Relações fabricadas

Relações fabricadas

Ansiedade das relações fabricadas

Além do bem e do mal, do bom ou ruim, as relações em seu mundo atual dizem muito a respeito de você consigo mesmo. Pensa no esforço que você faz para se adequar a padrões sociais, para se encaixar em grupos e pertencer a bolhas. O quanto se modifica para ser aceito em uma religião, manter um emprego e até para alguém gostar de você.

Os processos de crescimento, amadurecimento e conquistas da vida podem ser muitas vezes, conflitantes, e assim te cobrarem emocionalmente e psiquicamente:

“Se precisa crescer tem que se podar; se precisa amadurecer tem que aprender a cair; se precisa conquistar tem que competir”.

De certa forma nossas relações são gerenciadas por crenças, redes sociais, televisão e poder (financeiro). Permanece, nesse contexto, a impressão de que precisa estar mais próximo de um “eu idealizado”, perfeito, ou satisfatório, mesmo que isso custe se distanciar de si mesmo. Assim, o tempo irá dizer: o quanto te custou manter as amizades; as relações amorosas, seu emprego e até o quanto (muitas vezes) te custou fazer parte de uma família. 

Conexão ruim

Chega um ponto em que a comunicação interna começa a falhar, permitindo interpretações em detrimento da comunicação real. O que você exprime não corresponde com o que pensa e se esforçar para defender um ponto de vista poderá custar não enxergar tudo mais ao seu redor. 

Sabe quando uma coisa não bate com a outra? Se diz coisas que não sente, tem sentimentos que não correspondem com o que diz, e as atitudes ficam sujeitas aos impulsos!

Isso significa estar em um estado de incongruência. Pessoas em situação de ansiedade experienciam essa sensação de desconexão de si mesmo. Sentem esse paradoxo muitas vezes carregado de angústia e despersonalização. A necessidade de pertencimento foi violada, o “eu” já nem pode se reconhecer, pois, desaprova-se como era, ao mesmo tempo, tem muita incerteza de como será.

De um modo ou de outro, todos seres humanos, em algum momento da vida, sentiram ansiedade advinda da incongruência. Com mais ou menos intensidade, sempre tem um momento na vida que o confronto nas relações e o peso dos acontecimentos serão capazes de transformar as emoções internas. Isso implica em como você se vê e se valoriza, da forma como se avalia e em como gostaria de ser.

Desequilíbrio no autoconceito gera ansiedade. O sofrimento ainda pode se tornar mais amargo com o reconhecimento de que muitas das dores foram auto escolhidas. O quanto precisou desvalorizar-se, despersonalizar-se para se encaixar e manter suas relações pode estar te custando dessa forma.

Afastar-se para chegar mais próximo

“Como um foguete que precisa se desvincular de suas partes para ir mais longe, assim será você se afastando da ansiedade.”

Para ir mais profundo dentro de si, você precisa de autoconhecimento. Isso significa desapegar-se de muita coisa que te mantém na superficialidade. Também significa bater de frente com seu sofrimento emocional, com a sua solidão, o sentimento de não pertencimento e a indiferença social. 

É verdade que esse caminho pode gerar mais desconforto, porém, pode proporcionar, do mesmo modo, possibilidades de crescimento e amadurecimento. Ousar ir mais longe é sempre mais custoso, mas pode ser o preço que se paga para diminuir a distância que separa você de seu eu autêntico. 

Em momentos de sofrimento emocional você pode compreender-se melhor e entender seu chamado natural a resolver seus problemas, autorregular-se e encontrar seu modo de ser-no-mundo.

Desvestido de relações fabricadas, poderá sorver o remédio da autenticidade, da consideração por si, da paciência com suas limitações conhecidas e até das mais recônditas, que pela dor, passou a conhecer.

Você se tornou um poço de carências

A situação em que se encontra reflete suas sensações, os sintomas e sinais estão tanto no corpo, quanto na mente. Porém, as emoções refletidas no corpo suscitam mais compaixão: o choro, o aspecto físico do ser adoecido, os sinais na pele, as expressões de sofrimento. A compaixão pela dor física tem maior correspondência, seja da própria pessoa como dos outros em relação a ela.

