Você sente um vazio existencial durante as atividades do seu dia a dia?

Você sente um vazio existencial durante as atividades do seu dia a dia?

Talvez você se perceba executando as tarefas do dia a dia no “modo automático”, ou seja, fazendo apenas por obrigação, sem sentir prazer ou sentido algum nisso. E isso vale desde o trabalho, família até as tarefas mais triviais de seu dia a dia. É como se você só quisesse matar o tempo como modo de preencher de alguma forma esse sentimento, certo?

O psiquiatra Vienense Viktor Frankl cunhou um termo para esse sentimento de vazio, aborrecimento e apatia diante da vida: Vazio Existencial.

Mas o que é o Vazio Existencial?

Para Frankl o Vazio Existencial é o mal do século XX e XXI e sobre sua origem ele afirma que:

“…em contraposição ao animal, os instintos não dizem ao homem o que ele tem de fazer e, diferentemente do homem do passado, o homem de hoje não tem mais a tradição que lhe diga o que deve fazer. Não sabendo o que tem e tampouco o que deve fazer, muitas vezes já não sabe mais o que, no fundo, quer. Assim, só quer o que os outros fazem – conformismo! Ou só faz o que os outros querem que faça – totalitarismo” (FRANKL, p. 11, 2015).

Portanto, o homem não sabendo como preencher esse vazio acaba por seguir a massa e fazer o que todo mundo faz ou então fazendo aquilo que os outros sugerem que ele faça, abrindo mão assim de sua individualidade e personalidade.

O Vazio Existencial é uma doença?

Para Frankl o Vazio Existencial em si mesmo não é uma doença, mas sim algo essencialmente humano. Faz parte do ser humano, em algum momento da vida, deparar-se com a pergunta sobre o sentido de sua vida. O Vazio Existencial passa a ser patológico no momento em que o homem não tendo sucesso em encontrar esse sentido acaba se frustrando e caindo no aborrecimento, depressão, angústia, ou como diria Frankl na tríade da neurose de massa: a depressão, a agressão, e a toxicodependência (FRANKL, p.25, 2016). Deste modo, o homem não conseguindo preencher esse vazio acaba por se entregar a prazeres efêmeros como modo de “anestesiar”, mesmo que momentaneamente essa angústia e tédio.

Vontade de sentido

Segundo Viktor Frankl, o homem se move e é motivado por uma vontade de sentido, ou seja o homem é um ser que deseja encontrar para sua existência e para cada situação um sentido, para então realizá-lo (FRANKL, p.17, 2016). Para o autor, esse sentido é superior as demais motivações do homem, pois ele é independente da satisfação das outras necessidades e pode ser encontrado até mesmo em uma situação de sofrimento, por exemplo, na mudança de postura diante desse sofrimento.

Frankl era judeu e passou quatro anos como prisioneiro no campo de concentração nazista e pôde perceber na prática que o homem, mesmo sob as piores circunstâncias, poderia encontrar o sentido em sua vida, mesmo através do sofrimento. Em uma de suas conversas com alguns colegas prisioneiros que tinham desejos suicidas ele fez o seguinte questionamento: “Você me diz que não espera mais nada da vida, mas me pergunto se não seria a vida que espera algo de você”.

Quais as possibilidades de sentido?

Antes de mais nada o sentido não é algo que possa ser criado, dado, mas sim encontrado e percebido. De acordo com Frankl há três possibilidades de encontrar sentido nas situações da vida, a saber: os valores de criação, que consistem em dar algo ao mundo através de sua criatividade, por exemplo uma obra a se fazer, um trabalho, etc.; os valores vivenciais, que se trata de tomar algo do mundo, ou seja, vivenciar um amor, uma boa amizade, uma música, uma obra de arte, apreciar a natureza, etc.; e por fim os valores atitudinais, que se dão quando o homem toma uma posição diante de circunstâncias inevitáveis como o sofrimento, a culpa e/ou a morte. Vale ressaltar que é justamente o caráter autotranscendente que faz com o que o homem encontre sentido, ou seja, o sentido é encontrado quando o homem se volta para fora de si e não fica centrado em si mesmo.

Mas então, como encontro esse sentido?

Temos algo que nos auxilia nessa busca que é a nossa Consciência. Denominada por Frankl como Órgão do sentido, a consciência nos faz perceber em cada situação concreta que vivenciamos, uma possibilidade única de realização de sentido. Única porque essa possibilidade tal como aparece em determinada situação é irrepetível, ou seja, uma vez perdida não tornará a aparecer igualmente, porém quando é concretizada permanece para sempre como uma realização da pessoa, guardada em seu passado. Segundo o autor:

“É graças à minha consciência, à minha consciência atenta e bem formada, que eu me torno capaz de compreender o apelo ao sentido que cada situação me propõe; é graças a ela que me torno capaz de ouvir as questões que o dia a dia me formula, e é graças a ela que sou capaz de responder a essas questões empenhando a minha própria existência, assumindo uma responsabilidade” (FRANKL, p. 38, 2016).

Para exemplificar, essa situação única pode ser quando você percebe que um amigo seu ou familiar precisa de alguma ajuda e assume a responsabilidade de ajudá-lo de alguma maneira, ou então diante de uma situação difícil você percebe que precisa manter-se forte e firme para seus familiares e enfrentar a situação sem se deixar levar pelo desespero. E por que que isso é único? Porque era você quem estava naquela situação concreta, você quem percebeu algo concreto e era você que podia fazer algo sobre isso, como no exemplo da ajuda de algum amigo ou familiar. Aquilo era uma possibilidade que se mostrou diante de você e que sua consciência percebeu, e que cabe a você concretizá-la ou não. 

Conclusão

Vale ressaltar que muitas vezes para concretizar essa possibilidade de sentido você terá de sair de sua zona de conforto e abrir mão de seu egoísmo, podendo a primeiro momento parecer desprazeroso, porém, ao final você irá sentir que fez o que devia ser feito e se sentir bem por isso.

Tentei aqui resumir ao máximo a obra de Viktor Frankl sobre a realização de sentido e com isso tive que correr o risco de simplificá-la demais, por isso recomendo aos interessados que leiam a bibliografia que cito abaixo.

Para aqueles que estejam passando por esse vazio e que queiram ajuda, não deixem de procurar um profissional de psicologia especializado no tema e que poderá auxiliá-lo na melhor maneira de preencher esse sentimento de vazio existencial de forma satisfatória e plena.

“Nada proporciona melhor capacidade de superação e resistência aos problemas e dificuldades em geral do que a consciência de ter uma missão a cumprir na vida”, Viktor Frankl.

Referências

  1. FRANKL, Viktor. O Sofrimento Humano: Fundamentos Antropológicos da Psicoterapia. 1ª edição. São Paulo: É Realizações, 2019.
  2. FRANKL, Viktor. Sede de sentido. 5ª edição. São Paulo: Quadrante, 2016.
  3. FRANKL, Viktor. O sofrimento de uma vida sem sentido: Caminhos para encontrar a razão de viver. 1ª edição. São Paulo: É Realizações, 2015.
  4. FRANKL, Viktor. Um sentido para a vida: Psicoterapia e Humanismo. São Paulo – Ideias e Letras, 2016.
Lucas Augusto de Andrade
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