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Psicologia clínica e os mitos que envolvem o início de uma terapia

Foto de SHVETS production no Pexels

A terapia

Apenas o ato de pensar em fazer psicoterapia pode gerar sentimentos diversos, entre eles medo, angústia, desconfiança, dentre outros. A psicoterapia tem uma grande carga sentimental ligada a si, pois, é um momento em que você está falando de intimidades, sentimentos e atitudes que talvez nunca tenha dito a ninguém. Além do mais, o conteúdo que levamos às sessões é analisado e devolvido de uma forma que nos defronte, e isso pode gerar mais alguns inúmeros sentimentos não tão agradáveis.

Você pode estar um pouco assustado com a descrição do primeiro parágrafo, mas realmente se submeter a uma psicoterapia pode ser um ato de coragem, sair do automatismo do dia a dia para indagar sobre a sua própria existência.

Além de ser um ato corajoso é um ato de amor, amor próprio. Fazer terapia pode ser simbolizado como um modo de colocar-se na frente de um espelho, se despir das armaduras de sua alma e ver o que restou. Esse sentimento é inevitável e não posso escondê-lo de você.

Mas espere! Não fuja ainda! Tenho alguns pontos que te farão se sentir mais seguro ao ficar tão vulnerável na frente de um profissional da psicologia.

Os mitos criados sobre a análise

Por conta de toda a carga sentimental dita acima, criaram-se alguns mitos que deturpam o sentido de fazer análise, vou desmistificar alguns deles.

O primeiro e clássico é o: “o psicólogo só conversa”.

Essa frase não está de toda errada, se você considerar que por trás daquela conversa existe uma abordagem que é o como o profissional faz a leitura dos conteúdos que o paciente fala, que dirão como ele deverá intervir no momento e com a frase correta.

É só uma conversa se você desconsiderar todos os testes psicológicos que podem ser feitos para dar maior embasamento sobre a personalidade de alguém, coeficiente de inteligência, desenvolvimento, etc. Através da conversa o paciente revela seu mundo interno e, somente com o embasamento científico que a psicologia tem, pode-se pensar nas melhores atitudes a serem tomadas.

Desabafar com amigos é importante, mas as técnicas aprendidas na graduação e demais especializações que um psicólogo venha fazer não serão encontradas num desabafo no barzinho.

Outro mito bem famoso é o de que “só vai em psicólogo quem é louco”.

Bem, se você acredita nisso, tenho uma péssima notícia para lhe dar. Guardadas as devidas proporções, somos todos “loucos”. Basta você abrir um livro de CID – 10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) ou DSM – 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

Nestes livros existirão diversas doenças psiquiátricas, transtornos de comportamento e de personalidade que, ao olhar os sintomas, não tem como não nos identificarmos com alguns deles. Meu intuito não é deixar você preocupado pensando que possui algum transtorno mental, mas gerar reflexão.

Antes de estar doente, o sujeito que possui alguma doença psicológica é um ser humano em sofrimento, igualmente a todos nós quando passamos por situações difíceis na vida, e sabemos que constantemente estamos enfrentando desafios diversos. O sujeito em sofrimento psíquico talvez não tenha tido a oportunidade de um acompanhamento psicológico para suportar a dor de um luto e não entrar em depressão, por exemplo. Então, por que não prevenir? Lembre-se: fazer psicoterapia é um ato de coragem.

Outro muito comum é o mito da “demora nos resultados”.

Bem, esse ponto é um pouco complicado. Existe terapia breve, plantão psicológico, que são modalidades que trabalham num período mais curto de tempo. Sim, elas são efetivas e trazem bons resultados, iguais às terapias de médio e longo prazo. Porém, cada indivíduo possui um tipo de demanda e se relaciona com ela diferente das outras pessoas. Caso você tenha pressa em ser atendido e acredite que seu problema seja algo pontual, eu indico as terapias breves.

Entretanto, não posso afirmar que elas irão resolver seu problema da forma e na velocidade que você queira. Pois, por vezes, estamos em um grau de sofrimento que não temos uma visão clara sobre o quanto estamos afetados com algo e quando você expor sua demanda ao profissional de psicologia, pode ser que ele te indique uma terapia a longo prazo.

O psicólogo não decide nada sozinho, tudo é acordado entre paciente e terapeuta, mas mesmo que você não queira continuar o tratamento é obrigação ética do analista que te atende colocar a opinião profissional. Nesta mesma linha de pensamento, visando a rapidez dos resultados, existe uma banalização da técnica de hipnose.

Atualmente, por estar em evidência a hipnose tem feito muitos admiradores. Ela é sim uma técnica aprovada pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia), mas é necessário ter absoluta certeza de que o profissional possui qualificação e certificação para aplicá-la. A hipnose permite o acesso ao inconsciente do paciente e se praticado de forma antiética e irresponsável, pode gerar danos irreversíveis.

Existe uma alternativa na psicanálise, chama-se associação livre. Ela consiste na fala livre do analisando e uma escuta preparada do analista para captar os conteúdos inconscientes contidos no discurso. O paciente participa ativamente desse desbravamento do seu inconsciente, e quando não se sentir confortável pode interromper. 

Esses são alguns dos principais mitos que permeiam a fantasia de quem quer ou se interessa pela psicoterapia, mas não conhece muito bem o processo. Se mesmo com estas explicações você ainda possui algum receio sobre iniciar uma análise, tenho mais alguns pontos que gostaria de abordar para fazer você perder o medo restante.

O sigilo profissional

O sigilo é algo primordial na atuação de um psicólogo, nada que é falado nas sessões é compartilhado com ninguém, não é postado em redes sociais, não é registrada em vídeo ou áudio, tudo isso para que o paciente possa falar sobre tudo o que quiser sem receio de ser exposto.

Nós psicólogos realizamos após as sessões pequenos registros documentais, chama-se de evolução. Essa evolução contém apenas aspectos observados na sessão que ajudarão o profissional no acompanhamento do caso, mas sem quebrar em nenhum momento o sigilo com detalhes abordados. Nossa categoria de profissionais de psicologia, tem um Código de Ética que delimita nossa atuação e o descumprimento das cláusulas pode gerar punições graves, como, por exemplo, a perda do direito de atuar como psicólogo.

Caso você tenha medo do julgamento que o psicólogo pode fazer sobre seu gênero, raça, sexualidade e religião, não se preocupe, o Código de Ética também o protege nesses aspectos. O psicólogo enquanto profissional não possui opinião política, religião, gênero ou mesmo sexualidade.

Independente de quem você seja, estaremos dispostos a acompanhá-lo nessa trilha dura, mas linda, que transforma quem se dedica ao processo terapêutico. 

Referências Bibliográficas:

Código de Ética Profissional do Psicólogo. Conselho Federal de Psicologia, Brasília, agosto de 2005.

Resolução CFP nº 13/2000, de 20 de dezembro de 2000. Aprova e regulamenta o uso da Hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psicólogo. Brasilia, 2000.