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A grande jornada da mulher moderna: como as pressões e os estigmas sociais impactam na saúde emocional 

O cansaço e a sobrecarga

Para todas as mulheres que se desdobram em mil funções: Vocês não estão sozinhas.

O histórico patriarcal sempre fez com que as mulheres precisassem ser fortes, sem qualquer opção de escolha. Cuidar do lar, dos filhos, estudar, trabalhar, ter uma profissão, e ainda serem cobradas a estarem em dia, esteticamente falando.

Se por um lado, essa independência toda é um marco e uma conquista histórica, por outro, vemos mulheres cada vez mais sobrecarregadas, cansadas, doentes, depressivas e angustiadas.

Não bastante a mega jornada cotidiana que é ser mulher, as diversas pressões sociais recaem com bastante intensidade. Julgamentos, falta de reconhecimento e desigualdade ainda são pautas importantes, pois as insígnias que envolvem a mulher moderna a obrigam a não desistir, e mais uma vez a ser forte, independente do que digam. 

Quando a exaustão física e emocional toma conta, para onde correr? Se é ela que se prontifica a ajudar o outro e está muitas vezes no controle de todas as situações. Quem a ajuda?

A masculinidade e toda essa cultura que envolve o mundo masculino, ainda é latente na nossa sociedade, fazendo com que haja resistência e preconceitos, grande fator para que os companheiros não cumpram com seus respectivos deveres igualmente à mulher, nas atividades domésticas, sempre sobrecarregando uma das partes.

Muitos homens ainda não têm consciência de que eles não precisam “ajudar” a esposa, mas sim, que ele também é parte da casa e é necessário cuidar dela tanto quanto.
Essa jornada tão desgastante de se desdobrar para atender toda a expectativa dessa esfera feminina é o que muitas vezes leva ao adoecimento. Pressões, estigmas, preconceito, falta de apoio, a problemática de conseguir um corpo perfeito, ter que dar conta de tudo, estar em dia com o salão de beleza, enfim, ser uma “super mulher”.

A autoestima feminina

Uma mulher com baixa autoestima, que não gosta do que vê no espelho, dominada pelas multitarefas, sem tempo hábil para cuidar de si, é tida muitas vezes como alguém considerada incapaz de ser autora da sua própria vida, incapaz de tomar decisões, de realizar grandes conquistas ou ainda, de ocupar grandes espaços e altos cargos. E talvez seja isso o que realmente querem de nós.

A desvalorização da mulher ainda surge muito em relatos na clínica. A boa esposa, a mulher submissa, com a estética impecável, a que tem que dar conta de tudo sem receber em troca qualquer ajuda.

Sensações de vazio, fadiga, medo, depressão, fragilidade, bloqueio e falta de criatividade são sintomas cada vez mais frequentes entre as mulheres modernas.

A essência da alma feminina

Para a psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés, ele veio junto com o desenvolvimento de uma cultura que transformou a mulher numa espécie de animal doméstico. Através da interpretação de 19 lendas e histórias antigas, entre elas as de Barba-Azul, Patinho Feio, Sapatinhos Vermelhos e La Lorona, a autora identifica o arquétipo da Mulher Selvagem ou a essência da alma feminina, sua psique instintiva mais profunda. E propõe o resgate desse passado longínquo, como forma de atingir a verdadeira libertação.

90% das mulheres adultas e adolescentes chegam na clínica com queixas e adoecimento psíquico voltadas para as pressões que sofrem desde a infância. Mulheres de diversos tipos, aquelas consideradas mulheres “padrão” também. Todas com um único sentimento: a pressão estética, a busca incessante pela perfeição, pelo corpo comparado muitas vezes no Instagram.

Muda aqui, muda ali, busca-se cada vez mais por procedimentos estéticos, muitas vezes caros e invasivos, assim como dietas restritivas e destrutivas.

Naomi Wolf no livro “O mito da beleza” questiona pressões as estéticas. Pressões estas que levo como reflexão para dentro do consultório.

Segundo Wolf, a beleza é entendida como uma qualidade fundamental, estimulando competições entre mulheres e também entre os homens, que disputam as ditas mais belas. Exercendo pressão pela busca de uma aparência ideal, o mito da beleza seria uma das ficções elaboradas para controlar mulheres na sociedade patriarcal.

Entre essas ficções também estariam a mística feminina, a histeria, a necessidade de ocupar mulheres com trabalhos manuais repetitivos, etc.

Traduzindo: o mercado da beleza quer lucrar com o ódio ao nosso próprio corpo e com a baixa autoestima.

Na política: querem enfraquecer as mulheres na representação política, controlando suas relações e posições no mercado de trabalho.

Mulheres ainda sofrem (e muito) com os efeitos nocivos dos padrões e estão de frente ao excesso de informação que fixam esses padrões. A conta de tudo isso, quem é que paga?  Uma grande onda de empoderamento feminino e sororidade tem auxiliado no processo de reconstrução da mulher na sociedade, mas ainda é necessário olhar com mais carinho para a sobrecarga emocional das mulheres. Quando fala-se em exaustão mental, lembramos logo de questões relacionadas à controle, à produtividade, ao rendimento e à necessidade de dar conta de tudo. 

O cansaço mental nas mulheres

Diante de tudo isso nos deparamos com mulheres mentalmente cansadas e, muitas vezes, adoecidas psicologicamente.

Um quadro de estafa mental, acontece quando o cérebro fica sobrecarregado devido ao excesso de informações captados durante o dia, seja devido ao trabalho ou aos estímulos e notícias que chegam através das redes sociais e de informação, por exemplo.

Dessa forma, há desregulação do sistema nervoso e aumento da concentração no sangue do hormônio relacionado ao estresse, ao cortisol, resultando em cansaço mental.

Podemos citar aqui, alguns dos sinais que alertam para sintomas de cansaço mental:

Estes são alertas de que a mulher necessita de ajuda. Tais sintomas podem desencadear demais transtornos, dificultando ainda mais na realização de tarefas cotidianas, trazendo ainda grandes prejuízos cognitivos nas suas relações e afetando a autoestima.

Hoje o grande trabalho é o de desconstrução dos estigmas que permeiam o universo feminino, para que seja fortalecido e valorizado cada vez mais esse processo de independência, autonomia e promoção da saúde da mulher.

É necessário entender que a mulher é mais do que máquinas, mais do que apenas o seu órgão feminino, mais do que aquela que gera vida, que materna e cuida da casa. Compreender a mulher como um todo, com suas vulnerabilidades e potencialidades, fazer com que ela própria se acolha e não acredite que buscar ajuda a faça menos forte ou incapaz.

É necessário que se tome consciência de que a mulher não precisa ser ajudada, ela precisa de um companheiro que divida tarefas, fazendo-se necessário a tomada de consciência por parte dos homens. É importante que nos permitam errar e sermos imperfeitas, é preciso entender que descanso é investimento, de que não se pode dar conta de tudo o tempo todo e que pedir ajuda não nos torna fracas.

E, quem sabe, pelo menos, trazer um pouco da sensação de desabotoar aquela calça que tanto nos aperta, mas que a gente insiste em usar.