa era a única forma de se relacionar. E aí que se forma o padrão.

Para a Terapia Familiar Sistêmica, como o nome sugere, as famílias são vistas como um sistema, quase como um organismo, que precisa se alimentar para continuar existindo, porém, nem sempre, as relações e comportamentos que alimentam esse organismo são funcionais, saudáveis. Temos por disfuncionais todos estes padrões que trazem sofrimento e doença para os laços familiares.

O padrão traz uma sensação de afogamento: quando você chega a superfície, vem uma onda e te empurra para baixo de novo, e de novo, e infinitas vezes.

 

Usando de metáfora, podemos imaginar que estamos em alto mar, à deriva, nos afogando em águas profundas. Quando você consegue chegar à superfície e recuperar o fôlego, uma outra onda te empurra de volta para baixo, para o fundo mais escuro do oceano.

E novamente você alcança a superfície, toma fôlego, e outra onda te empurra para o fundo outra vez. E isso vai acontecendo, indefinidamente. Diante deste padrão, você tem duas opções: ou continua tentando subir à superfície — o que claramente não está funcionando, daí a palavra disfuncional —, ou tenta encontrar uma nova forma de se comportar, aprende a nadar.   

Trazendo para o âmbito individual, estes padrões podem, também, acontecer em outros campos da vida, como por exemplo pessoas que não conseguem permanecer por muito tempo em um só emprego, estudantes que mudam de cursos diversas vezes na faculdade, quase sempre em áreas muito distintas umas das outras.

A impressão que dá é de que a pessoa está perdida, procurando algo que não está em lugar algum. Este comportamento também pode ser um padrão familiar, passado de geração a geração, ou pode ser o reflexo de pressões familiares sobre qual profissão se espera que aquele estudante escolha.

As possibilidades e os porquês são muitos, quase inumeráveis. Estes são só alguns exemplos do que pode ocorrer, mas cada sistema tem a sua história e seu contexto, e cada indivíduo terá os seus motivos para repetir padrões inconscientes.

Cabe ao cliente e ao terapeuta, descobrirem juntos quais são os motivos, os rituais familiares, os mitos, os papéis que cada um desempenha no seio familiar, para tornar-se consciente das crenças que sustentam as disfunções e, a partir daí, criar novas formas de se relacionar, recriando um sistema saudável e relações mais funcionais.

Desta forma, questionamos as “velhas tradições engessadas” que trouxemos de nossos bisavôs, de tempos até mesmo inimagináveis, que repetimos sem perceber e que já não servem mais aos propósitos da vida moderna.

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