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A tecnologia nas relações familiares

A contemporaneidade vive a virtualidade das relações

Cada vez mais solicita-se a exigência de estar permanentemente on-line, iniciando uma maneira de contato onde os sujeitos podem estar de corpo presente, mas, psiquicamente ausentes, assistindo cada um uma janela virtual.

A tecnologia vem então satisfazer os prazeres do indivíduo, mas deixa uma lacuna na comunidade e mais especificamente na família, já que esta fica fragilizada com as ações egoístas dos indivíduos para alcançarem seus prazeres e felicidade que se encontram de forma acessível e rápida nos ciberespaços.

Ademais, a internet e as redes sociais formam uma massa, essa massa traz uma sensação de poder e irresponsabilidade para o indivíduo, sensação essa que não se encontra dentro dos lares, pois nesta instituição é cobrado uma grande responsabilidade e uma renúncia de instintos, não deixando que o sujeito satisfaça do seu individualismo-narcísico, ocasionando assim mais uma vez o enfraquecimento na questão dos laços familiares

Desta maneira, o computador e o celular passaram a fazer parte do cotidiano da sociedade moderna, mudando a comunicação e criando formas de se relacionar, possibilitando diferentes vínculos sociais e alterando não só a cultura da ciência, mas da humanidade. 

Esta ferramenta que trouxe um progresso tecnológico muito grande para o mundo, também traz mudanças na forma de interagir uns com os outros, modificando o homem, suas relações familiares, desconectando de olhares, toques e convívios sociais. A conexão agora é feita por meio de “cliques”, e os toques físicos, muitas vezes são trocados pelos toques no “touch”.

Transformações familiares e a inserção da tecnologia

A família é uma instituição que segundo a autora Birou (2014,p.7) possui “um conjunto de normas, práticas e valores que tem seu lugar, seu tempo e uma história, ou seja ela se modifica de acordo com seu contexto social e cultural, trazendo novas problemáticas e mudando a sua estrutura com o passar dos anos.”.

Makilim, Maycoln (2012, p.27) ainda acrescenta que “a família pode ser vista como um sistema ativo em permanente transformação, como um organismo complexo que se modifica com o decorrer do tempo para garantir a continuidade e o crescimento psicossocial de seus componentes”

Conforme diz o autor Lion (1997 p.24) “Cada sociedade cria, recria, pensa, repensa, deseja e age sobre o mundo através da tecnologia e de outros sistemas simbólicos. A tecnologia é impensável sem admitir a relação entre o homem e a sociedade”.

Essa tecnologia então passa a fazer parte do dia a dia das famílias contemporâneas, interferindo nas suas relações, na comunicação e sociabilidade que agora é menos coletiva, e cada vez mais singularizada, mascarando suas dificuldades de relacionamento e inibindo hábitos que cedem lugar às relações virtualizadas, como podemos observar durante o momento das refeições, onde cada integrante da família opta por sentar diante de telas (de celulares ou de tvs) fazendo com que sejam raros os diálogos e olhares que permeavam a mesa durante os cafés, almoços e jantares.

Ou quando tais refeições em família ocorrem, elas acontecem de forma rápida e aborrecida, para que os olhares e atenção se voltem rapidamente às telas e assim não se perca tempo vivendo suas vidas reais, em vez de abrir mão da virtual, já que agora ela é quem passa a ser dignificada.

Desta forma, a tecnologia transformou não só a qualidade das relações e suas presenças, mas também todo o contexto social e cultural que o ser humano está inserido, já que esta envolve todas as tradições, crenças e costumes

Os prazeres do ciberespaço

O ciberespaço se tornou muito mais que uma presença e imposição cultural da modernidade, como ditado no capítulo acima, já que agora ele se torna fonte de prazer e atributo do cotidiano.

Essa incorporação de aparelhos nos cotidianos vem de uma busca incansável pela felicidade. Tem-se procurado nas redes a satisfação por meio da busca pelos prazeres, e o distanciamento da dor e do desprazer, causados pelo mal-estar na civilização, como traz o psicanalista Freud (1930 p.22-23) “Eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes. Essa busca tem dois lados, uma meta positiva e uma negativa; quer a ausência de dor e desprazer e, por outro lado, a vivência de fortes prazeres”.

Além de um lugar de busca por prazeres, o ciberespaço também cria uma realidade virtual que afasta todo o sofrimento e angústia que vem do mundo real, desta forma a sociedade se isola neste recinto e fica longe de  tudo aquilo que lhe traz algum tipo de aflição, como a dor, medo e as frustrações que existem nos vínculos das relações, dentre elas as familiares.

A tecnologia pode até satisfazer os prazeres do indivíduo, mas deixa uma lacuna na comunidade e mais especificamente na família, já que esta fica fragilizada com as ações egoístas dos indivíduos para alcançarem seus prazeres e felicidades que se encontram de forma acessível e imediatista nos ciberespaços.

Considerações finais

A internet e as redes sociais criam um espaço de refúgio diante desse mal-estar instalado pela família, já que esse espaço é fonte de prazer e de satisfação de desejos, onde cria-se um eu ideal que é imerso a curtidas e que conecta e aproxima de outras pessoas sem a necessidade de estar perto, suprindo assim a ânsia de ser amado sem o desprazer de ter de lidar com a frustração, já que quando algo no ciberespaço não agrada consegue-se excluir ou bloquear facilmente, trazendo ainda uma sensação de poder ao internauta.

Diante disso, a família se modifica e deixa de trazer um desenvolvimento psicossocial aos seus integrantes, que agora preferem a presença de seus smartfones, notebooks e tabletes, mudando assim não só a instituição familiar, mas a cultura de toda a humanidade que agora põe em cheque todos os vínculos sociais.

Referências:

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  7. IANNI, O. Sociedade global. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997
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