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Calados pelo machismo – meninos e homens vítimas de violência sexual

Os últimos dados apresentados pelo 13º anuário de segurança pública no Brasil registrou o número de 180 estupros diários cometidos no país. Esses dados de 2018 apontam ainda que mais da metade das vítimas têm menos de 13 anos.

A violência sexual pode acontecer a qualquer um, independentemente da sua idade, orientação sexual ou identidade de gênero. Os dados apontam que desse total, 18% são homens e meninos que foram agredidos sexualmente ou abusados. Essa notificação é falha, na medida em que homens se sentem ainda mais humilhados e inibidos em relatar esse tipo de violência. Homens e meninos ​​podem ter muitos dos mesmos sentimentos e reações que outras vítimas de violência sexual, mas também podem enfrentar alguns desafios adicionais devido a atitudes sociais e estereótipos sobre homens e masculinidade.

As reações mais comuns entre homens

Alguns homens que sobreviveram à agressão sexual na idade adulta sentem vergonha ou insegurança, acreditando que deveriam ter sido “suficientemente fortes” para combater o agressor. Muitos adolescentes masculinos vivenciam uma ereção ou até uma ejaculação durante a situação de violência.

Geralmente ficam confusos com suas próprias reações e se perguntam o que isso significa. Essas respostas fisiológicas são normais nesse contexto sexual e são uma reação do corpo nessa circunstância que, apesar de violenta, envolvem seu corpo e sua própria sexualidade.

São situações normais que não significam de forma alguma, que a vítima desejou, convidou ou desfrutou do ataque. Se algo aconteceu com você, saiba que a culpa não é sua e que você não está sozinho.

Homens que sofreram abuso sexual quando meninos ou adolescentes também podem responder de maneira diferente dos homens que foram agredidos sexualmente quando adultos. Veja algumas consequências compartilhadas por homens e meninos que foram vítimas de agressão sexual:

Identificando os agressores de violência sexual contra homens e meninos?

Historicamente as vítimas de violência sexual não denunciam seus agressores por medo de retaliação, vergonha, culpa e sentimento de responsabilidade no ato da agressão. Dados contam que 76% das vítimas possuem algum vínculo com o abusador. 

Os autores dessa violência, no entanto, podem ser de qualquer identidade de gênero, orientação sexual ou idade, e podem ter qualquer relação com a vítima. Como todos os agressores, eles podem usar força física ou táticas de coerção psicológica e emocional.

Agressão e orientação sexual

A agressão sexual não tem nenhuma relação com a orientação sexual do autor ou da vítima, e a orientação sexual de uma pessoa não pode ser causada ou modificada por abuso ou agressão sexual. 

Alguns homens e meninos têm perguntas sobre sua sexualidade depois de viverem um ataque ou abuso – e isso é compreensível. Isso pode ser especialmente verdadeiro se você teve uma ereção ou ejaculação durante o ataque. Respostas fisiológicas, como por exemplo uma ereção, são involuntárias, o que significa que você não tem controle sobre elas.

Às vezes, os agressores, especialmente os adultos que abusam sexualmente de meninos, usam essas respostas fisiológicas para manter o sigilo, usando frases como: “Você sabe que gostou”.

Se você foi abusado sexualmente ou agredido, não é sua culpa.

De maneira alguma uma ereção convida a atividades sexuais indesejadas, e a ejaculação pode acontecer mesmo com a violência causada.

Como dar apoio às vitimas do sexo masculino

Dizer a alguém que você sofreu abuso ou agressão sexual pode ser difícil e constrangedor. Há um enorme receio de enfrentar julgamento ou a descrença do outro. Para muitas vítimas do sexo masculino, os estereótipos sobre masculinidade também podem dificultar esse relato para amigos e familiares. 

Aqui temos algumas sugestões sobre como apoiar um menino ou um homem que fale sobre a agressão e abuso sexual que sofreu.

Homens adultos vítimas de violência sexual

Se você foi agredido sexualmente, não foi sua culpa. Você pode encontrar ajuda falando sobre isso com quem confia, e se isso ainda for difícil para você, busque ajuda profissional. Nessa ajuda profissional, você vai encontrar uma escuta especializada e a confidencialidade de que necessita para começar a tratar e elaborar o mal-estar que isso te causou e ainda causa. Existem grupos e ong’s que também podem te ajudar. Para ter as informações ligue 180 e peça informações de acordo com sua localidade.

Abuso sexual de crianças e adolescentes

Se você foi abusado sexualmente quando criança ou adolescente, pode ter sentimentos e reações diferentes em momentos diferentes de sua vida. Do mesmo modo, a melhor maneira de tratar esses sentimentos é podendo falar sobre eles, sobre as dores e os traumas ocasionados por essa situação. Para isso, é importante um profissional que garanta uma postura ética e a confidencialidade que vai te deixar mais seguro para se abrir.

Falar sobre a violência sexual sofrida exige muita confiança e entendimento para você e para a pessoa que você escolhe contar. Um profissional habilitado pode te ajudar nesse percurso e na compreensão da situação sofrida, para que então você crie condições de lidar com isso melhor e possa dividi-la com quem está perto de você.

RODRIGO R. TEIXEIRA

Psicólogo clínico e consultor em educação e temas sobre sexualidades. Atualmente realiza os atendimentos de forma presencial e on-line. 

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