
Raiva em tempos de isolamento social
O isolamento social tem deixado você com raiva? Tem sentido raiva e não sabe explicar a razão? Já parou para pensar se o que você sente é raiva mesmo ou outra emoção?
Então, para te ajudar a diferenciar a raiva de outros sentimentos vamos conversar um pouco sobre a raiva neste texto. Mas, antes de mais nada é preciso compreender que ela é uma emoção como tantas outras que sentimos.
O que são as emoções?
As emoções são reações do nosso cérebro a estímulos internos ou externos. As emoções nos proporcionam sensações e sentimentos. Elas podem até resultar em alguma alteração neurobiológica, e isso implica em reações como taquicardia, rubor facial, suor, sorriso, choro, e etc. Logo, sentir faz parte da nossa natureza e nos ajuda no processo de adaptação ao ambiente no qual estamos inseridos.
Emoções emergem de forma rápida e automática em nós, e cada uma delas se manifestam de forma diferente. A raiva pode ser percebida por meio da postura corporal, da nossa expressão facial que costuma se manifestar com tensão nos lábios e pálpebras, mudamos o arquear da nossa sobrancelha ao franzir a testa, há mudança na entonação que damos à nossa voz, que geralmente fica mais elevada e com um ritmo maior para as palavras.
Mas principalmente a raiva e as emoções de modo geral são capazes de influenciar o nosso comportamento.
A raiva
A raiva é uma emoções básicas, chamado assim por alguns estudiosos, que se manifestam em decorrência de uma frustração, de uma oposição ou quando é posto um obstáculo para algo que se queria fazer. Ela também pode ser provocada por um pensamento, um impulso, ou até pelo modo que nós interpretamos a fala de alguém, um gesto, uma mensagem enviada por meio de um aplicativo de mensagens ou uma conversa nas redes sociais.
Sentir raiva não é errado, a preocupação deve estar focada na explosão desta emoção. Por isso, é necessário conhecer as emoções que sentimos, compreender as manifestações dessa emoção em nosso corpo e ficar atento(a) às consequências das ações realizadas enquanto sentimos determinada emoção. Pois a raiva, quando não conseguimos controlá-la, pode acarretar prejuízos para quem sente e para quem está próximo, bem como para seu meio social de modo geral.
Além disso, sentir ou demonstrar a raiva pode gerar em nós outras emoções como:
- Culpa,
- Vergonha,
- Remorso,
- Tristeza.
Pesquisas indicam que a raiva pode ser um fator de risco para a saúde física, emocional e orgânica. Podendo abrir portas para quadros de ansiedade, depressão, bem como para doenças coronarianas, assim como pode acarretar em problemas interpessoais graves como violência intrafamiliar, divórcio, baixo rendimento no trabalho e até demissão.
Vale ainda ressaltar que, alguns pesquisadores sobre o tema consideram raiva como mecanismo de proteção contra uma suposta perda de poder, seja ele real ou imaginário. E para lidar com esta emoção ou com a explosão dela é necessário ampliar o repertório de enfrentamento de problemas.
O que se precisa observar nos episódios em que minha raiva se manifesta?
Para compreender a manifestação da sua raiva é importante observar:
- A intensidade com que ocorre;
- A frequência com que ocorre;
- O modo como você a expressa;
- Os prejuízos que acarretam;
- Se a raiva se manifesta para dentro ou para fora;
- Ou se a raiva vem acompanhada de cinismo.
Existem situações e pessoas que podem provocar essa emoção, mas o baixo limite à frustração em nós também pode ser a abertura para a explosão da raiva. Mas, o fato é que administrar a manifestação dessa emoção pode ser algo muito custoso para se fazer sozinho.
Como o processo terapêutico pode me ajudar?
Na abordagem que desenvolvo meu trabalho, a terapia cognitivo-comportamental, acredita-se que quanto mais informação uma pessoa tem sobre o que ela sente e como isso se processa, mais ela terá recursos e condições para lidar e administrar as situações do seu cotidiano.
Esta é uma abordagem colaborativa e psicoeducativa, logo, o cliente é uma pessoa ativa em seu processo terapêutico e o psicólogo(a) deverá oferecer o máximo de conteúdo sobre o tema.
Na realização da psicoeducação devemos sempre considerar aquilo que o cliente já sabe e acrescentar informações pertinentes e com embasamento teórico e científico, de forma clara e objetiva, utilizando estratégias e recursos para o enfrentamento das situações.
A psicoeducação pode ser realizada com o apoio de textos, com o uso de tecnologias como aplicativos, ou com o uso de filmes ou vídeos que discutam a temática e atividades realizadas nas sessões, para que ao longo do processo o cliente seja capaz de:
- Compreender e reconhecer a raiva que sente;
- Pacificar a excitabilidade que antecede a explosão;
- Ressignificar os pensamentos que antecedem a raiva ou a explosão dela;
- Lidar com o estresse sentido nos episódios e após eles;
- Identificar os pensamentos que tem enquanto sente a raiva;
- Distrair os pensamentos que fortalecem a raiva;
- Questionar a validade e necessidade de sentir a raiva.
O processo terapêutico não ocorre em um “passe de mágica”; logo, é preciso compreender que para chegar ao desenvolvimento de um repertório adequado de estratégias para lidar com uma explosão de raiva é necessário aprender com o(a) psicólogo(a):
- Treinamento de respiração;
- Treinamento de relaxamento;
- O manejo do estresse;
- O treino de habilidades sociais;
- Reestruturação dos pensamentos disfuncionais;
- Resolução de problemas;
- Treino do controle da raiva;
- Treino do uso de ações responsáveis com o foco em solucionar os problemas.
Nesse sentido, o processo terapêutico pode favorecer o conhecimento de si e das emoções, o entendimento da manifestação da raiva, a aceitação da mesma e principalmente nas formas de lidar com essa emoção e suas consequências, visando sempre à promoção de saúde e qualidade de vida.
Por onde começar?
Agora que você compreendeu um pouco mais sobre a raiva. Precisa entender que o primeiro passo a ser dado é reconhecer que você precisa de ajuda ou que alguém próximo a você precisa.
O segundo passo é buscar essa ajuda com um profissional qualificado e habilitado para lhe ajudar.
Fontes consultadas:
BECK, J. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed. 1997.
LIPP, M. E. N. Stress e o turbilhão da raiva. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
RANGÉ, B. P (Orgs.) Psicoeducação em terapia cognitivo-comportamental. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.
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