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Presentes de Natal: Quando as compras se tornam uma compulsão? 

Finalmente surge o Natal. Alguns esperam ansiosamente por esta data do ano e outros a rejeitam em seu sentido particular e comercial que ao longo dos anos tem alcançado. Consideremos então as causas e os efeitos psíquicos de se comemorar o Natal. 

Sendo uma data de maior festividade, que em geral associamos a encontros entre familiares, descanso e férias, com festas, ganhando significado maior que o religioso, vistos no meio social como um momento de reconciliação e resolução de conflitos emocionais entre amigos e familiares para o novo ciclo que se inicia ao qual somos impulsionados naturalmente a criar vínculos amorosos. 

E se pensássemos numa não existência do Natal?  

Somos impulsionados a nos relacionarmos socialmente, através dos encontros familiares durante essas ocasiões em nossas vivências. Passamos por tensões no dia a dia que geram angústias, e o Natal seria uma forma de atender a esses princípios que nos dão prazer a qual descarregaríamos as tensões acumuladas durante o ano. E se não existisse o Natal, encontraríamos outras formas de socialização para obtermos prazeres e eliminarmos nossas tensões com significados psicológicos para fechar ciclos e iniciar as novas  etapas da vida. 

Oniomania, o distúrbio dos compradores compulsivos 

No Natal, não podemos negar um considerável aumento de consumo de objetos que nas vitrines são apresentadas às nossas vistas, e muitas vezes interpretados como objetos de desejo. Para muitos, adquirir esses produtos podem gerar ansiedade e frustração devido às suas finanças e entendidos como necessidades em possuí-los pelo diferencial entre as pessoas e como um dos grandes prazeres da modernidade.

Essas ações que levam ao comportamento excessivo de comprar objetos, muitas vezes não se sustenta, acarretando consequências graves para o sujeito e sua família. Chamadas de compras compulsivas, com percepções para esses consumidores de uma compra de muita motivação, repetidamente e com sensação agradável de redução de sentimentos de desconforto. Podendo afetar entre 2 a 8% da população geral, com maior proporção no gênero feminino. Dentro da Organização Mundial da Saúde sob CID10-F63.8, a Oniomania está classificada como transtornos dos hábitos e dos impulsos não especificados 

O surgimento da Oniomania 

Através do sentimento de incapacidade gerado nesse sujeito ao enfrentar sua realidade, ele sente-se oprimido diante de seus problemas, desviando o foco de sua atenção ao comportamento excessivos de compra, sendo uma fuga emocional para não lidar com esses sentimentos. Podendo estar associado à Ansiedade e Depressão. Esses comportamentos repetitivos causam satisfações e proporcionam prazer, tornando-se um hábito o qual se tornará uma compulsão. 

Os comportamentos repetitivos compulsivos têm ocorrência em quatro fases. A primeira se dá através de pensamentos e impulsos que levam a preocupações diante da aquisição desses objetos. Nesse segundo momento o sujeito já se prepara para tomar decisões acerca desse objeto, em sua escolha, formas de pagamentos, local de compra. Já no terceiro momento o sujeito parte para a compra, satisfazendo-se através desse comportamento com sensação agradável e sentimento de bem-estar. Já na fase final destas compras  verificam sentimentos de culpa, raiva e ressentimento por todo gasto, levando-o a ter intenções de não repetir esses comportamentos.

A clínica do vazio 

O vazio é o conceito metapsicológico “espaço psíquico”, e dentro desse espaço descritivo de vazio como sintoma, queixa ou sentimento de vazio poderemos refletir suas ligações com o sofrimento psíquico. 

Durante nossa constituição, perceberemos nosso eu e o outro de forma singular em cada psiquismo. E para que essa percepção ocorra de forma equilibrada é necessário um ambiente que seja acolhedor, que forneça amparo  e contribua para um desenvolvimento saudável. Mas sabemos que não estamos livres de acontecimentos que nos levam ao sentimento de desamparo e irão desencadear esse sentimento de vazio, sem representações e sentidos de afetos.

É aqui que se instala o vazio como lugar inocupado, de nenhuma representação de afeto, e muitas vezes aterrorizantes, levando o sujeito a um sentimento de vazio impossível de pensar, de separação e solidão intolerável, contribuindo no pensar e reagir a partir de sentimento de vazio por sua carência de pensamento. 

Ao pensarmos nesse sentimento de vazio, o sujeito de comportamento compulsivo pode estar buscando através dessas compras preencher essa lacuna interna que, mesmo momentâneas, geram satisfação e prazer, e mais  tarde sem controle retornará ao sentimento de culpa, raiva, ansiedade e até depressão em resposta a esses comportamentos. 

Como tratar a Oniomania 

Existem formas de tratamento que podem resolver, feitos em paralelos ou em sequências. 

1 – Psicoterapia psicanalítica 

A psicoterapia psicanalítica, realizada por profissionais por meio de uma escuta singular, visa entender os processos (inconscientes) do paciente que  possa estar desencadeando sintomas e/ou sentimentos de angústia, ansiedade, incapacidade ou qualquer tipo de sofrimento. E junto ao paciente busca desenvolver ferramentas para que este tenha maior clareza em seu modo de pensar, sentir e agir, para uma adaptação ou resolução de seus conflitos. 

Seus efeitos trarão alguns benefícios como:

2 – Tratamento farmacológico 

Na atualidade, o tratamento medicamentoso tem sido eficiente perante os transtornos. Psicofármacos com finalidade de tratar o transtorno obsessivo compulsivo comprovou eficácia para o que se assemelha aos comportamentos compulsivos repetitivos como na Oniomania. 

Não tome remédio sem antes consultar um médico. 

Como posso evitar esses comportamentos  

Psicóloga Patrícia Lelis 

CRP 06/166961 

Psicóloga Clínica Psicanalítica 

Referências

  1. CANELAS NETO, José Martins. Reflexão sobre o vazio dentro da psicanálise: do horror do vazio ao vazio criador de metáforas. J. psicanal., São  Paulo, v. 46, n. 85, p. 127-140, jun. 2013. Disponível em  <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352013000200013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 13 dez. 2021. 
  2. FÉDIDA, P. (1978). Le vide de la métaphore et le temps de l’intervale [O  vazio da metáfora e o tempo do intervalo]. In P. Fédida, L’absence. Paris:  Gallimard.