Meu filho é autista, e agora?

Meu filho é autista, e agora?

Ao se deparar com um diagnóstico de autismo as famílias enfrentam momentos delicados e desafiadores. Além de passar pelo luto que acompanha o diagnóstico, muitas famílias precisam se reorganizar para suprir as necessidades de tratamento da criança, existe todo um impacto emocional, psicológico, financeiro e social, onde o/a cuidador(a) principal normalmente é a pessoa mais afetada por todas as mudanças que ocorrem durante essa organização.

A criança real nunca será aquela idealizada. Isso é um fato. Seja uma criança neurotípica, ou não. Porém, nesses casos, é necessário que nós, profissionais da psicologia, tenhamos um pouco mais de atenção. Precisamos cuidar de quem cuida!

Afinal, o que é o autismo?

De acordo com o DSM-IV, o autismo se enquadra nos Transtornos Globais do Desenvolvimento e é caracterizado pelo comprometimento severo em três áreas do desenvolvimento:

  • Habilidades de interação social recíproca,
  • Habilidades de comunicação e presença de comportamentos,
  • Interesses e atividades estereotipadas.

Para que seja possível ser diagnosticado o Transtorno do Espectro Autista – TEA, é essencial que o profissional de saúde se atente para essas três áreas com atenção, uma vez que os sintomas apresentados pela criança podem variar em cada caso. 

Quais os principais sintomas do autismo?

Existem sinais de alerta para o autismo que podem ser percebidos desde os primeiros meses da criança, por exemplo:

  • O bebê ou a criança não reage aos sons; 
  • O bebê ou a criança não emite som nenhum; 
  • O bebê ou a criança não sorri e nem tem expressões faciais; 
  • O bebê ou a criança não gosta de abraços e beijos; 
  • O bebê ou a criança não responde quando é chamada; 
  • O bebê ou a criança não brinca com outras crianças; 
  • O bebê ou a criança tem movimentos repetitivos; 
  • O bebê ou a criança apresenta hipotonia (corpo “molinho”); 
  • O bebê ou a criança apresenta atrasos nas fases de desenvolvimento; 

Desconfio que minha criança é autista, o que fazer?

Caso o seu bebê ou a sua criança apresente alguns desses sinais, é recomendado consultar o pediatra ou um neuropediatra, preferencialmente, para avaliar o problema e identificar se os sintomas são, de fato, autismo, ou qualquer outro transtorno do neurodesenvolvimento.

Também será esse profissional o responsável por indicar o tratamento adequado às necessidades da criança, os mais comuns são:

  • Fisioterapia;
  • Psicomotricidade;
  • Fonoaudiologia;
  • Psicoterapia;
  • Terapia ocupacional;
  • Medicações.

Quando o autismo é identificado precocemente, e tão logo sejam iniciadas as terapias, é possível que a criança consiga melhorar as suas capacidades de comunicação e relacionamento, reduzindo drasticamente o grau de autismo e permitindo que ela tenha uma vida semelhante a outras crianças da sua idade. 

Como as famílias de crianças autistas são impactadas pelo diagnóstico?

As famílias de crianças autistas frequentemente se veem frente ao desafio de ajustar seus planos e expectativas, quanto à criança, quanto ao futuro, quanto às limitações impostas pelo transtorno, além da necessidade de adaptar-se à dedicação intensa e prestação de cuidados das necessidades específicas da criança.

São frequentes os casos em que os principais cuidadores apresentam níveis de estresse exacerbado, depressão, ansiedade, culpa, medo.

Estudos recentes também mostram que em muitos casos ocorrem mudanças no núcleo familiar e social. Aumento nas taxas de divórcio, retorno dos principais cuidadores para a casa dos pais, desemprego. 

Por que é necessário o acompanhamento familiar?

Na minha experiência clínica e em pesquisas acadêmicas, tive a oportunidade de escutar e acompanhar algumas famílias de crianças neurodivergentes. Durante este trabalho pude constatar o quanto ainda é deficitário o atendimento a essas famílias e o quanto existe um silenciamento das suas dores, suas dúvidas e suas inseguranças.

