Relações e habilidades sociais: O impacto emocional da pandemia na convivência humana

Relações e habilidades sociais: O impacto emocional da pandemia na convivência humana

Um ser que interage com o mundo

O ser humano está em constante interação com o meio que o cerca, onde trocas sociais ocorrem de diversas maneiras. Nesta relação, neste encontro “organismo-meio”, a experiência é como um processo criativo e expressivo que se dá na tensão deste encontro que não deixa de ser uma “novidade”.

Na sociedade moderna, há um privilégio do universal e da racionalidade, acreditando-se em um planejamento racional e duradouro da ordem social e política. Sociedade esta que visa o lucro, o avanço tecnológico que levam a uma organização social cada vez mais calcada no “novo”, no “prazeroso” e “imediato”.

Neste contexto, o ser humano se desenvolve e se estrutura emocionalmente a partir de experiências com diversos tipos de grupos: familiar, escolar, religioso, organizacional, dentre outros. Para a abordagem Gestalt-terapia, falar de experiência implica falar de contato, de encontro, de assimilação de diferenças, onde o sujeito está diante do “novo”, cabendo-lhe ajustar-se, “adequar-se” da melhor maneira que pode em um dado momento. 

O contato nem sempre significa um contato físico, pois a pessoa pode entrar em contato consigo mesma diante das vivências (questionando-se internamente), além da constante interação organismo-ambiente, num intricado relacionamento com o outro. Para que haja interação o indivíduo precisa ter receptividade, ser paciente, estar “atento ao que sente”, atento ao que o meio lhe proporciona em dado momento, precisa também abrir-se a si e ao mundo de forma consciente de si e também deste todo que o cerca.

Habilidades sociais que o homem pode desenvolver

Na interação com o mundo o homem pode desenvolver habilidades sociais que vão fazer parte de seu convívio com os demais, dentre elas podemos citar:

  • Empatia: Capacidade de se colocar no lugar do outro;
  • Compreensão: Entender as situações tanto pessoais quanto sociais dos demais;
  • Pensamento Positivo: Esperar que as experiências se “desenrolem” da melhor maneira, que tudo fique bem;
  • Autocontrole: Capacidade de controlar a impulsividade, a vontade, dentre outras emoções vividas, para expressá-las da melhor forma;
  • Comunicar-se e expressar-se com os demais: Capacidade de comunicar o que sente, bem como expressar emoções e de conversar com as pessoas de forma tranquila, fluida;
  • Resolução de conflitos: Capacidade de abrir-se para busca de solução de conflitos de uma forma que não gere agressão nem física nem verbal;
  • Assertividade: Expressar suas opiniões respeitando as opiniões alheias, sabendo colocar-se diante dos demais.
  • Autonomia na tomada de decisões: Capacidade de decidir sem depender da opinião dos outros.

Algumas destas habilidades são vividas com mais frequência no contexto de trabalho, outras podem ocorrer em várias situações sociais que requeiram do indivíduo uma mobilização interna, o fato é que elas passam a fazer parte do indivíduo, compondo sua dinâmica pessoal ao lidar com as situações cotidianas.

O que mudou com a Pandemia

Com a chegada do Novo Coronavírus, a sociedade “acelerada”, que visa o imediato, o lucro e a tecnologia avançada, de repente, passa a ser uma sociedade com novas prioridades e parâmetros, aonde se destacam a “busca” pela vida, pela saúde e proteção individual.

Neste intricado contexto, o homem se depara com outros valores e comportamentos a serem cultivados e vividos como sendo os mais “adequados” ao momento atual, dentre eles pode-se citar:

  • Solidariedade,
  • Compreensão com a dor do outro,
  • Adiamento da satisfação imediata,
  • Empatia,
  • Autocuidado tanto físico quanto psíquico,
  • Outras formas de interação social e demonstração de afetos. Deve deixar de lado expressões como aperto de mão, abraços, beijos, dentre outras que levem a aproximações físicas de alguma forma. 

Emoções são desencadeadas e acontecimentos inusitados ocorrem com frequência, como por exemplo, velórios virtuais, reuniões à distância como única alternativa de contato, uso de máscaras, de luvas, álcool em gel em posição de destaque no mercado.

Enfim, neste emaranhado contexto, sintomas psicológicos emergem, chegando mesmo a levar a transtornos psicológicos, estando assim boa parte da população vulnerável a:

Cada um tenta se adaptar como acha que pode ou consegue, se utilizando de habilidades pessoais ou tentando adquirir outras em virtude dos acontecimentos.

O sentir e o agir estão relacionados. Como lidar com as perdas? Como interagir agora? O que buscar? Quais objetivos profissionais devem ser priorizados? E os pessoais? Muitos questionamentos surgem diante deste “novo”, sendo que em algum momento o indivíduo deverá entrar em contato consigo, para experienciar e aprofundar-se nas habilidades sociais que possui no intuito de utilizá-las no novo cotidiano.

Os sentimentos, emoções, angústias e até mesmo o surgimento de novas dores que emergem, levam muitas vezes a um impasse quando o indivíduo se depara com novas vivências sociais até então desconhecidas. 

Adaptação a uma nova realidade

A psicoterapia na abordagem gestáltica torna-se uma grande aliada na busca pela adaptação a esta nova realidade pós-pandemia, pois a partir da relação terapêutica, o cliente tem a possibilidade de “ensaiar” novas formas de viver as situações.

Numa “ousadia”, através dos experimentos com o psicoterapeuta, a pessoa pode ampliar seus comportamentos de forma criativa, num “dar-se conta” do emaranhado de emoções que a envolve na nova rotina. 

A nova realidade fez emergir medos, angústias, fobias e até mesmo quadros mais graves de depressão em diversas pessoas. Havendo a necessidade de “se reinventar” diante de um novo tão inusitado, restando ao ser humano utilizar suas habilidades sociais e até emocionais no cotidiano de suas vidas.

As habilidades sociais elencadas acima são de suma importância neste momento, tendo em vista que houve uma mudança nos relacionamentos sociais por conta do isolamento, mudança esta inclusive na forma de comunicar-se, de manter contato com os demais.

Vale citar que para Perls (1988) o estudo do modo como o homem funciona no seu ambiente é o estudo da fronteira de contato entre o indivíduo e seu meio. Pode-se aqui entender que as pessoas a partir de agora devem adaptar-se ao meio, buscando uma nova maneira de interação. Isto implica mudanças no trabalho, nas relações sociais, relações familiares e relações pessoais, abrangendo as diversas áreas da vida do indivíduo como um todo.

Lidar com as emoções no aqui-agora é um processo que envolve aprofundamento em si mesmo e aprimoramento das habilidades sociais já adquiridas e até mesmo adquirir novas. Implica entrar em contato também com a base de apoio que possui, seja a família, os amigos, o(a) namorado(a), o(a) esposo(a), os (as) companheiros(as) de trabalho e até mesmo a ajuda de um profissional em psicoterapia, para que você possa adaptar-se e passar por este novo momento da melhor maneira possível, sempre consciente de si, de suas reais necessidades e possibilidades no agora.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

– GINGER, S.;GINGER, A. Gestalt: Uma terapia do contato.4.ed.São Paulo: Sumus, 1995.

– PERLS, F. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara/Koogan, 1988.

Rayssa Mazza de Castro Alencar
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