Ícone do site Psicologia Viva

Como posso lidar com a perda? Como elaborar o Luto?

Foto de Diego Madrigal no Pexels

O luto e seus significados

O luto pode ser entendido como o processo emocional de vivenciar a ausência e o vazio causados por uma perda. Em geral, inicia-se com a perda de alguém significativo, podendo haver também o chamado luto antecipatório, que é quando o luto se inicia antes da perda ser efetivada.

O luto, além de ter a influência de fatores pessoais, também tem a influência de fatores sociais. Algumas variáveis como gênero, contexto religioso, experiências com rituais de luto são de suma importância. Para Franco (2002), em nossa cultura ocidental os homens reagem à perda através da ação, dedicando-se sobremaneira ao trabalho; enquanto as mulheres expressam mais seus sentimentos, choram, falam da perda, lamentam.

Tendo como exemplo a morte de um ente querido, pode-se falar em fatores que influenciam o modo como cada um vai lidar com a morte e o morrer. Estes fatores, de acordo com Melo (2004), são:

Trazendo para a abordagem da Gestalt-terapia, é como se abrisse uma Gestalt, onde a pessoa está numa nova situação, que precisa ser experienciada em suas emoções, dores e no contexto em que a mesma está inserida, para assim ela poder se reorganizar diante da perda, havendo deste modo um fechamento da situação e uma nova reconfiguração em sua existência.

Aqui vale salientar que o luto pode ser vivenciado não somente em situações de morte, mas também em separações, perda de emprego, término de namoro, em uma situação de um sonho que não foi realizado e até no caso da perda de uma fantasia imaginária.

Sabendo também que o luto sofre influências de fatores culturais, pode-se citar o luto também, por exemplo, no contexto atual da Pandemia da COVID-19, onde o isolamento social e os novos hábitos que as pessoas tiveram de adotar no momento levam elas a terem de lidar também com o luto, pela rotina e hábitos de antes.

 

Aspectos a serem considerados no momento do luto

Para Franco(2002) existem cinco dimensões de reações ao luto. São elas: 

Vale ressaltar que a ansiedade é muito comum no momento da perda, além de ser também muito comum a pessoa sentir-se “sem rumo” no início. Todos estes aspectos devem ser considerados, mas também é de suma importância o funcionamento e o modo de vivenciar suas experiências que cada um tem. Como exemplo, pode-se citar duas situações hipotéticas:

Situação 1:

Uma pessoa do sexo feminino que em sua vida atual mostra-se “emotiva” em várias situações: na relação com colegas de escola, na relação com familiares, dentre outras. Em suas vivências costuma expressar choro fácil, dizer o que sente, não elaborando o que vai ser dito diante de contrariedades. Em um momento de luto, onde ocorre o falecimento da irmã com quem mantinha um laço forte e intenso, a mesma pode apresentar reações como: confusão, desorientação, choque, saudade, tristeza, alteração do apetite, do sono, perda da fé ou aumento da fé, dentre outros. Neste momento torna-se necessário o fechamento da situação de luto e uma reorganização de sua vida, levando em conta o sentido que dá a tudo que está ocorrendo, bem como emoções e vivências sentidas.

Situação 2:

Uma pessoa do sexo masculino, que comumente em sua vida atual evita interação com os demais, vive um relacionamento de namoro onde há um laço forte e de grande apego, vivencia conflitos com a família e o trabalho é vivido como algo de grande importância pra ele. Em um dado momento, a companheira quer o término do namoro e o rapaz precisa lidar com a situação de luto que se apresenta, elaborar o fim da relação e buscar uma nova configuração em sua existência. Para tanto, precisa se dar conta do significado da relação, de suas emoções, da rede de apoio disponível, bem como perceber-se e sentir como pode se reorganizar.

Algumas estratégias que auxiliam no processo de luto e aceitação da perda

Em ambas as situações são vários os aspectos a serem considerados na vivência do luto, devendo a pessoa entrar em contato com a maneira particular que tem de lidar com suas dores e perdas. Para Fukumitsu (2004), há algumas estratégias que auxiliam no processo de luto e aceitação da perda, são elas:

Psicoterapia e o processo de luto

São diversas as perdas pelas quais o ser humano passa ao longo da vida. Já ao nascer perde a proteção do útero, quando começam a engatinhar e a andar há a perda do colo.

Na adolescência passa por grandes transformações físicas e psicológicas, onde podem passar por mudanças em suas rotinas e convivência, podendo haver términos de namoro, saída de casa, dentre outros. No decorrer da vida vão ocorrendo experiências de perda em todas as fases, seja na vida profissional, pessoal, familiar e também social.

Pensar em psicoterapia com pessoas enlutadas requer, em um primeiro momento, a percepção da pessoa em sua totalidade, onde no espaço psicoterapêutico o indivíduo tem a possibilidade de olhar para si como um todo na situação inacabada do luto.

O terapeuta propõe ao cliente que entre em contato com sua voz, com seus gestos, comportamentos, respiração, emoções, expressões faciais e tudo que está presente no momento. Neste processo, a pessoa pode perceber também onde se interrompe, qual o sentido da perda  em sua vida.

Para Perls (1988) a técnica e os experimentos de conscientização são um procedimento de investigação valioso na medida em que permitem a compreensão da experiência real do cliente. Havendo também o respeito à singularidade de cada um, em uma relação dialógica, o terapeuta pode criar situações onde a pessoa pode se experienciar e dar-se conta da situação vivida, compreendendo sentimentos confusos, expressando dores, emoções, passando a assimilar o vivido e se reequilibrando no meio em que vive.

Deste modo, uma nova situação e reconfiguração surge na vida, onde se passa a viver de modo mais integrado em si mesmo e em suas dores. 

Referências bibliográficas

  1. FUKUMITSU, K. O. Uma visão fenomenológica do luto. Um estudo sobre as perdas no desenvolvimento humano. São Paulo: Editora Livro Pleno, 2004.
  2. PERLS, F., HEFFERLINE, R. e GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.