Tão importante quanto o atendimento e a intervenção precoce junto às crianças é a escuta e o cuidado com essas famílias. As incertezas que apresentam quanto ao futuro, a sobrecarga de atividades e tarefas do dia a dia, as mudanças nas estruturas familiares e nas rotinas dos cuidadores, além de aspectos psicológicos, emocionais, financeiros e sociais, que também precisam ser levados em consideração.

Quais os efeitos psicológicos nas famílias de crianças autistas?

Os desafios impostos pelo diagnóstico podem contribuir para que o/a cuidador(a) apresente efeitos psicológicos que costumam se expressar por sintomas como:

  • Ansiedade,
  • Depressão,
  • Pânico,
  • Tensão,
  • Angústia,
  • Insônia,
  • Uso abusivo de substâncias,
  • Preocupação excessiva,
  • Distúrbios alimentares,
  • Etc.

Nesse momento de grande sofrimento, outro efeito comum, apresentado mais no âmbito social, é o afastamento da família e dos amigos, o que gera outro problema: A falta de rede de apoio.

A importância das redes de apoio para famílias de autistas

São distinguidos dois tipos de redes de apoio:

As redes de apoio informais – Geralmente compostas por familiares, amigos, vizinhos, colegas e grupos sociais (igrejas, associações, clubes, etc.) representam um dos primeiros suportes que as famílias de autistas recorrem ao se depararem com o diagnóstico. 

Esse tipo rede de apoio, ou suporte social, é essencial por oferecer recursos para que o indivíduo tenha ajuda emocional, psicológica, física, informativa, instrumental e material.

Lembrem-se que, quase sempre, ao se deparar com um diagnóstico como o autismo, muitas famílias sentem-se desamparadas, confusas, e com muito medo. Se você pode atuar como suporte, busque informações, ofereça apoio.

Caso não saiba como proceder, ofereça seu ombro, seu carinho e parceria. Fará muita diferença!

Já as redes de apoio formal englobam os profissionais:

  • Psicólogos,
  • Médicos,
  • Educadores,
  • Assistentes sociais,
  • Etc.)

Além das instituições: hospitais, escolas, clínicas, programas de intervenção precoce, segurança social, etc., que estão organizadas formalmente para prestar assistência a quem dela necessita.

Qual o papel da psicologia para as famílias de autistas?

Conforme foi dito acima, o psicólogo atua como um dos profissionais da rede de apoio formal, ao qual as famílias de crianças autistas podem recorrer conforme a sua necessidade. 

Além do suporte emocional e psicológico, é importante que esse profissional conheça sobre o assunto e tenha condições para orientar quem procura ajuda, contribuindo para a desmistificação do transtorno e de seus destinos.

A psicoterapia também pode contribuir para o fortalecimento do indivíduo, que por meio da fala, ele terá a oportunidade de trabalhar o seu luto, ressignificar o seu sofrimento, compreender melhor o autismo e ter a capacidade de traçar estratégias para ter mais qualidade de vida, entre outros benefícios.

Espero poder te acompanhar nessa caminhada!

Eliara de Azevedo Gouvêa
CRP 02/19563
psicologiaviva.com.br/eliarapsi

Referências:

  1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder DSM-IV. Draft, 1990.
  2. BELTRAME, Beatriz. Sinais que indicam o autismo dos 0 aos 3 anos. Revista on-line Tua Saúde. Curitiba, 2019. Disponível em: < https://www.tuasaude.com/sinais-de-autismo/>. Acesso em 14 de abril 2021.
  3. BOSA, Cleonice Alves. Autismo: intervenções psicoeducacionais. Rev. Bras. Psiquiatr.,  São Paulo ,  v. 28, supl. 1, p. s47-s53,  May  2006 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462006000500007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  14 de abril 2021.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462006000500007.
  4. PIMENTA, F. As Necessidades e Redes de Apoio de Famílias de Pessoas com Autismo. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2015. Disponível em: < https://run.unl.pt/bitstream/10362/16776/1/Pimenta%20Filipa%20TM%202015.pdf>. Acessado em 14 de abril 2021.
  5. SERRA, DAYSE. Autismo, Família e Inclusão. POLÊM!CA, [S.l.], v. 9, n. 1, p. 40 a 56, mar. 2012. ISSN 1676-0727. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/2693>. Acesso em: 14 abril 2021. doi:https://doi.org/10.12957/polemica.2010.2693.
Eliara de Azevedo Gouvêa
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