Poliamor: você sabe como funciona esse novo movimento social?

Poliamor: você sabe como funciona esse novo movimento social?

Falar sobre amor e suas inúmeras formas de expressão é fascinante. Ahhh… o amor, ahhh… o poliamor.

Não é para tanto, falar sobre Poliamor não é confortável, não gera suspiros, e pode até parecer uma utopia. As novas formas de amar moldam novas formas de relacionamentos, novas organizações familiares que impactam em nosso modo de ver o mundo e viver em sociedade, e nos levam rumo a relações mais inclusivas.

Os laços monogâmicos de sangue e parentesco, se atam e desatam à medida que as pessoas se divorciam, casam de novo, se divorciam outra vez, moram juntas, adotam crianças, usam doadores e barrigas de aluguel e misturam famílias.

Segundo Perel, em todas as sociedades, em todos os continentes e em todas as épocas, independentemente das punições e dos impedimentos, homens e mulheres escaparam dos limites do matrimônio. Em quase todos os lugares onde as pessoas se casam, a monogamia é a norma oficial e a infidelidade é a clandestina. Portanto, como devemos entender esse tabu consagrado pelo tempo — globalmente proibido, mas universalmente praticado?

Monogamia, Poligamia e Poliandria

A monogamia, na tentativa de viver um amor exclusivo e para toda a vida, falha em 60 a 70% das vezes. Vamos quebrar um paradigma logo de início, nossa sociedade ocidental não é monogâmica no sentido restrito deste conceito.

Ser monogâmico é ter um único parceiro amoroso por toda a vida, o mundo ideal da Cinderela, o primeiro e único amor. Já o modelo que a maioria de nós adota hoje é de monogamia consensual e serial. Ou seja, escolhemos nosso parceiro por amor, de forma livre e recíproca, e somente teremos um novo parceiro quando este vínculo se desfizer por morte ou por separação.

Então, ter mais de um parceiro simultaneamente é poligamia? Definitivamente não. Vamos entender melhor. A poligamia é estabelecida como um sistema social em que nem todos os indivíduos têm os mesmos direitos, porque favorece um gênero. Assim temos a poligamia, em que um homem se casa com várias mulheres, e a poliandria, em que uma mulher se casa com vários homens. Estes sistemas não aparecem juntos na mesma sociedade: os dois são geralmente exclusivos e envolvem uma relação dominante/gênero dominado. 

Ser um casal não é uma tendência natural, mas cultural, formatado em suas garantias legais e padrões religiosos. A forma binária do amor é um produto da sociedade que nós desenvolvemos por meio de crenças, valores e regras. Por isso precisamos questionar o porquê se privilegiou a monogamia em detrimento de outras formas possíveis, elevando-a à categoria de “norma inquestionável”. 

Regina Navarro Lins, psicanalista e escritora, em “O livro do amor” volumes 1 e 2, nos leva a uma longa viagem no tempo e revela-nos como as noções ocidentais sobre o amor, o desejo, a sexualidade e o casamento se alteraram da Pré-História até o século XVII. Distrações ou aflições para os gregos da Antiguidade Clássica, questões repudiadas pelos primeiros cristãos, assuntos do demônio e temas idealizados pelos trovadores na Idade Média, sujeitos a intensa repressão durante a Renascença; as reações de cada época às práticas amorosas deixam marcas profundas ainda em nossos dias. #ficaadica para você explorar mais este assunto.

Era uma vez uma princesa que amava todos os príncipes do reino…

O neologismo Poliamor foi utilizado por Morning Glory Zell-Ravenheart, e citado pela primeira vez em seu ensaio “Um Buquê de Amantes”, publicado em maio de 1990. A palavra Poliamor é uma combinação de grego e latim que significa “muitos amores”. Zell-Ravenheart o definiu como um modelo não-monogâmico consensual, ético e responsável, e é assim que consideraremos aqui.

Agora, precisamos alinhar mais dois conceitos: não-monogamia e relacionamento aberto.

A não-monogamia é um arco-íris de possibilidades, é qualquer estrutura de relações que não seja definida por exclusividade amorosa e sexual a um único parceiro, assim o poliamor e o relacionamento aberto estão incluídos neste espectro. Isso é tão diverso quanto é a pluralidade sexual.

Os relacionamentos abertos, às vezes chamados de amor livre, são caracterizados pela liberdade que é dada aos membros do casal para iniciar e manter relacionamentos com outras pessoas de modo individual e privativo. É praticado como uma oportunidade de ter relações sexuais fora do relacionamento, uma forma tolerante de relações extraconjugais que preservam a dimensão amorosa e sexual com o parceiro tido como principal.

No poliamor são vivenciadas múltiplas relações que podem ser de curto ou longo prazo, profundamente íntimo ou mais casual, sexual ou não sexual, com uma grande variedade de formatos e entrelaçamento de vidas.

