Sempre que ouvimos falar em psicopatas, nossa primeira reação é pensar em assassinos em série e crimes brutais. Não nos ocorre que pode haver um deles logo ali, na escrivaninha ao lado. Não exatamente um serial killer, mas o que os psicólogos comportamentais chamam de psicopatas corporativos.
Segundo estimativas, cerca de 1% da população mundial desenvolve algum tipo de psicopatia. No mercado de trabalho, cerca de 10% das pessoas são psicopatas. Desse total, 16% deles atuam em cargos de chefia nas empresas.
Isso não quer dizer que todas essas pessoas sejam potenciais assassinos. São indivíduos que agem segundo seus interesses, não se detendo diante de obstáculos e, assim, podendo facilmente prejudicar (e até machucar) seus colegas de trabalho.
Considerando que o psicopata no trabalho costuma ser um elemento nocivo à equipe, convém saber como identificá-lo. Portanto, continue a leitura e fique de olho!
“Meu chefe é um carrasco”
Quantas vezes você já ouviu a expressão acima? De fato, muita gente padece de um chefe terrível, do tipo que humilha os funcionários, desdenha dos seus esforços e ofusca seus méritos. Ele assedia ou persegue os subordinados, sem se importar em causar sofrimento.
Se o seu chefe é assim, talvez você esteja lidando com um psicopata corporativo. Ou, então, quem causa problemas é o colega de trabalho. Ele faz tudo para subir na empresa: manipula os demais, mente, se apropria do trabalho alheio e até mesmo frauda resultados.
Todas essas atitudes apontam para um perfil psicótico. De acordo com especialistas, a psicose é um transtorno de personalidade caracterizado principalmente pela falta de empatia. Ele não consegue se colocar no lugar do outro e, por isso, não se importa com o sentimento de quem o cerca. Se causar mal a alguém, o sujeito não sente remorso.
Psicopatas também costumam ser manipuladores. Eles são bons em enrolar os colegas e não hesitam em trair sua confiança sempre que isso lhes convém. Além disso, mentem compulsivamente. Sobretudo, são incorrigíveis: mesmo quando surpreendidos em suas armações, voltam a enganar na primeira oportunidade.
“Acho que vi um psicopata”
Nem sempre o comportamento abusivo do psicopata profissional é passado adiante. Muitas vezes, ele chega a uma nova organização bem recomendado, pois nem tudo o que faz incomoda seus superiores.
Portanto, se você identificou em um colega ou no chefe os traços distintivos de um psicopata corporativo, a melhor atitude a tomar é procurar ajuda especializada. No entanto, o aconselhamento de um psicólogo não deve ser procurado com o objetivo de ajudar você a determinar o perfil de pessoas com psicopatia. Afinal, essa análise cabe somente a um profissional de saúde mental, com sólido conhecimento na área.
O acompanhamento de um especialista, nesse caso, é importante para que você aprenda a conviver com essas pessoas e direcionar o seu próprio comportamento para se proteger de possíveis condutas nocivas.
“Meu malvado favorito”
Em 2012, um psicólogo da Universidade de Cambridge, Kevin Dutton, realizou um estudo que apontou o ambiente corporativo como um refúgio propício para psicopatas. Eles são especialmente bem-vindos em cargos de alta chefia.
A razão disso é que psicopatas são competidores agressivos e extremamente focados em seus objetivos, características muito apreciadas no mundo das grandes corporações.
Além disso, aponta Dutton, eles são frios, objetivos e bastante persuasivos. É por isso que também se dão bem em determinadas carreiras, como advocacia, vendas e até jornalismo. A partir dos dados colhidos, o psicólogo elaborou um ranking das profissões mais e menos sujeitas a atrair os psicopatas profissionais.
Liderando a lista está o cargo de CEO, o diretor executivo de empresas. Na sequência, temos o advogado, profissional de mídia (TV ou rádio), vendedor, cirurgião e jornalista. Policial, membro do clero, chef de cozinha e funcionário público fecham as “dez mais”.
Por outro lado, você terá menos chances de se deparar com psicopatas trabalhando como cuidadores de idosos, enfermeiros, terapeutas, artesãos e esteticistas. Eles também são pouco encontrados atuando em instituições de caridade, como professores, artistas, médicos ou contadores.
“Seven: os sete pecados do psicopata”
Existem algumas características singulares que fazem parte do perfil de uma pessoa com psicopatia ou sociopatia. Mas tenha cuidado antes de diagnosticar um colega de trabalho por apresentar um ou outro desses traços de personalidade, ou você pode cometer um erro de interpretação e de julgamento.
