O “amor materno”: um mito contemporâneo

mito do amor materno
O “amor materno”: um mito contemporâneo

A ideia romantizada de “maternidade” e “amor materno”, tais como conhecemos hoje, são construções sociais compreendidas a partir da articulação com os diversos contextos políticos. E ainda: econômicos e socioculturais de cada época.

Uma breve retrospectiva histórica torna evidente que tais conceitos são produto de discursos e práticas, e sofreram alterações significativas no decorrer dos séculos. Ou seja, nem sempre foi assim.

Entenda melhor o assunto!

Pesquisando a história

No modelo estrutural da família aristocrática, por exemplo, nos séculos XVI ao XVIII, as mulheres, cuja função era sobretudo ter filhos, praticamente não participavam da criação deles.

Dessa forma, recém nascidos eram entregues aos cuidados de uma ama-de-leite ou a uma outra família, logo após o nascimento.

Com isso, o contato entre mãe e filho era quase inexistente, bem como o amor ou qualquer outro sentimento. Até os teólogos da época caracterizam as demonstrações de carinho como pecado e fraqueza, e o ato de amamentar não poderia estar ligado ao prazer, por vezes sendo até evitado.

Consequentemente, além de afetar a saúde nutricional do bebê, gerava-se uma independência emocional entre mãe e filho que dificultava a construção de afeto e a identificação da criança para com a figura materna (e vice-versa).

Mudanças com a revolução industrial

No entanto, após a revolução industrial, o cenário muda. A mortalidade infantil estava em alta e a Europa vivia uma terrível crise econômica.

As crianças daquele momento seriam a futura mão de obra no mercado, assim que atingissem a fase adulta. Para para que isso fosse possível, era preciso que sobrevivessem até lá.

Sabido disso, o Estado precisou intervir e promover uma mudança através de discursos que convencessem as mães de que era sua responsabilidade cuidar e amamentar os seus filhos, implementando a ideia de que a criança era um ser precioso para a família e para sociedade e que deveria ser protegida e zelada, de modo que conseguissem reduzir a mortalidade infantil.

As sucessivas reorganizações familiares se deram paralelamente ao surgimento da ideia de infância e foram modificando o significado de maternidade e a relação entre mãe e filho ao longo do tempo.

Essa mudança foi motivada por interesses econômicos e incentivada por produções literárias e discursos higienistas de áreas da saúde, como a psicologia e a psiquiatria, que contribuíram para construção desse ideal de amor onde o cuidado e o amor maternos seriam, mais do que desejáveis, naturais, incondicionais e universais, como uma espécie de instinto.

Associação de amor e mãe

As sucessivas reorganizações familiares se deram paralelamente ao surgimento da ideia de infância e foram modificando o significado de maternidade e a relação entre mãe e filho ao longo do tempo.

Essa mudança foi motivada por interesses econômicos e incentivada por produções literárias e discursos higienistas de áreas da saúde, como a psicologia e a psiquiatria, que contribuíram para construção desse ideal de amor onde o cuidado e o amor maternos seriam, mais do que desejáveis, naturais, incondicionais e universais, como uma espécie de instinto.

Sobretudo, o intuito aqui não é afirmar que nenhuma mulher deseja ser mãe ou que, ao se tornar uma, não ama o seu filho. A discussão levantada busca problematizar a crença de que esse desejo e esse amor seriam intrínsecos à espécie humana, algo que surge em todas as mulheres, invariavelmente.

Pelo contrário: não é real a existência de um natural e instintivo amor pelos filhos. O instinto, em geral, não nos determina. O ideal do “amor materno”, como vimos, foi construído socialmente e forjado pela linguagem. Somos seres de linguagem e o amor é do campo da linguagem. É ela quem permite a sua existência.

Sem peso

Por fim, uma análise enquanto tratamento psíquico pode auxiliar as mulheres e as mulheres-mães a lidarem com o peso e a cobrança dessas fantasias e idealizações, tanto quando se tem um filho, quanto quando decidem não o ter.

Em ambos os casos, em alguma medida, alguns sentimentos são frequentes, como:

  • Culpa,
  • Angústia,
  • Frustração estão presentes.

O processo analítico opera no sentido de fortalecer a mulher na tomada de suas próprias decisões, além da apropriação e sustentação do seu próprio desejo.

Dessa forma, conduz à elaboração das questões conflitivas existentes, sejam elas conscientes ou inconscientes.

Fonte: Bruno Martins, psicólogo da Psicologia Viva.
O psicólogo é especialista em temas como acompanhamento pessoal, morte e luto, questões raciais, conflitos familiares, depressão e estresse, dentre outros assuntos.
Para marcar uma consulta, acesse: https://perfil.psicologiaviva.com.br/brunomartins

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