Liberdade e escolhas 

Liberdade e escolhas 

Afinal de contas, o que é liberdade? Nossas escolhas são livres? Estas são perguntas que você já deve ter se feito diversas vezes, ou já usou frases do tipo, “eu não tive escolha”, “a culpa não foi minha” e por aí vai. Mas é diante das escolhas ou do simples fato de não escolher que me faço livre, não escolher é também uma escolha, não ter que lidar com a realidade é também uma maneira de lidar mesmo que seja negando-a. 

Segundo Jean-Paul Sartre, filósofo francês do século XX, a liberdade é uma condição humana, ou seja, mesmo diante das contingencias (ocorrências da quais não temos controle) da vida eu exerço minha liberdade de maneira como eu lido com os acontecimentos que vêm a mim.

Eu posso escolher estudar para algo, é provável que me dedicando, possa ser bem colocado, mas isso não garante a aprovação, porém, o êxito não importa a escolha, pois, a liberdade é escolha e nada tem a ver com o fracasso ou sucesso, escolha é movimento, seja qual for é sempre na liberdade. Às vezes, mais reflexiva ou menos, mas sempre livre.

Nossas escolhas são permeadas pela constituição do indivíduo, como esse sujeito veio ao mundo, quais foram suas vivências, que por sua vez formaram sua personalidade. Neste instante, faz-me possível entender a dinâmica psicológica que cada ser humano tem, e aí sim, compreender como ele se articula e como é possível fazer certas escolhas.

Por exemplo, estar em um relacionamento abusivo ou ser abusivo em um relacionamento, pois estes são jeitos de ser e saberes de um sujeito, mesmo que de certa forma seja um saber sem se ver, é um modo de existir e se fazer em essência nas relações através de escolhas.

Essência e existência 

Dentro de uma psicologia existencialista partimos do pressuposto que o ser humano primeiro existe no mundo, quer dizer nasce em uma determinada sociedade, cultura e período histórico, e a partir desses contatos com realidades humanas vai se definindo enquanto ser, vai se elegendo através de negações e aprovações diante do que as vivencias vão lhe trazendo, ou seja, como ele vive na pele cada situação do seu cotidiano, se algo lhe dói, lhe causa alegria ou coloca em situação de sentir-se inferior.

Assim, esses sabores que a vida lhe proporciona vão também formando a personalidade do ser, mas não como uma unidade fixa permanente ou imutável, ou de uma essência primeira que formaria e seria responsável por todo o ser e suas escolhas. 

A partir desse olhar psicológico entendemos o ser humano como surgindo no mundo e aos poucos se constituindo de saberes, de valores, vontades e desejos formando e se elegendo em um modo de existir, e sua essência, algo que é de sua dinâmica mas não como uma identidade fixa e sim como algo ou como um “eu” que pode ser outras coisas e ainda ser ele mesmo.

A essência na psicologia existencialista não é fixa, é movimento, o ser humano é movimento e é isso que permite sua evolução e melhora clínica em um processo psicoterapêutico, pois permite a mudança de meus saberes através de ressignificação de experiencias passadas.

Liberdade e angústia

A liberdade de escolha também nos coloca em um sentimento de angustia. Pois bem, escolher é ter que lidar com a responsabilidade. A escolha nos implica em assumir nossos atos, por isso é mais fácil o “eu não tive culpa”, “eu não tive escolha,” mas isso é uma tentativa inútil de não ter que lidar com a responsabilidade, pois de um jeito ou de outro eu tenho que escolher, escolhas requerem renúncias, por vezes deixar algo é custoso, não é mesmo? A escolha é um tipo de morte para Sartre, não podemos escapar a ela, a escolha por vezes pode ser um fardo.

Essa liberdade de escolha pode colocar-nos em tensão, em divisão, a ponto de ficarmos em círculos viciosos, postergando decisões, sabotando nossa própria vida, pois ao escolher eu tenho que necessariamente lidar com a responsabilidade da minha escolha.

Desta forma, muitas vezes temos um movimento de querer que o outro escolha por nós, jogamos para o universo, jogamos ao acaso, acreditamos que isso nos isenta da responsabilidade, “se não der certo a culpa foi do outro”, mas é ai que tem um porém, o outro não vive a experimentação psicológica que eu vivo! Mesmo escolhendo por mim, sou eu quem vivo esse “sabor amargo” ou “doce” que a vida tem e no final sou eu que tenho que lidar com sentimentos que a falta de clareza e responsabilidade de minhas escolhas podem trazer.

Má fé e autenticidade 

Viver de forma a negar essas escolhas e a fugir das mesmas é para Sartre viver na má fé, ao fazer isso eu me coisifico e me torno de certa forma um objeto. Atualmente na sociedade esta dinâmica se faz muito presente, não é difícil parar para pensar o quanto o discurso de delegar o outro a fazer escolhas por nós e depois culpa-lo pelo fracasso de alguma situação que não ocorreu como queríamos.

Viver na má fé é negar a liberdade é não assumir responsabilidades das nossas escolhas. A vida autentica só pode ser conquistada superando o movimento de má fé, e isso envolve dar sentido às nossas escolhas e às nossas ações. Deixar os argumentos de que somos vítimas do destino, de determinismos ou de forças externas, as quais não teríamos controle.

Como disse Sartre: O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”.

E você, já fez uma avaliação de como andam suas escolhas? Está na má fé ou na autenticidade? Nunca é tarde para assumir o protagonismo da sua vida e viver na autenticidade.

Quer saber mais sobre como andam suas escolhas, como lidar com impasses da vida? Ficou curioso(a), quer entender a situação que você está vivendo? Será um gosto muito grande esclarecer as suas dúvidas e ajudar-lhe nesse processo. Estou à disposição, entre em contato comigo: 

https://blog.psicologiaviva.com.br/psicologos/rogrigopires/

Referência:

Sartre: O ser e o nada.

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