Saia do armário e deite no divã

Saia do armário e deite no divã

Acessórios guardados

Antes de nascermos somos direcionados a imposições sociais que ao longo do tempo transformam-se em acessórios que serão armazenados em armários, ou talvez não, mas utilizados com frequência ou abandonados em caixas nas quais jamais teremos contato.

Estes acessórios por diversas vezes são utilizados para mostrar a sociedade o mais belo e glamoroso brilho que atrairá olhares de todas as direções. Neste caso, as pessoas LGBTQI+ podem ser consideradas acessórios sem valor e sem importância, sendo guardadas em armários, anulando seus desejos, vontades, sendo etiquetadas com rótulos desprezíveis e sublinhadas de ódio e julgamento.

Fatos históricos de uma sociedade que traz em suas raízes preconceitos raciais, sociais, culturais, religiosos entre inúmeros outros que caberia ser descrito em outro momento, preconceitos que levam a punição e humilhação do próximo por ele ser diferente e não se encaixar nas normas preestabelecidas socialmente, chegando ao ponto de rebaixar outro ser humano apenas para se vangloriar, sentir-se superior e correto na manifestação de suas crenças.

Pessoas LGBTQI+ sofrem todos os dias e são obrigados a se refugiar buscando proteção em locais que a sociedade aponta como imoral, afastando-se socialmente para seguir a vida que muitos apontam como errada, gerando sentimentos e dores que dificilmente serão amenizados ou curados, a dor de não ser bom o suficiente neste mundo, dor da solidão sem a menor possibilidade de ter alguém para segurar sua mão e dizer: “Vá em frente, você não é o que as pessoas pensam”.

Em todos os momentos um LGBTQI+ é julgado e evidenciado como abominável, fora do comum e estranho, e consequentemente sendo condenado à morte pelo simples fato de não cumprir com as regras impostas ao grupo social.

Ser moralmente imoral

Devemos seguir o “normal”, porem, o que seria o normal perante a sociedade? Vivemos diante de um conflito eterno de encaixe de padrões, sofremos pela falta de algo inalcançável, todos os momentos somos direcionados a seguir imposições, regras e aos poucos adoecemos quando não atingimos os padrões ditos “corretos”.

Em diversos momentos surge o medo de pedir ajuda e não ser acolhido, a insegurança se instaura dentro do individuo e o aprisiona novamente em um armário escuro e sombrio, impedindo-o de seguir seus caminhos sem medo do que possa acontecer. 

 

Por anos, pessoas LGBTQI+ foram apontadas, julgadas, humilhadas e excluídas socialmente, causando desconfiança e inseguranças ao se relacionar com as clínicas de psicologia que contém, infelizmente, em seu histórico, a famosa cura gay, que atualmente tem apresentado diversas polêmicas e discussões nas redes sociais.

Esses erros, os quais a sociedade julga que os LGBTQI+ cometem, podem trazer consequências graves de autoestima, depressão, pensamentos e tentativas suicidas, apenas por não se encaixarem na normatização do que seria ideal para a construção da família.

A moral, por diversas vezes se dá pelo controle e manipulação, os bons costumes são a chave que fecha esse armário, proibindo sentimentos e emoções guardados e que jamais tiveram a possibilidade de serem expressos socialmente.

Essa chave se torna responsável por abrir outra porta chamada “margem”. Pessoas LGBTQI+ vivem à margem da sociedade, adaptando suas vidas em casas noturnas, becos escuros, locais criados para acolher o que deve ser escondido a luz do dia.

Por conta do preconceito, dificilmente o mercado de trabalho está aberto para contratar essas pessoas, e por isso elas entram no mundo da prostituição, o que é para cerca de 90% dos casos o único meio de sustento. 

O passado na atualidade

 

Visando a patologização desses indivíduos que em diversos momentos históricos foram tratados com eletrochoques, medicamentos e várias propostas com o intuito de redesignar o individuo à heterossexualidade, sem compreender este como humano, e portanto possuidor de uma subjetividade.

Nos dias atuais, ainda nos deparamos com situações de promessas de cura para algo que está longe de ser uma doença. De fato, deveríamos tratar a homofobia, que é a grande geradora de prejuízos graves e causadores de traumas.

Segundo a Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 1/99 – para a Psicologia, a sexualidade faz parte da identidade do sujeito e, por isso, práticas homossexuais não constituem doença, distúrbio ou perversão.”.

Diante deste fato, como profissionais da saúde devemos acolher, escutar e auxiliar o individuo em relação aos seus questionamentos e dificuldades em lidar com diversos conteúdos que estão lhe trazendo prejuízos.

Na clinica devemos receber o “individuo”, compreendendo seu histórico, sem acrescentar rótulos, permitindo a liberdade deste de expressar e ampliar seus pensamentos diante da queixa que venha a ser apresentada. Desta maneira, devemos conduzir o paciente a compreender suas ideias construídas por anos dentro de um armário que possibilitou momentos de anulação e confusão de sentimentos. 

Deitado no divã

Ao deitar no divã o individuo estará livre, e seus pensamentos podem fluir sobre suas vivências. É importante que o sujeito compreenda que aquele local não irá trazer respostas prontas, mas haverá, sim, um processo de construção junto ao sujeito na busca do apreço em suas diferenças, e que ele não será direcionado a seguir uma normalidade que de forma errônea é taxada culturalmente como sempre existindo o normal e anormal.

Sair do armário e deitar no divã significa olhar para si sem medo diante de seus temores e culpas, enxergando que existem qualidades que um dia foram esquecidas dentro de um armário.

Estes acessórios sempre terão o seu valor, e no divã esses valores serão lapidados através do acolhimento, escuta e compreensão da subjetividade de cada pessoa. O divã não deve em nenhuma circunstância apresentar prejulgamentos e crenças vindas do analista, como profissionais estamos à disposição de disponibilizar a escuta e o acolhimento de maneira íntegra e ética, visando o bem-estar de cada individuo que ali estiver presente.

Cada pessoa tem seu valor. Viver à margem causa consequências sociais, feridas em suas histórias, em seus sonhos, falta de esperanças e principalmente a oportunidade da vida, vida esta que se anula por muitos anos, ao se sentir vulnerável, julgado, descriminado ou qualquer que seja o sentimento.

Você não deve carregar esta carga sozinho, procure um profissional apto ou redes de apoio, vise o seu bem-estar superando conteúdos que não tiveram a oportunidade de serem expressos e compreendidos corretamente. 

 

 

Referências Bibliográficas:

Toledo G. Lívia – Psicóloga Doutora (2013) e Mestre (2008) em Psicologia Social pela Universidade Estadual Paulista.  Pinafi Tânia  – Psicóloga pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2008) e mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2011). Artigo: A clínica psicológica e o público LGBT.

Gonçalves O Alexandre – Universidade Estadual de Campinas – SP – Brasil. Artigo: Religião, política e direitos sexuais: controvérsias públicas em torno da “cura gay”.

EDUARDO DA SILVA GUEIROS
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