Alguns poliamoristas são fiéis aos seus parceiros e consideram a fidelidade como um valor superior à liberdade. Assim falamos de polifidelidade. Esta é uma importante diferença em comparação ao relacionamento aberto, porque os vários relacionamentos simultâneos são exclusivos, há uma ética e transparência entre todos os envolvidos. A polifidelidade ocorre quando um grupo fechado de mais de dois poliamoristas se relacionam entre si e não buscam relações amorosas ou sexuais fora do grupo.

E o que fazemos com o ciúme?

Neste momento você deve estar pensando: como fica o ciúme nesta história toda? O ciúme pode realmente ser a maior dificuldade emocional e comportamental da não-monogamia. Esta é uma emoção pouco estudada, mas a maioria dos pesquisadores concorda que em um nível cognitivo-comportamental, o ciúme amoroso ou sexual é uma reação a uma experiência real ou imaginária de seu parceiro com um terceiro, e que o ciúme é mais provável de ocorrer em uma pessoa que é ao mesmo tempo dependente, insegura e com baixa autoestima.

O poliamoroso não está imune a este sentimento, mas para lidar com isso terá que renunciar à possessividade e desenvolver sua autoestima, assim poderá amenizá-lo. De acordo com Thalmann, a transmutação total do ciúme é possível (mesmo que seja rara), é chamada de Compersão.

O sentimento de alegria e emoção que você sente quando uma pessoa que ama vive momentos de felicidade ou de prazer com outra pessoa é uma forma de empatia refinada, em que se pode compartilhar a felicidade do ente querido além de toda aspiração egoísta. Sustenta-se no amor incondicional e desinteressado. Não é por acaso que esta nova palavra nasceu no coração da comunidade poliamorosa, porque no contexto da exclusividade amorosa, a atração que nosso parceiro pode sentir por qualquer outra pessoa tem todas as possibilidades de levar ao engano, à traição e à separação. É muito difícil se alegrar nessas condições.

As dificuldades de se assumir poliamorista (família, religião e trabalho)

Temos visto um avanço muito grande contra a LGBTQIfobia, e muitas pessoas conquistando o respeito e seu espaço na família, no ambiente religioso e de trabalho. Já para os poliamoristas não é bem assim, é preciso construir esse espaço.

Ser poliamorista carrega um estigma de promiscuidade, imoralidade, pecaminosidade, psicopatologia, vício em sexo, descompromisso e de ser “fácil” e irresponsável, e que é ainda mais pesado para as mulheres. Por isso, pessoas que se assumem publicamente como poliamoristas são rejeitadas no emprego, no ambiente religioso e podem comprometer direitos como a custódia de seus filhos.

Os amigos mais próximos podem se afastar por sentirem-se ameaçados por sua mente aberta e autoconfiança, considerando que o poliamoroso pode ser uma má influência para os relacionamentos e familiares.

O papel da psicologia

Ao nos afastarmos das normas culturais da monogamia e do casamento tradicional, o mais importante é deixar os pensamentos fluírem e refletir sem ideias pré-concebidas, sem juízo de valor.

Você pode se permitir fazer perguntas difíceis sobre o que você realmente quer da sua vida amorosa e sexual e como você quer vivê-las. Você pode descobrir seus desejos mais profundos, entender suas motivações e como trilhar o caminho para o autodesenvolvimento e realização pessoal na dimensão afetiva e sexual. Contudo, não ignore que o caminho da infidelidade é perverso e destrói vidas.

O autoconhecimento na dimensão da sexualidade talvez seja o mais desafiante em nossa vida. Requer verdade e honestidade a respeito de si mesmo, transparência acerca dos seus mais íntimos sentimentos, pensamentos, vulnerabilidades, medos, desejos e segredos.

A psicologia pode facilitar este encontro consigo mesmo. Procure entender os pensamentos e reações que moldam seus relacionamentos. Esteja ciente de pensamentos e sentimentos, positivos ou negativos, que surgem como consequência ao que você está lendo, o que te atrai e o que te assusta. Despertou curiosidades e inquietações?

Talvez você se surpreenda consigo mesmo(a) e possa ficar ainda mais surpreso(a) ao ver que seus pensamentos e sentimentos mudam ao longo do tempo. As respostas não estão prontas, e certamente, com ajuda profissional você encontrará apoio para iniciar esta viagem e se encantar com novos pontos de vista, sozinho ou com seu/sua(s) parceiro/parceira(s).

Como disse no início este assunto é fascinante, e ainda tem muito a ser dito. Em outro momento abordarei o tema da liberdade, do perfil do poliamorista, histórias de sucesso e não-sucesso na vivência do poliamor, formatos e práticas, mitos e arquétipos, ética poliamorista e principalmente: as alegrias e dores de permitir-se viver o poliamor.

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