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O que o Dia da Consciência Negra tem a ver com saúde mental

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Desde 2011, o dia 20 de novembro marca, no Brasil, o Dia da Consciência Negra, que diz respeito ao processo de autorreconhecimento de pessoas negras como tal e de conexão com nossas origens e ancestralidade.

Num país como o nosso, marcado pelo colorismo, o Dia da Consciência Negra é uma data fundamental para, como o próprio nome indica, tomarmos consciência da realidade brasileira e do longo caminho que ainda temos pela frente rumo à verdadeira igualdade racial.

Mas o que isso tem a ver com uma empresa de saúde mental?

Bem, tudo. O racismo tem impactos diretos sobre a autoestima, a sensação de segurança, o senso de pertencimento e tantos outros aspectos da subjetividade das pessoas negras, e esses impactos se fazem sentir.

Dados do Ministério da Saúde revelam que jovens negros têm 45% mais probabilidade de desenvolver depressão do que jovens brancos. Também segundo o MS, as taxas de mortalidade relativas ao uso de álcool são maiores entre os jovens negros. Quando falamos em suicídio, essa diferença é ainda maior: 60% dos suicídios de adolescentes em 2016 foram de negros.

Isso tudo sem mencionar os impactos indiretos do racismo para a saúde mental. Nossa desigualdade racial se reflete, entre outras coisas, em desigualdade sócio-econômica, que se acentuou durante a pandemia: 71% das pessoas que perderam o emprego nos seis primeiros meses de 2020 eram negras.

Segundo a pesquisa Impactos do Desemprego: Saúde, Relacionamentos e Estado Emocional, conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo SPC Brasil, o desemprego contribui para o aumento da depressão, do estresse e da ansiedade, que afeta 7 a cada 10 desempregados no Brasil.

Ou seja: além dos impactos diretos para a saúde mental das pessoas negras, o racismo também contribui para colocá-las em condições sociais que podem agravar quadros pré-existentes ou dar origem a novos transtornos.

E onde entra a consciência negra nisso?

Como já foi dito, a consciência negra está relacionada ao processo de se reconhecer como tal e se conectar com suas origens.

Quantos de nós crescemos ouvindo eufemismos para o tom da nossa pele, ou recusando o termo “negro” por associá-lo a algo negativo? Quantos jovens negros raspam seus cabelos, quantas jovens negras os alisam, por sentirem que devem se adequar a critérios estéticos que não foram estabelecidos por nós nem para nós? 

Entender-se como negro é um passo importante para fortalecer a autoestima. Conhecer nossa ancestralidade permite encontrar novas referências, novas maneiras de olhar para nós mesmos e para o mundo e, nesse processo, nos dar conta da força e da potência que existe na nossa pele e na nossa história.

Inevitavelmente, isso tem impacto na nossa saúde mental, pois nos fortalece e nos ajuda a perceber que não estamos sozinhos.

Então, a consciência negra é a solução para a saúde mental?

Infelizmente, não. Segundo um relatório da ONU do final de 2019, o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, e essa desigualdade se acentua quando olhamos pelo eixo de raça. Isso não apenas impacta na saúde mental de negros e negras, como já mencionamos, mas também muitas vezes prejudica o acesso dessas pessoas aos tratamentos e profissionais que podem ajudá-las a lidar com isso.

Por isso, é necessário um esforço coletivo e compartilhado para alcançarmos a missão de democratizar o acesso à saúde mental no Brasil.

Empresas que pretendem promover a saúde mental de seus colaboradores precisam estar atentas a dinâmicas que podem reproduzir desigualdades e preconceitos em suas próprias estruturas. Profissionais que atendem essa população devem estar sempre atentos às discussões e em constante capacitação. E cada um de nós, não importa quem sejamos, precisa estar consciente dessa realidade para, só então, podermos mudá-la.