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Como lidar com situações conflituosas sob o olhar da Gestalt-Terapia

Foto de Monstera no Pexels

Um pouco sobre situações conflituosas

Ao longo da vida o indivíduo pode passar por diversas situações conflituosas em várias áreas, como na afetividade, na sexualidade, na vida profissional, na vida familiar, nos relacionamentos sociais, dentre outros.

Todavia, torna-se salutar perceber como estas situações se organizam, se o indivíduo vive muitas situações conflituosas, bem como o consumo de energia que o indivíduo “gasta” nas ditas situações.

Pode-se falar que a sociedade constrói ideais de perfeição, no sentido em que as pessoas buscam um modelo ideal que por várias vezes não está em sintonia com suas reais necessidades e suas potencialidades como um todo.

O indivíduo é muitas vezes “tolhido” no sentido de realizar suas potencialidades, ficando também limitado em sua criatividade. Para a Gestalt-terapia, somos voltados à autorealização, porém surgem conflitos quando a pessoa não encontra na sociedade ou no meio um terreno fértil que as faça brotar como indivíduos autênticos.

Para Perls; Hefferline; Goodman (1997) os conteúdos da sociedade são introjetados nos indivíduos sem que haja oportunidade de assimilação saudável, passando este a embotar suas emoções e perder sua vitalidade.

O indivíduo consome de maneira excessiva a energia vital em situações conflituosas podendo, por vezes, ficar muito voltado ao passado ou a um futuro incerto, que também pode ser gerador de ansiedade. Falta a ele o autocontato com o aqui e agora, com o presente.

Assim, o indivíduo vai vivendo com estas situações inacabadas em busca de uma autoregulação organísmica e do equilíbrio em suas emoções como um todo. Diversos sintomas também podem surgir destas vivências, como:

As situações conflituosas mais comuns

Aqui vale destacar algumas situações conflituosas que são bastante comuns, incluindo o momento atual da Pandemia:

Como posso utilizar meus recursos para lidar com uma situação conflituosa?

Na Gestalt-terapia é muito utilizado o termo situações inacabadas, que se referem a situações no passado (traumáticas ou difíceis), onde o indivíduo não obteve uma resolução satisfatória para a mesma. O que está “inacabado”, “não-resolvido” pode aparecer através de sintomas como ansiedade e também como uma depressão, por exemplo. Como em muitos momentos pode não estar claro para a pessoa a situação conflituosa, ela pode viver “empacada” em suas experiências, sem dar-se conta de si.

Em um primeiro momento é importante o indivíduo passar por um processo de awareness (tomada de consciência) para que possa ir adiante. É como se o indivíduo vivesse um impasse, onde almeja o crescimento, mas resiste à mudança. Neste primeiro momento ele se dá conta de sua situação conflituosa num processo de awareness e vai trazendo para a psicoterapia sentimentos, pensamentos, sensações corporais e crenças. A pessoa passa a se experimentar e explorar sua história e vivências, a partir da tomada de consciência e do apoio obtido na terapia.

O indivíduo pode trabalhar suas emoções e expressá-las, trabalhar com a imaginação, com fantasias e perceber mais profundamente suas potencialidades. A partir de então, olhando sua verdade existencial, pode refletir os prós e contras de suas estratégias e recursos de enfrentamento para a situação vivida, buscando uma resolução eficiente.

Um exemplo seria uma pessoa que se apresenta com uma timidez excessiva em seu local de trabalho. Ao dar-se conta de suas emoções, experimentar e explorar seus sentimentos e potencialidades, pode perceber que existe outra maneira de expressar-se diante dos demais, tendo em vista ter percebido o que a aflige no ambiente, como as pessoas satisfazem suas necessidades, se há espaço para a mesma satisfazer suas necessidades em equilíbrio com este meio ou não.

Através do autocontato profundo e autodiálogo, num processo de awareness, vai se percebendo e adquirindo autosuporte, podendo utilizar-se de seus recursos da maneira que lhe é possível, cada vez mais consciente de si.

Vale ressaltar que o fechamento de algumas situações inacabadas pode nunca ser totalmente alcançado. Uma pessoa pode ter vulnerabilidades em uma área específica, todavia ela pode assimilar o que foi aprendido, podendo procurar o melhor ajustamento criativo que, segundo Frazão (1999), é a capacidade do indivíduo de interagir com o ambiente na fronteira de contato, adaptando, sempre que necessário, a demanda das necessidades às possibilidades de atendimento do ambiente.

A partir de então, pode seguir adiante com uma abertura para novas experiências.

A psicoterapia como apoio

Segundo Zinker, a vida criativa requer esforço árduo. Os resultados, produtos do trabalho podem ser ou não gratificantes, e mesmo quando não o são, a pessoa ainda tira proveito do processo em andamento.

Em um processo de psicoterapia o indivíduo pode ser ajudado no autodiálogo, onde identifica mensagens negativas que diz para si e é estimulado a construir frases positivas para substituí-las. Também é encorajado a perceber como ele usa os apoios disponíveis, tais como família e amigos, por exemplo. O apoio na relação terapêutica também é de suma importância para lidar com situações conflituosas. Pode-se dizer que o apoio saudável é uma posição de interdependência em que uma pessoa é apoiada em uma situação.

É de suma importância como a pessoa pode cooperar com o ambiente para que haja um apoio mútuo, satisfazendo suas reais necessidades na medida também em que as equilibra com as necessidades do meio.

A psicoterapia é forte aliada no momento em que o indivíduo está vivenciando situações conflituosas, tendo em vista que ele passa por um processo de maior consciência de si, percebendo seu autosuporte e maneiras mais criativas e atualizadas para elaborar tais situações. Um processo único, aonde cada um vai encontrando a sua maneira de “fechar” situações que o afligem, podendo viver novas experiências a partir deste novo aprendizado.

 

Referências Bibliográficas:

Processo criativo em Gestalt-terapia/ Joseph Zinker; (tradução de Maria Silva Mourão Netto).- 2.ed.-São Paulo: Summus,2007.Título original: Creative process in Gestalt therapy.

Técnicas em Gestalt: aconselhamento e psicoterapia/Phil Joyce, CharlotteSills; tradução de Vera Joscelyne.-Petrópolis:Vozes, 2016.