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O autocuidado na era da produtividade: descubra como desenvolvê-lo!

Atualmente somos cercados por um apelo constante por produtividade que vem por várias fontes às quais estamos expostos e em várias áreas da vida, áreas como trabalho, estudo, vida pessoal. 

Os apelos do mundo externo e o autocuidado

Mas diante de todos os apelos feitos pelo mundo, onde nos encontramos no meio deles? Somos solicitados a produzir diversas coisas para outros e por outros, e isso pode facilmente nos levar a esquecermos de olharmos para nós mesmos e realizarmos o tão necessário autocuidado. 

Dhein (2016), quando explora o horizonte do qual Heidegger chamava de “era da técnica”, afirma que os indivíduos acabam se movimentando nessa realidade social, a qual era vivenciada na época, expressando a busca por um funcionalismo incessante que era tão almejado, e como consequência, a busca constante por satisfação, necessidades de acúmulo, produtividade, êxito e controle. 

Tais características desse panorama social podem causar uma restrição no âmbito individual, no sentido de reter o foco constante nessas características, despindo outras atividades, que não tenham elas como finalidade, de sentido. 

O que é autocuidado?

O autocuidado, segundo Sousa, Ribeiro e Santos (2018), consiste na dimensão do cuidado que volta o olhar para si, não excluindo, é claro, o cuidado e preocupação pelo outro e pelo mundo que nos cerca

O cuidar propicia uma vitalidade existencial por ser uma condição que se dá e que afeta nossas relações (com nós mesmos ou com o que é externo a nós).

Não há uma receita para o autocuidado, já que é algo que é construído de maneiras diversas e individuais, podendo até tomar forma de atividades que não necessariamente se voltam única e exclusivamente para a pessoa que o pratica, mas que também são consideradas uma forma de autocuidado.

Por serem algo tão único e variável, essas ações de autocuidado merecem um olhar cuidadoso de nossa parte para compreendermos o que é cuidar de nós mesmos e como esse cuidado se dá. Seria na forma de um exercício? De uma comida cuidadosamente preparada? Degustar um café sentado em uma padaria entre o ir e vir cotidiano? 

São perguntas simples e que só aos poucos nós vamos descobrindo as respostas, seja com a sensação que elas nos trazem ou simplesmente com a experiência de tentativas, que podem ser frustradas ou não. 

Da mesma forma que cada um descobre o que o caracteriza como cuidado, também tem que atentar para a descoberta de introduzir tais formas de cuidado de uma maneira que elas não se tornem mais uma obrigação diária, como é apontado pelo artigo do site Newton Paiva. “Cada pessoa constrói seu próprio caminho de cura, não de maneira estática, mas na reinvenção de si mesmo.” (HEIDEGGER, 2005 apud SOUSA; RIBEIRO; SANTOS, 2018).

Por que a terapia pode ser considerada uma forma de autocuidado?

O espaço terapêutico é um espaço exclusivo do cliente. É um espaço de fala e de escuta sem julgamentos, possibilitando que o próprio sofrer do cliente encontre seu espaço e seu lugar. Dar ouvidos ao próprio sofrimento e acolhê-lo como algo que faz parte de si é uma forma de cuidar-se e dar voz a algo que às vezes tem seu espaço muito reduzido nas nossas vidas cotidianas, seja por falta de tempo ou de liberdade para fazê-lo. 

Às vezes as angústias são carregadas por muito tempo sem receberem um olhar, e se propor a dedicar um tempo para olhar para elas e falar sobre elas pode ser muito enriquecedor para a saúde psicológica. Camasmie e Sá (2012) apontam que a psicoterapia aparece como espaço de cuidado justamente por oferecer uma quebra dos modos de convívio cotidiano, onde a pessoa que procura um psicoterapeuta tenta quebrar a inércia que faz parte do modo como comumente são olhadas as dores existenciais. 

A psicoterapia, portanto, busca promover espaço para a abertura de modos outros que possam transformar tais espaços de convivência voltados à existência.

E agora? Como introduzir o autocuidado na rotina?

Como dito lá em cima, não existe uma receita de bolo que funcione da mesma maneira para todos, mas é importante ter em mente que é necessário respeitar o tempo individual, assim como as possibilidades de cada um. 

Nem todos podem correr durante uma hora ao dia e talvez tentar introduzir uma corrida de uma hora sem a real vontade de fazê-la significa frustrar-se logo no começo do processo, vendo que não foi possível realizar mais uma atividade adicionada à lista de afazeres diários. 

Respeitar os horários, condições próprias e o sentido que aquilo tem para quem está realizando são essenciais para que se mantenha uma rotina mais leve e mais fácil de se seguir. 

E tirar o caráter de obrigatoriedade das ações que se gostaria de fazer possibilita olhar para a atividade não como algo que tem que ser feito, mas algo que se quer realizar.  

 

Referências:

Dhein, C. F. A. . Existências enclausuradas à automatização da era da técnica: Uma interpretação fenomenológico-hermenêutica das compulsões na contemporaneidade. In: Feijoo, Ana Maria Lopez Calvo; Lessa, Maria Bernadete Medeiros Fernandes. (Org.). Psicopatologia: Fenomenologia, lteratura e Hermenêutica.. 1ed.Rio de Janeiro: Edições IFEN, 2016, v. 1, p. 171-206.

Sousa, C. M. M.; Ribeiro, M. S. S.; Santos T. L. S. (2018). Experiência de autocuidado nos processos formativos. Linhas Críticas, 24.

Camasmie, A. T.; Sá, R. N. Reflexões fenomenológico-existenciais para a clínica psicológica em grupo. Estudos e Pesquisas em Psicologia, vol. 12, núm. 3, 2012, pp. 952-972

Como o auto cuidado pode ajudar a ter mais produtividade no trabalho? https://www.newtonpaiva.br/deolhonasuacarreira/como-o-autocuidado-pode-ajudar-a-ter-mais-produtividade-no-trabalho