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Estou normal – Preciso ou não de ajuda psicológica?

Em algum momento de nossas vidas, todos podemos nos sentir sobrecarregados com a situação em que nos encontramos e precisamos pedir ajuda para resolvê-la. No entanto, muitas vezes demoramos a pedir ajuda porque não sabemos em quais critérios nos basear para tomar a decisão.

Quais são os indicadores que eu preciso ver um psicólogo? Que tipos de tratamento existem? A psicoterapia é realmente eficaz?

Essas e outras perguntas são respondidas a seguir!

Quando é necessário consultar um psicólogo?

Devido ao desconhecimento e ao preconceito relacionado à psicologia, muitas pessoas ainda associam a ideia de consultar um psicólogo ao sofrimento de uma doença mental grave ou à falta de força para lidar com os próprios problemas.

Este é simplesmente um dos muitos mitos associados a essa profissão. Atualmente, os motivos mais comuns de consulta psicológica estão associados ao estresse, ansiedade, depressão, dificuldades no relacionamento familiar e conjugal, dificuldades de sono e em relação à sexualidade. É muito provável que todos nós possamos nos reconhecer até certo ponto nesses temas, pois ao longo da vida todos passamos por crises vitais que nos desestruturam temporariamente e nos tornam mais vulneráveis psicologicamente.

Às vezes, nossa capacidade de adaptação é suficiente para passar por uma crise de vida sem problemas, mas às vezes nos sobrecarrega e afeta negativamente várias áreas de nosso funcionamento e nossa experiência emocional.

Nesses momentos, um pedido de ajuda especializada pode fazer uma grande diferença. Esperar demais para solicitar o atendimento psicológico pode agravar uma situação que, se fosse atendida naquele momento, teria sido resolvida com menos dificuldade. Existem alguns sinais que você pode levar em consideração para saber se é necessário consultar um psicólogo.

Por exemplo:

  • Você está experimentando um sentimento prolongado de desesperança, tristeza e opressão, e seus problemas parecem não melhorar apesar de seus esforços e ajuda das pessoas mais próximas?;
  • Você se preocupa excessivamente, espera o pior resultado das situações e está continuamente com a sensação de estar no limite?;
  • Você tem problemas para se relacionar e se comunicar adequadamente com sua família e/ou parceiro, ou desconforto nesses relacionamentos?;
  • Você tem dificuldade de lidar com as atividades diárias: você não consegue se concentrar em seu trabalho ou tarefas acadêmicas e, consequentemente, seu desempenho foi afetado?;
  • Seu comportamento é prejudicial para você ou para os outros. Exemplos: você bebe muito álcool, abusa do consumo de outras substâncias, tem comportamento agressivo em relação aos outros, etc.?

Qual a diferença entre aconselhamento e psicoterapia?

Consultar um psicólogo não implica necessariamente iniciar um processo psicoterapêutico. Dependendo do tema e gravidade do problema que o consultor traz, o psicólogo clínico avaliará o uso das ferramentas mais adequadas para a particularidade do caso. Algumas vezes as pessoas não conseguem resolver certas dificuldades simplesmente por desconhecimento ou desinformação, e algumas sessões de orientação e psicoeducação podem ser suficientes para ajudar o paciente a encontrar o caminho que o levará a resolver seu conflito. Outras vezes, as dificuldades se baseiam em um desequilíbrio mais importante e um tratamento mais longo e um esforço colaborativo entre paciente e terapeuta é necessário para resolvê-lo.

Vejamos dois exemplos para ilustrar essa diferença:

Dois pacientes chegam à clínica com o mesmo problema, estão com muitas dificuldades em adormecer e permanecer dormindo. O primeiro conta ao psicólogo que, devido às dificuldades para dormir à noite, tira longos cochilos à tarde e consome energéticos durante o dia; finalmente, à noite, ele janta bem e bebe meio litro de vinho, porque o álcool tende a ajudá-lo a dormir.

