Com o crescente reconhecimento da diversidade de identidade de gênero, torna-se essencial abordar as experiências únicas vivenciadas por homens trans que decidem iniciar uma gestação.
Neste artigo, iremos focar em como a psicoterapia pode desempenhar um papel fundamental no apoio emocional e na construção de uma saúde mental positiva durante esse processo.
Conversamos com Cristina Mazzo, psicóloga da Psicologia Viva, para entendermos melhor o assunto.
“É importante salientar, sobretudo quando falamos de gestantes, que as barreiras pré-estabelecidas também interferem no acesso de pessoas trans à saúde, e que algumas das questões referentes a estas barreiras, quando o assunto é o ciclo gravídico-puerperal e o público LGBT+, são a perda da especificidade dos atendimentos e o fato de que essas pessoas, muitas vezes, se sentem repelidas pelos serviços de saúde porque imaginam que podem (ou já experienciaram) passar por violência psicológica, verbal ou física”, explica.
A profissional reforça que as dificuldades têm início no fato de que a própria medicina é cis-héteronormativa, e a cisnormatividade tende a tornar invisível a existência de experiências trans, transmitindo a ideia de reprodução vinculada unicamente a mulheres cis, negligenciando outros corpos que apresentam biologicamente as mesmas
possibilidades.
Diversos obstáculos
A psicóloga ainda traz outro fator determinante para os obstáculos no acesso à saúde por pessoas trans – as barreiras econômicas.
Elas refletem suas vivências marginalizadas pela sociedade onde, muitas vezes, são estigmatizadas ao serem enxergadas como “mentalmente desordenada” e/ou “desviantes sexuais”.
“O resultado, então, é a intolerância constantemente presente, inclusive, em suas próprias casas e nas escolas, motivo que, por vezes, estimula o afastamento do lar ou dos estudos – fato que pode, ainda, conduzir a uma gama estreita de ocupações, e que, frequentemente, leva as pessoas trans ao desemprego ou ao subemprego e a habitar as ruas”, afirma.
Todos esses fatores somados produzem estresse e condições de saúde e bem-estar pobres para a população trans, promovendo um ambiente propício para o desenvolvimento de uma cadeia de adoecimentos da saúde mental.
Pesquisas recentes também demonstram que problemas cardíacos são uma das maiores causas de morte na população trans, tamanho o grau de esse a que são constantemente submetidos.
Mudanças na gestação
Durante a gestação, as pessoas trans enfrentam uma série de mudanças físicas e emocionais únicas, que podem trazer desafios e questionamentos.
Enquanto seus corpos se adaptam para abrigar e nutrir um bebê, os homens trans podem viver um conflito entre suas identidades de gênero e mudanças corporais associadas à gestação. Essa desconexão pode gerar ansiedade, disforia de gênero e preocupações relacionadas à aceitação social e familiar.
Além das transformações físicas, as pessoas trans gestantes também podem se deparar com uma série de desafios sociais e burocráticos.
A falta de conhecimento e sensibilização da sociedade em relação à diversidade de identidade de gênero pode resultar em situações desconfortáveis e discriminatórias.
“É preocupante constatar que existe um evitamento do contexto clínico num período de vida onde as pessoas necessitam de acompanhamento especializado adequado, pois a ausência deste constitui um acréscimo na vulnerabilidade já vivenciada (principalmente – psicologicamente falando – devido a este ser um momento onde podem se acentuar a depressão e outros transtornos e/ou síndromes pré-existentes, por conta da exacerbação
destes conflitos externos e/ou internos)”.
O papel da psicoterapia na gestação do homem trans
A psicoterapia desempenha um papel fundamental no suporte emocional e psicológico durante a gestação de um homem trans. Ao enfrentar as complexidades dessa experiência, é comum que surjam sentimentos de ansiedade, insegurança e disforia de gênero.
A psicoterapia proporciona um espaço seguro e acolhedor onde os homens trans gestantes podem explorar e expressar esses sentimentos, ajudando a lidar com as emoções conflitantes e promovendo o autocuidado.
Um terapeuta qualificado pode oferecer apoio individualizado, fornecendo estratégias para gerenciar o estresse, fortalecer a autoestima e desenvolver mecanismos de enfrentamento saudáveis.
Através do diálogo terapêutico, podem ser exploradas questões relacionadas à identidade de gênero, ajustes na vida social e profissional, além de auxiliar no enfrentamento dos desafios sociais e familiares que podem surgir durante a gestação.
A psicoterapia também pode ser uma oportunidade para discutir as expectativas e preocupações em relação ao papel do pai, apoiando a construção de uma parentalidade saudável e positiva.
Além disso, o terapeuta pode atuar como defensor e facilitador na busca por cuidados médicos adequados, ajudando a pessoa trans gestante a se preparar para interações com profissionais de saúde e fornecendo orientações sobre como lidar com possíveis situações discriminatórias.
A psicoterapia contribui para o fortalecimento do suporte social e emocional durante todo o processo, auxiliando no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e na promoção de um bem-estar psicológico equilibrando para os homens trans gestantes.
Como escolher a melhor terapia?
A profissional orienta que o melhor caminho é sempre buscar referências.
“O mais indicado é procurar alguns detalhes sobre o tipo de prática que o profissional escolhido exerce, ou, ao
contrário, pesquisar sobre algumas teorias para dar início ao processo de escolha do psicoterapeuta”, esclarece.
Depois de escolhido o estilo, olhar para a terapia online pode ser um bom caminho.
Isso porque a terapia online tem se tornado uma opção cada vez mais popular e acessível para pessoas trans gestantes, oferecendo uma série de benefícios significativos.
Primeiramente, a terapia online elimina barreiras geográficas, permitindo que indivíduos tenham acesso a profissionais especializados, independentemente de sua localização. Isso é especialmente importante para pessoas que vivem em áreas onde recursos especializados podem ser escassos.
Além disso, a terapia online proporciona maior flexibilidade e conveniência. Homens trans gestantes muitas vezes enfrentam demandas de tempo e responsabilidades adicionais relacionadas à gestação, como consultas médicas preparativos para a chegada do bebê. A terapia online permite que eles possam realizar suas sessões terapêuticas no conforto de suas próprias casas, evitando deslocamentos e economizando tempo.
Lembrando que cabe ao indivíduo avaliar suas necessidades e preferências pessoais para tomar a decisão mais adequada em relação à modalidade terapêutica.
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