Algumas das características mais comuns são:
1. Facilidade de envolver as pessoas
Eles são envolventes e sedutores, têm facilidade para se aproximar das pessoas e exercer influência. Assim, conseguem firmar novas parcerias, enquanto lhes for conveniente. E, da mesma forma repentina com que se aproximam, eles também podem se afastar.
2. Controle emocional
O psicopata pode aparentar ser seguro de si, controlado, confiante e extrovertido. Tem habilidade para direcionar o comportamento das outras pessoas e até interferir nas emoções dos mais suscetíveis.
3. Hábito de mentir
Pensamentos articulados e capacidade para criar boas mentiras com rapidez é uma das espertezas do psicopata. Ele se sente confortável com as histórias que conta e, mesmo que seja “pego na mentira”, consegue redesenhar toda sua narrativa de uma forma bem convincente, levando o interlocutor a acreditar novamente em seu relato.
4. Narcisismo
As ações de um psicopata podem esconder um propósito governado por seus interesses particulares, já que é comum para esse perfil colocar-se sempre em primeiro lugar. Ele quer estar no controle da situação e, por isso, pode agir de maneira calculista para alcançar os resultados que deseja.
5. Pouca empatia
Uma das características mais relatadas sobre o perfil do psicopata é a ausência de empatia. Culpa, remorso ou vergonha não são sentimentos que costumam incomodá-lo. Mas é possível que ele demonstre emoções para criar identificação com as outras pessoas.
6. Lealdade duvidosa
Lealdade também não é uma das qualidades principais dos psicopatas, já que eles são propensos a violar a confiança alheia em benefício próprio, mas de forma bem articulada, sem colocar sua credibilidade em risco.
7. Noção de responsabilidade alterada
Por fim, o psicopata nem sempre é capaz de assumir a responsabilidade por seus atos. Na verdade, sua mente não permite que ele enxergue o erro em suas intenções. Sua visão de mundo é desenhada com formas diferentes.
“O perigo — nem sempre — mora ao lado”
É importantíssimo ressaltar que não devemos nos basear nesses indicativos para distribuir análises gratuitas e “identificar” psicopatas ao nosso redor. Somente um especialista pode avaliar cada caso minuciosamente e chegar a um diagnóstico preciso.
Também devemos nos lembrar de que nem sempre alguém com esse perfil representa riscos ao convívio social. Algumas pessoas podem demonstrar características semelhantes às que foram mencionadas, mas sem prejudicar ninguém.
Pessoas com nível leve de psicopatia dificilmente fazem mal aos outros. Esses casos podem ser acompanhados por psicólogos, que vão ajudar a recondicionar os pensamentos distorcidos e os comportamentos inadequados.
A orientação psicológica busca flexibilizar os padrões cognitivos e comportamentais do psicopata e, assim, levá-lo à compreensão de que os efeitos de suas atitudes podem refletir negativamente, tanto na vida dos outros quanto em sua própria vida.
Contudo, casos de psicopatia em níveis mais graves requerem mais atenção, porque a dificuldade de formar vínculos, encontrada nesse perfil, pode prejudicar os resultados do tratamento.
Como você pôde ver, um psicopata pode conviver muito bem em qualquer lugar, inclusive no ambiente de trabalho. E não há motivos para se preocupar ou começar a analisar as pessoas ao seu redor. Principalmente porque, em boa parte das situações, o erro está na nossa interpretação. Por isso, a orientação psicológica é indicada para todos.
E então, conseguiu entender um pouco mais sobre os psicopatas no ambiente de trabalho? Deixe o seu comentário aqui no post e divida sua opinião e suas experiências conosco!
Referências:
de Souza Abrantes, Diego Saimon. “A Inteligência Emocional: Prevenção de psicopatologias do trabalho.” Revista Arquivos Científicos (IMMES) 3.1 (2020): 189-197.
Fiorese, Lucimara, and Mariangela Martinez. “Influência da cultura e clima organizacional na qualidade de vida no trabalho: revisão da literatura.” Revista Destaques Acadêmicos 8.1 (2016).
Friedman, Ron. Como ser feliz no meu trabalho: A neurociência explica o que fazer para transformar o seu ambiente de trabalho rumo à autorrealização. nVersos, 2019
Macedo, Fernando Luis, and Lethicia Aparecida Masnini. “PSICOPATIA E SOCIOPATIA: UMA REVISÃO DA LITERATURA.” Revista InterCiência-IMES Catanduva 1.3 (2019): 52-52.
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