O Ministério da Saúde lançou um documento sobre a Política Nacional de Saúde Integral de LGBT (2013), relacionando a discriminação por orientação sexual e por identidade de gênero com o processo de sofrimento e adoecimento decorrente do preconceito e do estigma social.
Esse estigma é determinante de uma desigualdade social onde alguns grupos sociais são desvalorizados e outros valorizados de forma discriminatória, “vinculando o estigma às características culturais e aos sistemas de poder, definindo grupos e/ou indivíduos que passam a ser socialmente excluídos” (PARKER, 2012).
No Brasil, temos vivido um período de instabilidade política e social, onde algumas conquistas da população LGBT+ vêm sendo ameaçadas pela onda de conservadorismo, o que contribui muito para o aumento de vivências de sofrimento, transtornos de ansiedade e depressão e, até mesmo, risco de suicídio.
Estresse de minorias
Entendemos como minorias o grupo que, quando comparado a um outro grupo, apresenta uma série de prejuízos em decorrência do estigma que lhe é associado. São os estresses advindos de uma vida inteira de não-aceitação, rejeição, discriminação, estigma e violência.
Há diferença entre estressores cotidianos e estressores específicos. Os cotidianos não dependem de uma posição de vulnerabilidade social, são todo evento que afeta o organismo, mas que não está relacionado à sua condição de minoria. Já os estressores específicos do grupo que estamos abordando aqui, pessoas LGBT+, estão relacionados à dificuldades de lidar com a própria sexualidade (podendo levar à homofobia internalizada), ao desenvolvimento de expectativas de rejeição e à ocultação da orientação sexual (Meyer, 2003).
O estresse crônico de fingir ser algo que não se é, conflitos familiares e toda a homotransfobia afetam e podem dificultar que a pessoa se sinta confortável com o seu existir. Isso contribui para a maior vulnerabilidade em relação à saúde física e mental, se comparados com a população cis e heterossexual.
Fatores de proteção
As redes de apoio social e afetivo possibilitam a ressignificação de situações dolorosas e promovem a construção conjunta de soluções e empoderamento de grupos sociais.
São mantidas por laços afetivos – tem a ver com as relações que a pessoa estabelece ao longo da vida. Essas relações podem influenciar de forma significativa o seu desenvolvimento e bem-estar pessoal.
De acordo com The Trevor Project, para um jovem LGBT+, só a existência de um adulto próximo que o aceite e acolha diminui em 40% a chance de uma tentativa de suicídio.
A qualidade da relação familiar também pode ser um fator a contribuir para a saúde mental de pessoas LGBT+, pois a aceitação familiar está relacionada a maiores níveis de autoestima e suporte social, e está negativamente ligada à depressão, abuso de substâncias e ideação suicida.
O apoio da própria comunidade LGBT+ também é essencial para essas pessoas: os sentimentos de proximidade a um grupo estão associados a níveis mais altos de bem-estar e menores prejuízos na saúde mental, pois a pessoa se vê representada e acolhida por outras, tendendo a se reconhecer com mais conforto.
Para além dos suportes externos, também é preciso abordar os fatores de ordem individual, que podem funcionar como fatores de risco ou de proteção: características da identidade de minoria, valência e importância da orientação sexual.
Algumas consequências da exposição à homofobia social e cultural
Você já percebeu que em nossa sociedade a tendência é ver a heterossexualidade como norma para as pessoas em geral, como a forma certa de viver a sexualidade?
Adrienne Rich, a partir dos anos 80, passou a chamar de “heterossexualidade compulsória” essa ideia ou sensação de que ser heterossexual é o “certo”. Desde cedo temos contato com a ideia de que relacionamentos entre homens e mulheres são o destino mais possível e esperado.
Este modo de encarar a sexualidade nega e invisibiliza outras possibilidades e formas de vivê-la, encaixa tudo o que desvia da heterossexualidade como vivência marginalizada, estabelecendo um sistema de violência a todos os LGBT+.
A falta de acolhimento e validação em relação à orientação sexual de uma pessoa pode gerar um não reconhecimento ou negação da própria imagem e forma de ser, que pode acarretar comprometimento na autoestima e qualidade de vida.
Por isso, é muito importante que esse assunto seja cada vez mais destabulizado, que possamos oferecer cada vez mais espaço para escuta e acolhimento. Devemos estar atentos ao sinais de sofrimento intenso nas pessoas que nos rodeiam e procurar ajuda profissional se for preciso!
Referências Bibliográficas:
- MANN, C. G. Saúde Mental da População LGBTQIA+: lutando contra estigmas e preconceitos. CENAT. Disponível em https://blog.cenatcursos.com.br/saude-mental-da-populacao-lgbtqia-lutando-contra-estigmas-e-preconceitos/#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20documento,preconceito%20e%20do%20estigma%20social. Acesso em 15 fev. 2021.
- Petry AR. Meyer, DEE. Transexualidade e heteronormatividade: algumas questões para a pesquisa. Textos &Contextos. 2011 [acesso em 15 fevereiro 2021]; 10 (1):193-198. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/7375/6434
- Parker, R. Intersecções entre estigma, preconceito e Discriminação. In: Monteiro, S. e Vilella, W. (organizadores). 1ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2012.
- PAVELTCHUK, Fernanda de Oliveira; BORSA, Juliane Callegaro. A teoria do estresse de minoria em lésbicas, gays e bissexuais. Rev. SPAGESP, Ribeirão Preto , v. 21, n. 2, p. 41-54, dez. 2020 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702020000200004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 15 fev. 2021.
- RICH, A. Heterossexualidade compulsória e existência lésbica. Bagoas – Estudos gays: gêneros e sexualidades, v. 4, n. 05, 27 nov. 2012. Acesso em 15 fevereiro 2021. Disponível em https://www.cchla.ufrn.br/bagoas/v04n05art01_rich.pdf
- Caminhos para o cuidado em saúde mental de pessoas LGBT+ - 25 de março de 2021