O segundo paciente não tem nenhum dos comportamentos do primeiro, mas sente grande ansiedade ao longo do dia, preocupa-se excessivamente com detalhes sem “importância” e não suporta a ideia de que algo não saia como planejado, o que gera uma constante nervosismo e às vezes até palpitações; à noite você não consegue adormecer porque não consegue parar seus pensamentos preocupantes sobre tudo o que tem que fazer no dia seguinte.

Além do problema apresentado por ambos ser o mesmo, os mecanismos que o mantêm são muito diferentes. No primeiro caso, o sujeito está realizando comportamentos de sono desadaptativos, provavelmente porque não foi suficientemente informado sobre isso e porque possui alguns mitos sobre o assunto (por exemplo, que o álcool ajuda a dormir).

Embora isso possa ser verdade em princípio, é verdade que o álcool também altera os padrões de sono, tornando-o menos repousante e causando dificuldades em mantê-lo. Nesse sentido, algumas sessões de orientação e psicoeducação onde se ensinam comportamentos mais funcionais sobre o sono, desfazemos certos mitos sobre o mesmo e se esclarecem as dúvidas, poderiam resolver o problema do paciente de forma simples, evitando que a situação se agrave e as dificuldades comecem a aparecer em outras áreas de sua vida.

No segundo caso vemos que além da insônia, o paciente apresenta muitos outros sintomas típicos de um transtorno de ansiedade.

Nesse caso, a insônia se apresenta como consequência (somada a muitas outras: ansiedade, palpitações, preocupação, irritabilidade, alta auto-exigência) de um problema central com maior grau de sofrimento que, para ser resolvido, exigirá uma tratamento psicoterapêutico de longo prazo com objetivos acordados entre ambas as partes que provavelmente incluirão uma mudança de pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Será que ir a um psicólogo realmente vai me ajudar?

Ainda existe algum ceticismo sobre a ajuda profissional de um psicólogo e é importante esclarecer o motivo disso. Nas últimas décadas, inúmeras abordagens terapêuticas foram cientificamente apoiadas no tratamento de muitas condições mentais.

No entanto, apesar das evidências em favor desses tratamentos, ainda são poucas as pessoas que os acessam ao fazer uma consulta psicológica. Isso se deve à existência de uma lacuna entre a pesquisa e a prática clínica, que, felizmente, está sendo reduzida nas novas gerações com maior utilização de tratamentos baseados em evidências. Cada vez mais, pesquisas apoiam a ideia de que a saúde física e emocional estão fortemente ligadas, portanto, consultar um psicólogo pode ter um impacto positivo na saúde geral de uma pessoa. No mesmo sentido, há evidências consistentes de que pessoas com problemas emocionais que fizeram várias sessões com um psicólogo estavam em melhores condições do que aquelas que não foram tratadas, e 75% delas melhoraram após seis meses de tratamento.

Em suma, as evidências científicas são realmente fortes sobre a eficácia de vários tratamentos psicológicos na saúde geral das pessoas. No entanto, é necessário tomar esses dados com cautela e não generalizá-los.

A questão da efetividade da psicoterapia é um tema muito discutido e embora a utilização de práticas de saúde baseadas em evidências forneça certas garantias para a efetividade do tratamento, também se viu que a relação terapêutica entre paciente e psicoterapeuta tem uma magnitude considerável. Nem todos os psicólogos que oferecem psicoterapia são formados em práticas de saúde baseadas em evidências, e nem todos os psicólogos formados nessas práticas são capazes de estabelecer uma relação terapêutica efetiva.

Consequentemente, não é fácil responder à pergunta do título desta seção e, em última análise, isso dependerá da escolha do profissional de cada um.

E você, tem tido dificuldades para tomar a decisão de ir ao psicólogo? Você acrescentaria alguma outra recomendação além das que demos? Envie-nos um e-mail com seus comentários.

Lourenco Vieira

Psicologo Clinico y Neurocientista – Bolsista CAPES/UFJF

lourenco.vieira@unifesp.br

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