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O grito silencioso da depressão masculina

O alto índice de mortalidade por suicídio entre os homens

O sistema de informações sobre mortalidade (2017), aponta que a taxa de mortalidade por suicídio entre homens é de 9,2 para cada 100 mil habitantes, 4x maior do que em mulheres (2,4 para cada 100 mil habitantes). 

Além disso, a associação brasileira de psiquiatria (2019), aponta que a depressão é a maior causa da ideação suicida entre homens, da tentativa ou do suicídio de fato. Um dos fatores que corroboram para este alto índice de suicido entre homens é o fato de que geralmente, eles utilizam métodos mais letais para concluírem o suicídio, como armas de fogo ou envenenamento, o que dificulta o posterior salvamento. Muitas vezes, quando o socorro chega até a pessoa, já é tarde demais. 

Contudo, o maior agravante para o estabelecimento do quadro de depressão e sucessivas tentativas de suicídio entre homens está no fato deles procurarem menos ajuda profissional em comparação com as mulheres. 
Isto nos desperta a reflexão sobre o que contribui para que eles não procurem ajuda especializada em suspeita de depressão e se suicidem mais do que as mulheres?

Devemos compreender que este fenômeno é uma consequência de uma cultura nociva aos homens. Existe uma crença social estimulada por um sistema patriarcal e machista que dita regras rígidas e códigos de conduta sobre o que é esperado para o comportamento masculino.

Não são escritas, não são leis e não exigem obrigatoriedade. No entanto, repercutem a nível inconsciente em todas as fases de suas vidas, fazendo com que estes homens acreditem nelas e se sintam impelidos a agir de acordo com estas normativas, a fim de que confirmem sua masculinidade. Regras que são internalizadas e repassadas de geração em geração.

Quem nunca ouviu falar que homem não chora? Que não deve expressar emoções? Não pode demonstrar sentimentos? Deve estar sempre disposto a fazer sexo? Precisa brincar com carrinhos, mais tarde gostar de assistir futebol e luta? Não deve ser muito vaidoso e tem a obrigação moral de prover e sustentar a família?

Estas crenças acabam impedindo que homens se sintam à vontade para expressarem seus sentimentos, deixa-os desconfortáveis em situações onde haja afeto genuíno de amizades masculinas e por fim dificulta a aquisição de inteligência emocional para lidarem com conflitos sem o uso da violência, pois eles têm muita dificuldade em construir um diálogo e aprenderam a resolver os conflitos interpessoais de forma agressiva.

O papel social criado pela cultura

Homens são ensinados desde a infância a suprimir seus sentimentos para cumprir um papel social de homem forte, inabalável, protetor e provedor da família, fazendo com que qualquer comportamento que esteja fora deste padrão seja visto de forma pejorativa.

Não podemos negar que estas crenças corroboram para a manutenção do machismo e da homofobia em nossa sociedade, uma vez que há a constante necessidade de colocar o homem em papel superior, ao passo que o conceito de feminino é visto como subalterno e, portanto, inferior. Desse modo, qualquer ato que se aproxime de tudo que é encarado como feminino, será motivo de piada, desprezo e desrespeito.

Ao passo que o machismo favorece os homens em muitos aspectos sociais, ele também destrói a autoestima de homens que não se identificam com todos estes ideais preestabelecidos. São homens que querem ter o direito de chorar e expressar suas vulnerabilidades, pois também são seres humanos. São homens que gostam de assistir novela, ao invés de futebol e luta, que gostam de vestir roupas da cor rosa, que gostam de ser vaidosos, que não querem se sentir obrigados a bancar suas pretendentes amorosas ou o sustento da família sozinhos, que querem ter o direito de escolher a hora certa de perder a virgindade, ou com quem perder a virgindade, que querem ter o direito de amar outros homens sem ser desrespeitados por isto, e que não querem precisar afirmar a sua masculinidade o tempo todo.

Os Homens procuram menos serviços de saúde, e quando se trata de saúde mental é pior ainda. Eles sentem que o simples fato de procurar um tratamento que os recupere da depressão ou de outros problemas emocionais, automaticamente representaria que eles são homens frágeis, fazendo com que muitos escolham praticar o suicídio quando suas dores já estão insuportáveis demais para serem superadas.

Mais do que uma crítica social a crueldade do machismo imposta aos homens, roubando deles a humanidade da qual possuem o direito vitalício de usufruírem, este texto serve para alertá-los sobre os prejuízos ocasionados por crenças sociais limitantes e destrutivas diante de um conceito de masculinidade tóxica e ao mesmo tempo convidá-los a desconstruírem as ideias deturpadas acerca destes conceitos de masculinidade dos quais eles se tornaram prisioneiros, para refletirem sobre os prejuízos de ações que os levam a um quadro de depressão e outros problemas psicológicos e para procurarem ajuda especializada de profissionais de saúde mental que tem a capacidade técnica de orientá-los, ouvir suas dores e de ajudá-los a encontrarem as melhores alternativas para a resolução dos seus problemas mais íntimos.

O suicídio nunca é a solução

Não há absolutamente nada de errado em se sentir vulnerável diante dos desafios e dificuldades, que são muitas vezes impostas em nossos caminhos. Precisamos de homens humanos e não de super heróis. Homens que precisam crescer emocionalmente saudáveis e tranquilos, que se sintam livres para poderem agir sem medo de terem suas masculinidades negadas ou reprimidas em detrimento de crenças sociais negativas. 

A depressão é uma doença totalmente curável e que não pode ser banalizada. Se você tem algum problema de pele, faz sentido que procure um dermatologista para tratar esta demanda.

Se você tem uma dor de dente, é necessário que busque o atendimento de um dentista. De modo semelhante, se você está enfrentando alguma dificuldade emocional, fará muito sentido que procure uma ajuda especializada.

Um psicólogo pode ajudá-lo(a) a enfrentar seus medos, apontar caminhos viáveis e cicatrizar suas feridas mais profundas para que você viva com mais qualidade de vida. Devemos ter em mente que as dificuldades são temporárias e não definitivas. Muitas vezes, você não está conseguindo enxergar uma saída pois o seu sofrimento está tomando conta do seu desejo de viver. Se você está passando por alguma dificuldade emocional, não hesite em buscar a ajuda de um psicólogo. Curta uma vida sem rótulos e tenha mais qualidade de vida!

 

Referências:

Disponível em: https://medium.com/revista-subjetiva/por-que-a-taxa-de-suic%C3%ADdio-%C3%A9-maior-entre-os-homens-1e558ca2a061

Marín-León, L., & Barros, M. (2003). Mortes por suicídio: diferenças de gênero e nível socioeconômico. Revista de Saúde Pública37, 357-363.