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Codependências: As relações dolorosas 

Fonte: Pixabay

Todos os relacionamentos têm os seus problemas, mas quando se trata de codependência, a linha é tênue entre relações saudáveis e relações patológicas.

Assim como adictos são obcecados em drogas, jogos, comida ou sexo, o codependente é obcecado em relacionamentos. 

A vida do adicto gira em torno da sua droga de escolha, assim como a vida do codependente gira em torno do seu parceiro.

Padrões de codependência são transmitidos de geração para geração. É um comportamento aprendido. Sendo assim, a psicoterapia juntamente com a psicanálise são utilizadas para fazer desaprender esse comportamento cultural e social aprendido.

Os sintomas da codependência

Os sintomas da codependência no sujeito incluem ansiedade, questões patológicas da intimidade, onde são  violadas uma das partes, e comportamentos adictivos do parceiro em questão, de forma que o codependente seja aceito na relação.

A codependência envolve:

Entre outros comportamentos que “dançam” conforme as atitudes dos parceiros.

Não necessariamente envolve drogas. Mas certamente envolve jogos de manipulação. 

Muitas vezes envolve humilhações, perigo de vida e desrespeito. Enfim, o codependente mergulha na total desvalorização de amor-próprio em prol de um amor que vive no campo da imaginação. O parceiro passa a ser a droga do codependente. O codependente passa a ter comportamento disfuncional, viciante, obsessivo e compulsivo (pelo outro).

Pessoas codependentes demandam garantias constantes, pois têm medo de serem diretas e honestas com tudo aquilo que as incomoda na relação.

Pessoas codependentes são “dependentes” por definição. A dependência provém da baixa autoestima e do medo do abandono – são dependentes de alguém fora de si mesmo. E não falo de um dependente financeiro. É muito mais do que isso.

O codependente tem medo de ficar sozinho, tem medo de ser abandonado e rejeitado. Tem dificuldade de tomar decisões sozinho. É incapaz de ir a lugares ou iniciar projetos por conta própria. Desiste com frequência de planos ou interesses pessoais em prol do outro.

Um olhar psicanalítico para a codependência 

Nesse momento, o olhar psicanalítico é muito importante, para que, durante a associação livre, o paciente, fazendo um paralelo entre o seu presente e a recordação do passado, consiga trazer à tona recordações que o façam ter insights do momento atual. É quando o codependente identifica seu aprendizado cultural, sua dinâmica familiar, suas experiências traumáticas daquilo que presenciou ou passou na infância, algumas vezes pelo uso abusivo de drogas e de todos os relacionamentos anteriores. 

É um processo doloroso, desde o “descobrir-se” adoecido até a superação da relação doentia.

Porém, vejo o tratamento da codependência como um processo de tamanha urgência tendo em vista que pessoas correm perigo de vida ao se relacionarem destemidamente com o par (o viciado, o familiar obsessor, o outro codependente, a pessoa fragilizada, ou, seja lá qual for o sujeito que o codependente escolheu) a quem a pessoa codependente sofre de amor, dependência, controle, desejo e ausência de medo.

Paralelo ao olhar psicanalítico, aprecio trabalhar com técnicas de terapia cognitivo-comportamental aliada a métodos de grupos anônimos como os de 12 passos seguidos em grupos anônimos como os de Al-anon, Nar-Anon, Amor-exigente, Mulheres que Amam Demais e até mesmo NA ou AA se o codependente for dependente químico.

A terapia cognitivo-comportamental irá ajudar o paciente a identificar o medo do abandono na infância, o trauma do abandono de outros relacionamentos, a vergonha e a insegurança de ser sozinho, irá reconhecer e selecionar suas fraquezas, curar as feridas da infância, ajudar a perdoar-se a si mesmo, compreender e aceitar sua impotência em relação ao outro, reconhecer suas crenças limitantes e assim conseguir desapegar, melhorar sua autoestima e suas emoções e, principalmente, aprender a gostar de sua solitude*, que nada mais é do que a solidão sem o sofrimento.

É um longo processo de identificação e cura.

Eu, em toda minha experiência terapêutica, nunca vi relacionamentos seguirem adiante após o tratamento de um sujeito codependente. É libertador.

Características do codependente

Seus medos comuns incluem:

O codependente é um ser acostumado a praticar e sofrer abuso verbal, pois essa é a forma mais comum de abuso emocional. Habitua-se a acusar e ser acusado, xingar e ser xingado, manipular e ser manipulado, julgar e ser julgado, criticar e ser criticado.

O sistema caótico dos codependentes envolve como satisfazer suas necessidades e acreditam que os outros não sabem cuidar de si mesmos. Atraem pessoas carentes e invadem seus limites tentando controlá-las. Muitos adictos codependentes são irresponsáveis quando se trata de trabalho, dinheiro, cuidado com filhos, etc.

A infância do codependente

É comum, no decorrer da terapia, o paciente lembrar e revelar traumas, abandonos ou humilhações durante a infância.

Vejo muitos pacientes de idade avançada, no processo de terapia, recordar fatos traumáticos, que foram completamente apagados da memória desde a infância (pela sua criança interior) em forma de mecanismo de defesa do inconsciente, e que vem à tona; e nesse momento, o paciente identifica por si só a consequência de certas atitudes de submissão, desrespeito, humilhação e escolha pelo seu par.

Ora por um processo aprendido, ora pela descoberta da total inabilidade de ter desenvolvido durante o amadurecimento, mecanismo de defesa contra pessoas tóxicas e doentias.

É comum os codependentes repetirem escolhas e comportamentos viciantes mesmo quando mudam de parceiros, por isso é tão importante que a pessoa que se identifica como um codependente, procure ajuda. 

Percebo rapidamente o codependente como aquela pessoa cansada, adoecida e consumida por um relacionamento. Geralmente procura terapia para tentar consertar o outro.

O codependente também acaba por evitar conversas intimas e desabafos com amigos e familiares, pois nesse momento ele já sabe que será julgado.

Enfim, a codependência leva a pessoa ao isolamento social do convívio de pessoas íntimas. 

O casal passa a viver uma farsa para a sociedade.

Nesses tempos modernos, enquanto vivemos a positividade tóxica exposta nas redes sociais, não percebemos a face oculta dessas pessoas. Quanto mais se mascaram, mais aguentam, para não perderem (de forma doentia) seu parceiro.

Por fim, o codepentente, além de existir fortemente em um relacionamento afetivo, também está presente no trabalho, no contexto familiar onde ele é subordinado, humilhado, molestado, chantageado, subjugado e preso a amarras.

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Solitude* – um termo poético da solidão, de estado de privacidade, isolamento, reclusão.

 

ANDRÉA DE SOUZA VAZ CRP 05/39087

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