“Por outro lado, o sofrimento mental é muito mais incorrespondido. Em relação à dor física, a dor mental encontra menos compaixão. “

A dor física de um modo geral se manifesta mais rapidamente, podendo até mesmo ser premeditada. A própria pessoa sente, pela manhã, que poderá pegar uma gripe por causa dos espirros, mal-estar, temperatura corporal atípica. Desse modo, procura uma forma de enfrentamento do mal que está por vir, indo a um médico ou se automedicando. Muitas vezes a dor física se resolve rapidamente e nesse processo, pode atrair envolvimento e compaixão de outras pessoas.

Diversamente, o sofrimento mental pode ser inserido de forma mais alongada e silenciosa, levando muito tempo para se estabelecer e se manifestar. Geralmente, sabemos que alguém está sofrendo mentalmente porque ouvimos sua declaração: “eu tenho; eu estou.” Ou porque seu comportamento, com o tempo, se tornou estranho e seu rendimento foi se tornando debilitado.

As pessoas que sofrem mentalmente, embora não apresentem sinais no corpo como de doenças conhecidas, podem ter seu desempenho pessoal comprometido. Torna-se difícil para ela, ser pai, ser mãe, ser amigo, trabalhar, conviver com os outros. Infelizmente, por conta disso, a pessoa com sofrimento mental/emocional carrega muitas vezes, rótulos e preconceitos injustificáveis. 

Pelo fato de ser uma dificuldade pessoal, complexa, difícil de resolver e que dura muito tempo, pode causar incômodos sociais e familiares. Passando assim a impressão de culpabilidade, de falta de crença, fraqueza espiritual e até castigo divino. Muitas pessoas, por seu sofrimento emocional/mental, são estigmatizadas e afastadas do cuidado e da atenção dos outros.

Em tudo o amor

O amor tanto age em seu crescimento, quanto ele te poda. Tanto te eleva quanto te remete ao chão, até suas raízes. O amor independe de conquistas, desse modo, se desejar apenas um mar de flores, jamais aprenderá a sair da lama. Se exigir mudanças externas para conseguir vencer, jamais encontrará prosperidade.

Abordamos aqui a pessoa em estado de incongruência advinda de suas relações desfavoráveis. A pessoa que, no sofrimento emocional, na ansiedade, desenvolve autopercepção tem possibilidade em aprender com seus próprios erros. Nesse aspecto, errar é uma forma de abertura e no modo de sofrer, há um chamado involuntário para o conhecer-se.

Ao contrário, sendo mais como os outros, não precisaríamos assumir o que somos, distanciando-se da responsabilidade por nós mesmos. Mas o tempo corrói as máscaras, as poeiras se acumulam. A autoimagem se distorce e fica difícil andar, naturalmente. 

Não adentramos na questão da doença mental, mas abordamos o sofrimento mental/emocional, como ansiedade e despersonalização. Entendendo a ansiedade como uma dor abrangente, que atinge milhões de pessoas sem ser classificada como pandemia. 

O fenômeno da ansiedade é muito estudado, classificado e citado em todas formas de comunicação, no entanto, sem o “ser”, nada existe. O modo de ser-no-mundo abarca tudo, e não pode conter em si apenas sofrimento ou prazer. Não apenas somos, mas existimos, não apenas estamos, pois nos movemos, enquanto a força da gravidade nos mantém no chão e enquanto a força de nossa empatia nos mantém humanos.

Ismael Alves da Silva é Psicólogo Humanista (172739 – CRP – 6º Região)

Formado em Psicologia, pela (UMC) Universidade de Mogi das Cruzes, pós Graduado em Psicologia Humanista – Abordagem Centrada na Pessoa, também é Artista Plástico. Já trabalhou em órgãos públicos e instituições.  Esteve na Itália e França, atendendo pessoas e grupos em Centros Comunitários. Tem um interesse particular, pelo Fenômeno da Criatividade como possibilidade de crescimento e autorrealização. 

Referências

  1. Tornar-se pessoa; Carl Rogers; Editora WMF Fontes – São Paulo, 2016.
  2. Terapia centrada no paciente; Carl Rogers; Editora WMF Fontes – São Paulo, 1992.
  3. O Profeta; Khalil Gibran; Editora Martin Claret – São Paulo, 2004.
  4. A Emoção como Experiência Humana: A Perspectiva do
  5. Psicoterapeuta; Marco Paulino; Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, Vol. 11 • N. º1, junho 2013 -Lisboa. Disponível em: www.psilogos.com.

 

Ismael Alves da Silva
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