A obesidade, de forma simples, pode ser definida quando o índice de massa corporal (IMC) do indivíduo é de 30 ou mais. O sintoma principal é o excesso de gordura corporal, o que aumenta o risco de problemas de saúde graves. Pode ser considerada uma doença crônica resultante da interação entre genótipo e ambiente.
O tratamento da obesidade é desafiante pela inexistência de métodos eficazes em médio e longo prazo. Por ser desafiante, a situação proporcionou o surgimento da intervenção via cirurgia – conhecida como bariátrica ou redução de estomago – sua proposta é a perda e manutenção de peso por longo prazo. Para realizar a cirurgia, a avaliação psicológica, além de obrigatória, é de fundamental importância para um pós-operatório de sucesso.
Nem todo obeso é um candidato certo para uma cirurgia. O tratamento cirúrgico é indicado para aqueles pacientes classificados com obesidade mórbida (IMC > 35 kg/m²) que tenham comorbidades ou aqueles com IMC > 40 kg/m², independentemente da existência ou não de comorbidades.
Algumas comorbidades psicológicas acompanham a obesidade mórbida, entre elas podemos citar os
- Transtornos de humor,
- Estados depressivos,
- Fobia social,
- Transtornos alimentares,
- Alcoolismo,
- Toxicomanias,
- Esquizofrenia,
- Depressão,
- Transtorno bipolar.
A obesidade é um problema psicológico?
A obesidade é uma doença que vem acompanhada de uma série de complicações de saúde. É comum que o paciente apresente pressão arterial alta, dores cervicais, fadiga ou ronco.
Os fatores que levam ao desenvolvimento não estão totalmente explicados, mas envolvem questões genéticas, fisiológicas, metabólicas, psicológicas, comportamentais, sociais e culturais. Está associada a inúmeras comorbidades que acometem os mais diversos sistemas orgânicos. A compreensão de como os estados de humor afetam ou são afetados pela obesidade é algo importante e alvo do acompanhamento psicológico.
As pessoas com diagnóstico de transtorno da compulsão alimentar podem fazer a cirurgia bariátrica?
O Transtorno da Compulsão Alimentar
O paciente com compulsão alimentar confunde sensação de fome com sentimentos e emoções. Utiliza o alimento como um mecanismo de defesa, supervalorizando-o e recorrendo a ele a fim de evitar sentimentos de solidão, fracasso e abandono. Busca a comida como forma de aliviar um desconforto que é de ordem emocional e não orgânica. Na maioria das vezes, as pessoas não sabem que estão agindo desta forma; e precisam de um especialista para ajudá-las a entender seu comportamento e posteriormente ajudá-las a modificar esse comportamento.
O diagnóstico de Transtorno da Compulsão Alimentar não impede a realização da cirurgia bariátrica, mas dificulta a adaptação alimentar pós-cirúrgica. Isso acontece porque a cirurgia reduz apenas a sensação física de fome, e o desencadeamento do episódio compulsivo, na maioria das vezes, não está relacionada à sensação física da fome e sim a outros fatores como ansiedade, depressão.
Características de alguns transtornos compulsivos alimentares vistos em pacientes obesos graves:
- Comer até sentir-se excessivamente cheio;
- Ingerir quantidades anormalmente grandes de comida sem fome;
- Comer sozinho, por embaraço pela quantidade de comida;
- Sentir repulsa por si mesmo, depressão ou culpa após a compulsão.
- Acentuada angústia pela compulsão alimentar.
- Não se utiliza de métodos compensatórios inadequados.
Qual o papel do psicólogo?
A cirurgia exige do paciente modificações alimentares, psicológicas, comportamentais e de estilo de vida, tanto nos momentos pré quanto pós cirúrgicos. Passar pelo psicólogo no pré-operatório é tão importante quanto passar por outras especialidades, pois cada uma delas é parte imprescindível da avaliação e preparo global exigidos pelo tratamento.
O psicólogo tem como função avaliar a capacidade do paciente de mudar atitudes e hábitos; investigar como ele reage a frustrações, desequilíbrios; esclarecer e desmistificar medos e fantasias com relação à anestesia e cirurgia; explicar que o emagrecimento não ocorre como passe de mágica e que seu comprometimento com o tratamento pós-operatório e com a equipe é fundamental.
O papel da família
A família possui um papel muito importante durante todo o tratamento. Assim, recomenda-se aos familiares que mais influenciam o processo do paciente, que estes também possam receber atendimento psicológico. Na assistência psicológica oferecida a pacientes e familiares, o psicólogo avalia e trabalha a estrutura e o funcionamento da família, o apoio prestado pelos familiares, a satisfação do paciente com esse apoio, as informações e expectativas dos familiares.
Pontos privilegiados, pois os familiares tanto podem sabotar a cirurgia como oferecer importante auxílio ao paciente e à equipe de saúde.
Como saber se a pessoa está apta
Após as sessões o paciente é avaliado psicologicamente. Desta maneira, é possível compreender o motivo pelo qual o indivíduo engordou, e por consequência, auxiliá-lo na tomada de decisão a respeito da operação. É importante a avaliação, pois existem contraindicações psicológicas.
Entre as contraindicações estão:
- Pacientes alcoolistas;
- Pacientes com risco de suicídio;
- Pacientes com história importante de uso de drogas;
- Pacientes psicóticos sem tratamento medicamentoso;
- Pacientes com história importante de bulimia e sem sintomas de melhora;
- Pacientes intelectualmente deficientes sem ajuda adequada da família;
- Pacientes com uma depressão severa sem controle medicamentoso.
Preciso fazer acompanhamento psicológico após a cirurgia?
O acompanhamento psicológico no pós-operatório é também parte da assistência multidisciplinar, fundamental para a promoção de saúde mental e prevenção de agravos. Assim as intervenções do psicólogo contribuem para a adaptação do paciente e de sua família ao novo estilo de vida e às mudanças no padrão alimentar, na forma corporal, na vida social, no manejo de demandas relacionadas ao emagrecimento, como autoestima, autoimagem, assertividade, e na promoção do desenvolvimento de estratégias para lidar com problemas como ansiedade e estresse relacionadas ou não ao tratamento cirúrgico.
Ao longo do acompanhamento, paciente e profissional podem ainda identificar a necessidade de outros cuidados em saúde mental como tratamento psicológico e/ou psiquiátrico. O acompanhamento psicológico oferece ao paciente, condições e suporte para que a percepção a respeito das mudanças que ocorrerá, seja mais consciente, auxiliando-o em suas decisões de acordo com seu caso particular.
A avaliação psicológica também é considerada como oportunidade única de realizar a psicoeducação do paciente sobre as mudanças implicadas na cirurgia bariátrica, oferecer apoio psicológico e preparar o candidato para as mudanças comportamentais exigidas na fase pós-operatória.
Faça o possível para continuar o acompanhamento psicológico e, então, ter um auxílio adequado para conseguir manter sua saúde psíquica e ter melhores resultados na sua luta contra a obesidade.
Patrícia Lanne
CRP: 04/47444
Psicóloga Clínica
Pós-graduanda em Transtornos Alimentares, Obesidade e Cirurgia Bariátrica
@psicologapatricialanne
- A importância do psicólogo para o paciente bariátrico - 29 de maio de 2020