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Como a violência psicológica interfere na saúde mental das mulheres?

A violência psicológica é um fenômeno complexo e costuma ser entendida como uma síndrome psicossocial multidimensional. É considerada psicossocial porque afeta indivíduos, grupos de trabalho, e organizações, e produz disfunções tanto no nível individual quanto no coletivo, produzindo influencias externas importantes.

É tido como multidimensional porque costuma apresentar uma serie de sintomas psicológicos e físicos, específicos e não específicos, e que não apresentam uma configuração típica e fácil de ser diagnosticada.

A violência psicológica sempre foi uma realidade vivenciada pelas mulheres, vindo a afetar a multidimensionalidade da mulher, e sua invisibilidade deixa marcas ocasionadas por sua frequência, e a forma trivial com a qual é tratada causa uma desestruturação da identidade individual. 

A violência de gênero contra a mulher deve ser considerada como um problema de saúde pública, e é caracterizada como qualquer ato que gere ou tenha a probabilidade de gerar dano ou sofrimento, seja ele psicológico, sexual ou físico a mulher.

Atualmente existem programas de apoio a essas vítimas, e através da práticas desses programas de atendimento pode-se perceber que a maioria das queixas surgem de mulheres que são vítimas de violência dentro de suas casas. Esta informação deixa em evidencia que a violência doméstica, seja ela física ou não, vem transformando-se em uma maneira cada vez mais agressiva de violência contra a mulher. 

É importante ressaltar que a maioria das mulheres que passa ou já passou por uma situação de abuso psicológico não conseguem identifica-la facilmente. Visto que as agressões começam de forma sutil e vão se agravando conforme o tempo vai passando.

Violência doméstica

A violência doméstica acontece dentro do ambiente doméstico e pode ser praticada por qualquer membro da família. Existem várias formas de violência que podem vir a acontecer nesse espaço, e geralmente esses atos são cometidos principalmente pelos maridos, namorados, ex-namorados.

Ademais, a violência domestica divide-se em:

Violência física:

Caracterizada por um dano físico, devido ao uso de instrumentos que causem a lesão;

Violência sexual:

Onde a pessoa que detém o poder obriga a outra a praticar o ato sexual contra sua vontade, utilizando força física ou coagindo-a psicologicamente;

Violência psicológica:

Que vem a ser qualquer ato que cause ou tenha a intenção de causar dano à identidade, à autoestima ou ao desenvolvimento da pessoa, incluindo humilhações, chantagens, ameaças, criticas sobre todos os atos da pessoa, privação de liberdade, privação de contato com outras pessoas. 

Esta vem a ser a forma mais frequente de abuso e a mais difícil de ser identificada, capaz de causar danos enormes ao psicológico da vítima, porque inicia de forma sutil e vai piorando ao longo do tempo, deixando a vítima totalmente debilitada emocionalmente e psicologicamente, acabando com sua autoestima.

Violência psicológica e saúde mental das mulheres

A naturalização é confundida com a banalização da violência contra a mulher, especialmente a violência psicológica, porque esta não deixa marcas ou cicatrizes no corpo, e também atua como “porta de entrada” para a ocorrência e continuação de outras formas de violência.

A violência psicológica está ocorrendo gradualmente e aumentando. Começa bem leve e vai se intensificando ao longo do tempo. No início, a atitude do parceiro é em relação ao controle da mulher e da restrição da liberdade dela, como por exemplo: sugerir que ela troque de roupa, troque de maquiagem ou desista de ir a algum lugar com a família ou amigos.

Com o passar do tempo, o comportamento do homem torna-se mais rude e a agressão verbal torna-se mais evidente, como por meio de exposições públicas, críticas, gritos, xingamentos e humilhações. Nessa fase, é normal que a mulher comece a inventar desculpas para si mesma e para os outros a respeito do comportamento do parceiro.

Ao adotar esse ato de inventar desculpas para esses comportamentos, a vítima começa a legitimar a violência do agressor e a tomar como verdade as ofensas que lhe são dadas, e também passa a acatar tudo que ele impõe. Diante da exposição constante a esta situação, logo os danos à sua saúde emocional e física, aparecem.

Além disso, a obediência sistemática da mulher ao seu parceiro violento é um processo que, no início é sutil e gradual, quase como uma “lavagem cerebral” que, com o tempo, tira dela a capacidade de se defender. Vários estudos mostraram que mulheres que sofrem violência psicológica repetitiva apresentam vários distúrbios psicopatológicos e significativo sofrimento psíquico.

A violência psicológica compromete a saúde mental, por interferir na crença que a mulher tem sobre sua competência, ou seja, sobre a capacidade de usar adequadamente seus recursos para realizar as tarefas relevantes em sua vida.

A mulher pode apresentar distúrbios na capacidade de se comunicar com outras pessoas, reconhecer e se envolver de forma realista nos desafios encontrados, bem como desenvolver sentimento de insegurança quanto às decisões a serem tomadas. 

Ocorrências expressivas de alterações psíquicas podem surgir em decorrência do trauma, incluindo o estado de choque, que ocorre imediatamente após a agressão e dura várias horas ou dias. Para tentar conseguir lidar com essa realidade, a mulher precisa abrir mão não apenas de seus sentimentos, mas também de suas vontades.

Assim, ela começa a desenvolver um senso de incapacidade, inutilidade e baixa autoestima devido à perda do amor próprio e da valorização de si mesma.

Conclusão

Diante do exposto, conclui-se que a violência psicológica afeta de maneira negativa à saúde psíquica da mulher, que após um certo período de tempo sendo exposta a humilhações, privações, xingamentos, o seu bem-estar é afetado.

Consequentemente a mulher vem a desenvolver transtornos como:

A violência psicológica deve ser um tema bastante abordado, visto que é tido como um problema de saúde pública e de difícil identificação, principalmente para a mulher, trazendo implicações negativas, onde algumas de suas consequências podem ser revertidas e outras, infelizmente, não.

 

Referências Bibliográficas:

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