A importância do simbólico para a psicologia Junguiana

A importância do simbólico para a psicologia Junguiana
A importância do simbólico para a psicologia Junguiana

Este é meu primeiro artigo neste blog e, como tal, resolvi pegar um tema que é muito básico, mas ao mesmo tempo muito importante para a psicologia no geral, mas principalmente para a vertente Junguiana: os símbolos.

Sei que a maioria vem neste blog buscar artigos sobre transtornos e sobre conselhos de vida, o que tornaria este artigo exageradamente técnico, porém acredito que até para aqueles leigos na psicologia, entender um pouco mais sobre essas imagens pode ser um grande ganho, entendendo um pouco mais sobre si mesmos e a natureza humana.

O que estamos chamando de simbólico?

Na concepção Junguiana, um símbolo é uma imagem, idéia, conceito ou até frase que é parcialmente inconsciente e parcialmente consciente.

Mas o que isso significa? Apesar de muitas vezes acharmos o contrário, há uma parte de nossa mente que mal sabemos que existe, mas ela continua lá existindo e, muitas vezes, mudando a forma que a parte que percebemos funciona. Acho que todo mundo teve uma idéia estranha e até inconveniente, ou então esqueceu totalmente de algo, usou uma palavra que não queria, etc., tudo isso é “culpa” do inconsciente.

Em poucas palavras, o in-consciente então é a parte da nossa mente que não temos consciência, entendendo consciência como saber que existe, ter contato direto. Além dos exemplos citados anteriormente, podemos também comentar a memória como um evento de distinção entre consciência e inconsciente. Enquanto estamos lembrando de alguma informação, ela está consciente mas no momento que esquecemos, ela se torna inconsciente.

Outra grande diferença, é que o inconsciente possui uma espécie de linguagem própria, que é diferente da que usamos no dia a dia. Isso se amplia quando falamos do inconsciente coletivo para Jung, que é a base comum de toda a humanidade, assim como um prédio possui seus fundamentos, o inconsciente coletivo é a fundação da mente de cada um.

Porém, como ele é muito primitivo e ancestral, ele “fala” com a gente numa língua que não entendemos mais. Por isso são criados expontaneamente os símbolos, é uma tentativa da consciência de entender o que se passa no nosso inconsciente, no nosso mundo interno, que é parcialmente consciente por ser uma tradução feita por essa, mas parcialmente inconsciente por ser uma “mensagem” que ele manda.

Então, para que serve o símbolo na psicologia?

A resposta para essa pergunta é um pouco simples, mas muitas vezes difícil de ser compreendida totalmente: o símbolo possui capacidade de harmonizar as necessidades do inconsciente e da consciência.

Todo mundo possui necessidades externas, na nossa sociedade nós precisamos nos dar bem com as pessoas, principalmente com vizinhos e a comunidade ao redor, precisamos de um trabalho minimamente estável para pagar contas, precisamos conviver minimamente bem para podermos ir ao mercado e comprar o que precisamos, etc.

Mas também possuímos necessidades internas, precisamos do contato social com amigos, precisamos descansar, precisamos nos divertir, precisamos dar vazão aos impulsos e desejos básicos e precisamos nos expressar.

A nossa mente foi desenvolvida para funcionar no equilíbrio entre as necessidades que vêm de dentro e de fora, porém com muita facilidade escolhemos um lado sacrificando o outro, sendo que normalmente sacrificamos o lado interno, justamente por soar “estranho” por causa de sua linguagem própria.

Quanto mais nós damos espaço para os símbolos pessoais e quanto mais entendemos eles, mais podemos entender qual é nossa verdadeira essência e quais são nossas necessidades pessoais e, acredite em mim, não importa o quanta força mental você tenha, você nunca irá conseguir verdadeiramente suprimir essa essência.

Quanto mais nos conhecemos, mais vamos atingindo o estado de equilíbrio que é esperado e, quando isso acontece, o sistema regulador da nossa mente passa a funcionar de forma adequada, o que significa que os problemas da vida e, até em algum grau nossos problemas de saúde mental, acham uma solução sozinhos.

Porém, infelizmente, atingir esse estágio demanda muito esforço e dificilmente ocorre sem um processo psicológico e, mesmo que você o alcance, não significa que parará de sofrer, apenas aprenderá a lidar verdadeiramente com o sofrimento.

Onde os símbolos aparecem, como posso entendê-los?

Tudo o que a criatividade humana cria é simbólico em algum grau, logo, se você for um artista, mesmo que amador, você vive rodeado de símbolos pessoais, tudo o que você escreve, desenha, pinta, esculpe, canta, dança etc. possui símbolos e, se prestar atenção em por que você fez da forma que fez, pode dar várias pistas para o autoconhecimento.

Caso você não seja um artista, é uma boa hora para começar a tentar a ser, mesmo como hobby, há várias vantagens em criar arte de qualquer tipo, que estão para muito além da expressão ou o treinamento de habilidades. Não tem interesse em artes? Os jogos e esportes são ótimas ferramentas para essa expressão, tanto que muito facilmente dizemos que uma boa jogada é artística, né? Porque, psicologicamente, elas possuem o mesmo valor.

Se nada disso lhe interessa, ainda podemos apelar pro dia a dia: as idéias súbitas, os lampejos de criatividade, ou até a forma como fazemos as tarefas diárias, como trabalhamos, dirigimos ou até lavamos a louça podem possuir alguns lampejos da nossa verdadeira natureza.

Em ultimo caso, preste atenção em seus sonhos, o que nós sonhamos é a própria expressão do inconsciente, sendo que muitos autores dizem que esse é o verdadeiro caminho para entender o inconsciente.

É muito difícil entender esses símbolos sem ajuda, não só porque é necessário técnica, mas também porque eles são um tanto traiçoeiros, sempre estão a um passo do que a consciência pode compreender, logo para interpretar um símbolo que você mesmo produziu sozinho, irá precisar de um esforço maior do que está acostumado.

O método que os psicólogos de base Junguiana usam é o seguinte: tentar esmiuçar cada elemento do que está sendo analisando a partir da visão de quem produziu. Por exemplo, se é um desenho de uma arvore, o que significa arvore para a pessoa? O que significa a cor da folha ser verde? O que é esse buraco e o que ele significa?

Após essas perguntas, buscamos os elementos que a pessoa não respondeu em um dicionário de símbolos ou afins, já que entendemos que aquilo faz parte da base geral humana e não fruto da experiência pessoal. Com todas essas respostas em mãos, é mais ou menos fácil para um psicólogo experiente criar uma “historinha” do que aquela expressão possa significar.

Notas finais

Para além de estabelecer a comunicação e harmonia entre os dois lados, nós humanos precisamos dos símbolos porque uma vida totalmente comum nos deixa doentes, precisamos da ficção, da magia, do encantamento para viver psicologicamente o que é impossível de viver concretamente: a experiência que nossa vida não é só trabalhar, comer e dormir.

Referências

  1. CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos.  26 ed, Rio de Janeiro: José Oympio, 2012.
  2. JUNG. C.G. A vida Simbólica vol1. 5 Ed.. Petrópolis: Vozes, 2011. 
  3. JUNG. C.G. Natureza da psique. 8 Ed.. Petrópolis: Vozes, 2011. 
  4. JUNG. C.G.  O espírito na arte e na ciência. 6 Ed.. Petrópolis: Vozes, 2011.
Alex Fernandes Nunes
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