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Ansiedade e medo: como eles podem criar uma mente ansiosa?

Imagem: Rawpixel

Como o medo e ansiedade podem criar uma mente ansiosa? Primeiro vamos compreender o que é o medo. O medo é uma reação de alerta muito importante para nossa sobrevivência. Não só a espécie humana, mas também os animais possuem esse mecanismo de reação instintiva perante uma ameaça iminente. 

O medo saudável

O medo, na medida certa é uma função saudável do comportamento humano, fazendo com que evitemos situações que aumentem o perigo e a exposição desnecessária perante ameaças do cotidiano.

Quando estamos em estado de alerta são ativadas respostas fisiológicas que nos preparam para enfrentar o perigo. A Síndrome de Emergência de Cannon é uma resposta do Sistema Nervoso Simpático, responsável pelas alterações no organismo em uma situação de estresse, preparando a pessoa para uma reação de luta ou fuga, de forma imediata e instintiva. 

Algumas das reações fisiológicas apresentadas quando o Sistema Nervoso Simpático entra em ação: 

Ou seja, nosso organismo, como se fosse uma máquina perfeita, responde de forma imediata em uma situação de perigo e a concentração do gasto energético fica diretamente relacionado à resposta motora eficiente para a nossa sobrevivência.

Quando o medo passa a não ser mais saudável

Quando então o medo deixa de ser saudável? Quando é que o medo vira uma doença? Podemos dizer que o medo deixa de ser saudável quando ele modifica negativamente o nosso cotidiano.

Segundo Silva 2011, as respostas físicas e mentais relacionadas ao medo eram essenciais para a sobrevivência de nossos antepassados, porém a manutenção dessas respostas adaptativas com tamanha intensidade no homem moderno é inapropriada, não havendo mais a necessidade de uma reação em cadeia tão excessiva, porém continuamos a nos “manifestar de forma quase idêntica àquela vivenciada pelos nossos ancestrais mais longínquos”.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5, os Transtornos de Ansiedadeincluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados, (…) diferenciam-se do medo ou da ansiedade adaptativos por serem excessivos ou persistirem além de períodos apropriados ao nível de desenvolvimento”.

Os transtornos de ansiedade são vários e diferem entre si, podendo ir de um súbito ataque de pânico diante de um estímulo real, ao estabelecimento de um transtorno de pânico, este último mais patológico e com comorbidades, ou seja, está associado a outros distúrbios. 

A ansiedade gerada pelo medo

Podemos agir ainda com sintomas de ansiedade diante de medos diversos, fobias simples, como de animais, lugares fechados, avião, entre outros. 

Ou ainda uma fobia social, onde nos sentimos ameaçados diante de situações sociais ou exposições em público.

O Transtorno de Estresse Pós-Traumático – TEPT

Uma outra variação do transtorno de ansiedade é o Transtorno de Estresse Pós-Traumático – TEPT, onde a pessoa, após passar por uma situação traumática, como por exemplo um sequestro, acidentes diversos, roubos à mão armada, perdas de entes queridos, etc., começa a apresentar sinais e sintomas a todo momento em que o fato presenciado ou vivido vem à sua mente, revivendo o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento, desencadeando então as mesmas reações. 

A sua mente não consegue separar o fato ocorrido da simples lembrança.

O Transtorno Obsessivo-compulsivo – TOC

Já no Transtorno Obsessivo-compulsivo – TOC, somos invadidos por pensamentos intrusivos e sempre de conteúdo ruim (obsessões), que levam a desencadear rituais repetitivos e exaustivos (compulsões). 

Pensamentos e imagens nos invadem incessantemente, o que nos leva a estabelecer rituais repetitivos como se assim conseguíssemos expurgar ou aliviar o momento de ansiedade.

Alguns sintomas mais frequentes quando a crise de ansiedade se estabelece é: 

O transtorno de ansiedade deve ser encarado como uma patologia séria e que precisa ser cuidado de forma adequada. Não se trata de falta de “força de vontade”, “frescura”, “querer chamar atenção para si”, ou outra forma qualquer distorcida de “diagnóstico”. 

O tratamento da ansiedade

A ansiedade quando não tratada de forma correta pode levar-nos à depressão.

O diagnóstico correto já é de grande alívio para a pessoa com transtorno de ansiedade, pois ela encontra uma justificativa válida e compreensível para seus sofrimentos, descobrindo que pode ser tratada e que pode aprender a conviver de forma mais saudável com seu modo de agir no mundo. 

O simples diagnóstico correto já nos leva a um alívio dos sintomas.

A psicoterapia e o acompanhamento médico são ações indispensáveis para uma boa evolução da remissão dos episódios de ansiedade. 

A psicoterapia nos ajuda a compreender como nos manifestamos no mundo, quais os gatilhos que desencadeiam nossa ansiedade e a forma mais correta de lidar com cada situação, bem como nos ajuda a reconhecer quais foram os eventos que levaram a desenvolver esse transtorno. 

Em muitos casos a associação da psicoterapia com a prescrição de medicamentos, feito por um médico especializado, será necessária. O ideal é a pessoa procurar ajuda médica e psicológica tão logo se dê conta que sua ansiedade está produzindo sofrimento e desprazer em sua vida, dificultando seu convívio social.

A mudança de estilo de vida também ajuda imensamente a remissão dos episódios do transtorno de ansiedade, tais como: redução de carga de trabalho quando possível, investir mais em momentos de lazer, praticar atividade física, cuidar da dieta, meditação, são ações que auxiliam o alívio dos sintomas se for associado ao acampamento médico-psicoterápico.

A ansiedade tem cura?

Estudos nos apontam que mesmo a ansiedade, devido o seu caráter crônico, não tenha cura, o tratamento quando feito de maneira adequada, é bastante eficaz e nos permite obter um maior controle sobre nós mesmos e nossas reações perante o mundo, fazendo com que a pessoa supere os sintomas e até mesmo os elimine, ou fique assintomática durante longos períodos, gerando qualidade de vida e novas possibilidades de convívio social.

 

Referências:

  1. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM-5; 5ª edição; Associação Brasileira de Psiquiatria, Ed. Artmed; 2013; São Paulo-SP.
  2. Silva, Ana Beatriz B.; Mentes ansiosas: medo e ansiedade além dos limites, Ed. Objetiva, 2011, Rio de Janeiro-RJ.